Rio Ave 1:2 Benfica
... que eu cantei e me deixou aqui, passaste como um rio, e eu não sei passar sem ti...!
O tempo invernoso amainou, foi soltando amarras, apenas algumas névoas de atalaia, foram permitindo a libertação de raios doirados e quentes do sol... o frio, atento ao hostil aparecimento, riposta logo com desembaraço, aliando-se com as sombras, deambulando pelas gélidas vielas que se vão rendendo à chegada da noite...
Na cíclica cadência da estação, vamos imprimindo ritmo às rotineiras acções, o dia vai alargando o horizonte de luz e esperança, apesar do longínquo furor das festas, dos relatos mais desafortunados que vão chegando do outro lado do atlântico, vamos percorrendo na mansidão das pequenas contrariedades, convivendo com o quotidiando, cada vez mais influenciados pela comunicação social, empurrados por um turbilhão de emoções…
Foi assim, que passou mais um fim de semana; mais uma volta por entre o verde prado, meio alaranjado por debaixo do estático arboredo do parque; vamos tentando apurar o físico e a mente, erguendo o olhar pelo altaneiro Cristo-Rei, seguindo o voo das gaivotas e do pensamento … Mais uma volta pelo complexo da luz, onde o Basquete e o Volei deram boa conta de si (e onde o Hoquei haveria de golear), e o regresso pelo lusco-fusco ao convívio familiar, em mais uma travessia para além tejo, no largo passar do rio, em busca de um perfeito e efémero bem estar… e a noite de sábado, ainda teve direito a uma carga de água, audível e feroz, para baixar a fervura daquele serão...
O Domingo, mesmo que não aparecesse com a disposição suficiente para abafar o incidente, foi sabendo negociar umas poucas mas reconfortantes horas de luz... nós, tal como o caracol, fomos passear para fora da caparaça, demos uma volta, pequena e assaloiada pela baia, parámos no jardim, para os catraios porem os "corninhos de fora", confiados no acolchoado relvado e retornámos felizes para dentro da casca, rebolando para o couval...
O resto da tarde, os écrans foram-no absorvendo toda a atenção, fosse em tarefas mais uteis, é preciso contabilizar as despesas do ano passado, seja em tempo lúdico, perante a panfernália de videojogos, seja a assistir a um filme ou ao jogo dos nossos patrícios angolanos, que na CAF, nos foram fazendo vibrar com entusiasmo, tão só pela identidade comum mas também pela excelente prestação…
O desgosto sentir pelo resultado dos "palancas negros", por todo aquele ambiente em redor, apressou o regresso da noite, e quase na hora de entrar em estágio para o grande jogo, ainda foi preciso regressar à rua, para visitar e dar atenção à geração mais avançada...
Sem dar por isso, o jogo estava prestes a começar, a azáfama era relativa, só mesmo pela importância do jogo, pois que não era preciso sintonizar a Web, nem disputar o melhor lugar na sala, deste modo abria caminho para distrair os restantes elementos da casa, isolando-me noutra divisão, com a tv a transmitir só para mim, alimentando o meu ardor e sofreguidão...
A equipa do Benfica apresentou-se na sua máxima força, mesmo com a baliza entregue ao Moreira e o contributo do Carlos no meio campo, todos os jogadores titulares tinham a tarimba e o distintivo de qualidade. A expectativa era saber se iriamos ter um jogo descansado, monopolizador, sabendo que o empate poderia não chegar. Mas o Rio-Ave, jogava com essa possibilidade e defendia-se o melhor que sabia, ocupando o seu reduto, contrariando, como podia, o futebol do Benfica e a sua natural superioridade...
O Cardozo procurava um golo naquele campo mas, ainda não haveria de ser desta, apesar das oportunidades, ainda na primeira parte, fez as duas assistências para os golos encarnados, redimindo-se dos pontapés menos certeiros ou finalizações mais atabalhoadas. O Martins, estava danado para marcar, com os primeiros projecteis a embaterem em barreiras humanas, haveria de atingir o alvo, na segunda parte, com um tiro seco e bem direccionado (mas é preciso que não esteja tão sobressaltado).
O Aimar não teve nem o espaço nem a inspiração que é costume, tal como o Saviola, que não soube contrariar da melhor forma a defesa, eles também já estariam mais que avisados, mas sobrou-lhes em demasia o Di Maria pela frente, esgravulha e endiabrado, fazendo o gosto ao pé num lance rápido e cheio de objectividade. Não é muito costume o Di Maria ser tão poupado nas munições, mas o remate foi indefensável.
O Ramires que tem corrido maratonas, ainda foi chamado para fazer uma prova de meio fundo, consolidar o apuramento; o Kardec estreou-se com boa pontaria e convicção, apenas precisa de calibrar mais um pouco a sua qualidade, afinar a mira...
O Bruno ainda quis estragar a festa, apontando o penalti, após o lance duvidoso do David (mesmo que se aceite, também houve um lance de mão, apesar de não ter o mesmo aparato). Claro que com a sua impetuosidade, é como a história da bilha vai à fonte (acabou por impecilhar na subjectividade da opinião de um árbitro de Braga), mas ainda bem que o Benfica teve o engenho e a sobriedade para repor o marcador, infringindo mais uma derrota a este arrumado e defensivo Rio Ave, seguindo em frente na conquista deste importante Troféu.
O Guimarães eliminou o Benfica, da tradicional Taça, o Rio Ave pô-los borda-fora, na ronda que se seguiu, e o Benfica afastou os dois desta competição. Mesmo que tenhamos que jogar fora na fase final que se segue, o Estádio da Luz está de repouso, depois de termos começado o ano, dia 3 com a vitória sobre o Nacional, vamos regressar à Catedral no próximo fim de semana, dia 30 de Janeiro para jogar a próxima jornada com o Vitória de Guimarães.
Não fosse o jogo de amanhã, contra a pobreza, onde vão pisar o relvado, antigas vedetas, craques que tratam a bola e pisam a relva como ninguém, tudo não vai passar de uma partida com um bom "feeling" e louváveis propósitos..., para lá da boa execução e do bom futebol, o estádio da Luz, no mês de Janeiro esteve praticamente em pousio e já temos saudades das noites gloriosas, de alegria e bom futebol…
O Luisão é a voz de comando, de uma armada empenhada e moralizada, que vai tentar alcançar a terra prometida, com muito arrojo, sacrifício, a sorte e a ventura de Jesus, pois só para além da dor é que se atinge o fulgor e as bençãos de Deus...
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