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Benfica-1-Belenenses-0

35.021 + eu fomos à Catedral do futebol, qual peregrinação vespertina, para alimento duma alma desprovida de fé, para regozijo dos mais inauditos sentimentos que sustentam o corpo. A ansiedade fervilha, mesmo que seja só mais um jogo, que não haja muito a resolver, uma vitória serviria para combater os muitos "velhos do restelo" que teimam em duvidar do sucesso, os "profetas da desgraça" que persistem na crítica fácil, todos com uma alma diminuta para quem nada vale a pena, incrédulos para sonhar…

O majestoso cenário estava engalanado, um clássico prestes a começar, revivalismo para alguns, ritual frenético e intenso de emoções para os mais novatos… em plena luz do dia, apesar duma tarde de inverno, o sol ainda brilhou, o olhar maravilhado pelo esplendor do voo real, o calor da paixão ainda se fez ecoar por todo o estádio, o êxtase do grito de golo incendiou a multidão, gerando uma força de amor que se mistura na corrente sanguínea e se vai alojar no coração.

Por todos os motivos, era importante ganhar, porque ficávamos como melhor primeiro, porque ficávamos com alguma supremacia moral sobre o adversário, que voltamos a reencontrar no jogo seguinte, finalmente porque reforçávamos o ânimo e a crença, qual bola de neve, onde os jogadores vão girando e deslizando pelo manto branco das vitórias, dimensionando e moldando a nossa ambição…

Quem se habitua a ver pela televisão, e assiste esporádicamente ao vivo, tem alguma dificuldade em fazer uma análise ao jogo, até em termos comparativos, claro que se fica com uma panorâmica mais abrangente, sobre todas as perspectivas, com uma noção mais real e aproximada do que se passa no terreno de jogo e não só. Percebe-se melhor a disposição dos jogadores, os aspectos tácticos, em detrimento da observação pormenorizada de cada jogada, do suspense que o écran devolve quando a bola se aproxima da área… não sei bem explicar...

No local, a vibração e a exposição são maiores, fica-nos a ideia que afinal, a moral e a onda de confiança que existam em redor são muitas vezes determinantes para a equipa superar as insuficiências técnicas e a pequenez humana de cada jogador, que todos somos precisos para levar de vencida uma partida, naquele imponente palco, perante aquela arrebatadora e química interacção.

Quanto ao jogo, este foi disputado a um ritmo lento, paradoxalmente na fase em que criámos um maior ascendente e delineámos jogadas mais vistosas e articuladas, com o Martins, Aimar e Reys a (querer) servir o Suazo, foi quando o Beleneses se abeirou da nossa baliza com mais perigo. O Amorim e Katso funcionaram como os pêndulos da equipa, com o Yebda a ter mais preponderância na recuperação da bola… e no cômputo geral fizémos uma exibição segura, o Luisão nas bolas divididas e não só é o grande patrão da defesa. Falta ao David Luiz e ao Di Maria mais descernimento e eficácia porque empenho e alguma qualidade não se lhes pode negar… O Miguel e o Maxi jogam sempre pelo seguro, quase nunca comprometem... o Moreto, se calhar derivado ao pouco trabalho, não esteve perfeitamente concentrado...

Enfim, parece uma repetição, não foi uma exibição soberba, condizente com o resultado alcançado ou com a nossa contínua insatisfação, mas o Belenenses também não mostrou muitos argumentos, apenas algum futebol rendilhado no meio, com o Silas a dar o mote...

Pelo sim, pelo não é melhor que o Benfica, para a semana, vá a Belém com a convicta e aplicada decisão de levar de vencida mais uma partida, iniciando a 2ª volta na frente da corrida… dar mais um passo para uma importante conquista, para não deixar esmorecer esta imensa paixão...