terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

4 bolas de berlim, com creme!



Benfica 4:0 Hertha Berlim

O temporal continua neste cantinho mais ocidental da Europa, estendendo-se para lá do horizonte Atlântico, na ilha da Madeira, onde choram ainda as débeis vidas destruídas pelo repentino abatimento das ravinas às mãos da cruel intempérie; na pátria plantada à beira-mar, rasgos de água trespassam o território numa corrente transbordante, inundando as franjas do Ribatejo, ameaçando as vilas ribeirinhas e os que dependem ou se abeiram da fúria do mar.

O mesmo tempo que se despediu da brincadeira, ensombrou o cortejo carnavalesco e dissipou o Entrudo pelo meio da trovoada, haveria de nos convidar para um período de retiro no deserto, anunciando a Quaresma, apelando a íntimas contemplações e exames de consciência, favorecendo o crescimento espiritual e as obras de caridade...

Uma semana depois, a chuva continuou na praça, intercalando tímidos lampejos de estio e salpicos de ânimo com súbitos e corrosivos assombros de tempestade infringindo o recolhimento caseiro...
Era dia de jogo europeu, no precipitado lusco-fusco da tarde. Apesar de tudo os chuviscos foram escassos desde o retemperado amanhecer, a luz solar foi lutando desamparada no denso mar nuvens flagelado pela irreverência do vento, mas a moral era alta, mesmo que lá no fundo, no lado mais lunar, reinasse algum anseio pela imprevisibilidade do resultado, pela impossibilidade de poder assistir pela televisão...

A rotina vai encurtando o horizonte, mas o brilho que resulta das mais inesperadas e simples imagens do quotidiano vai combatendo o travo no olhar, vai moldando a nossa identidade. Nesta tentativa de conciliar o sagrado com o terreno, vou recebendo um alento suplementar em cada dia que joga o Benfica, confiando no desfecho de cada batalha, no feito e na glória que um dia, novamente, pudemos vir a alcançar!

À hora do jogo, a nebulosidade acentuava-se, e eu, sem possibilidades de o poder visualizar, apenas pude gastar alguma adrenalina, abrindo uma pequena e indiscreta janela no computador, com vista sobre o palco da luz; mas a transmissão emperrava na lentidão e escondia-se atrás doutras janelas maiores, com tarefas para cumprir, restava o som do rádio, longínquo e frenético, que avançava certinho, ao o ritmo das emoções…, até que, numa curta pausa vespertina, entoou o relato delirante do golo do Aimar...

Após o intervalo, a vantagem mínima havia de disparar, fazendo lembrar a reentrada fulminante do Benfica no jogo com o Everton, ouvida nas mesmas circunstâncias, de tal modo a euforia do anúncio do quarto golo contratava já com uma acalmia geral.

Depois do término da partida, com a proximidade da hora de regresso a casa, aguçava o apetite para ver o resumo, os vários ângulos e repetições dos golos, antes porém, ainda fui espreitar o diário do jogo, no Site do Benfica, onde pude constatar que o Nuno teve a oportunidade de jogar o seu 80º jogo internacional (o papá merece a distinção) e que tinhamos obtido a 150ª vitória em provas europeias, atingindo o top 10 da classificação...

Associado à festa, testemunhada por 30.000 pessoas, decorreu o acto solene de entrega do prestigiado galardão de mérito da UEFA, pelas mãos do Platini, ao fenomenal Eusébio, uma lenda viva do nosso orgulho e de toda a nação.

Numa viagem supersónica, transportado pela viatura familiar, rápido chegámos à estação espacial perdida no meio da tranquilidade, fazendo a descompressão, viajando numa orbita de paz e afecto, descansando o coração. O mais novo deu conta que já tinha aprendido a letra G - “de Glorioso, adiantei eu”, e os t.p.c foram de rápida execução, pois a Tv estava livre para a FIFA, imediatamente antes de soarem os badalos da retirada e ouvirem uma história de embalar, de mil e uma noites encantadas, num sonho terno e repleto de aspiração!

Já eu, antes de me render ao sono e à ternura do momento, ainda assisti ao debate desportivo na televisão, aliciado até pela presença do irudito orador Marcelo, mas ao invés do debate ter mantido a elevação, a despropositada verborreia clubística e exacerbada fobia pelo encarnado, puseram a nu o sereno comportamento do adepto portista, aliado da habitual quezília sportinguista, num escarcéu pegado...

O tema forte: o "justiceiro" presidente da CD - Dr. Ricardo Costa (o cognome fica-lhe bem) - mas afinal quais sãos os argumentos azuis: - o castigo demoroooooou?! - mas o senhor da cor verde fez o favor de provar, rigorosamente, o contrário! - Se a regulamentação deveria ter sido avaliada com vista à aplicação doutra moldura penal?! - mas afinal a agressão a um segurança não é igual à pancada dada a um, incontroverso, agente desportivo. - Deveriam ser quatro jogos em vez de quatro meses?! - mas o Porto até está a jogar melhor sem o super-heroi!
A "visivel" punição interna e o pedido de desculpas público pelo acto irreflectido dos jogadores não teriam ficado melhor do que a presunçosa revolta, a aparição acicatada do plantel numa conferência que mais fazia lembrar os destroçados e beligerantes grupos árabes - a exemplo do que já aconteceu, em tempos, com os super dragões!
Mas o FCP precisa disto, de acicatar os ânimos, injectar ódio nos jogadores, a revolta na multidão, gerar manifestações por coisa nenhuma, cerrar fileiras por uma causa inaudita, tornar o Porto, o centro da nação, afinal eles são uma nação (ou os filhos da nação, nem sei!)

Bem, para terminar a falar do futebol jogado dentro das 4 linhas, onde até aqui fomos os mais fortes sem qualquer contestação, no Sábado, subimos ao norte, para defrontar a conceituada equipa de Matosinhos, defender a liderança com Leixões. O Javi vai estar ausente, deve regressar o combativo Ramires, mas esperamos que os abnegados guerreiros que forem destacados para a Batalha, nos dêem a alegria de mais uma vitória, em noite de aniversário (já lá vão muitos anos, ainda os Reis governavam a pátria) para regozijo da massa adepta para reconquistar, com brio e glória, o ceptro de campeão!

Parabéns Benfica, força de campeão!

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