domingo, 2 de maio de 2010

Não soubemos treinar o dragão!





Porto 3:1 Benfica

A semana avançou já livre da ditadura da chuva, deixando o Abril para trás. Depois da fulgurante exposição solar, à medida que nos aproximávamos do virar da folha do calendário, a temperatura fui perdendo alguma intensidade. A meio, comemorei a vida do meu pai, já na debilidade do ocaso, retomando a labuta diária na calha doutra festividade…

O 1º de Maio acordou com tímidos chuviscos, borrifando o recinto da festa, seguiram-se mesmo alguns aguaceiros que pareciam dispostos a afastar os menos convictos trabalhadores que iriam participar na gande parada, mas as nuvens já não eram suficientemente unidas para consomar tal desfeita…

Por imperativo da tradição da Maia, celebrava-se na cidade, ao som da fanfarra, na rua engalanada, o cortejo popular devoto fiel daquela Imagem, raízes ancestrais delegadas pela comunidade. Assim, obrigado a começar cedo a jornada, enfrentámos o cinzento alvorecer. Depois de lavada a viatura, vim pedalar para o interior da habitação, na altura que se ouvia ainda o fustigar da chuva nas perseanas.

Mas a luz do Maio interventivo, do calor das trovoadas, da luta operária, haveria de permitir o ajuntamento da multidão na capital, das manifestações saudosistas dos sindicatos mas, na mesma, pertinentes, face às crescentes negligências patronais. Nós, aproveitamos para seguir ainda mais para a periferia, passeio saloio até ao campo, para visitar parentes, no seu reduto de fim de semana...

As nuvens dispersas e errantes interrompiam clareiras de luz, uma quentura que alegrava o convívio familiar: as crianças jogavam à bola, os adultos tagarelavam... no final todos tiveram direito a uma volta de moto4, mesmo que o circuito mais longo, pelo terreno adequado, fosse apenas para os mais audazes...

À noite aceitei o desafio para ir jogar futebol de 7, num campo de relva sintético, revivendo tempo aúreos em que praticava com gosto e mais afinco este desporto rei. Mas, como se já não bastasse a inadequação ao piso, a ferrugem acumulada nas articulações, depressa tornaram o embate prometedor e entusiastico, num cansado e pouco produtivo desempenho. A equipa que apostou nos meus préstimos, também tinha descurado o apetrechamento doutros sectores e fomos presa fácil para os mais rodados jogadores da equipa adversária. Foi com o arrefecimento nocturno que regressei ao lar, satisfeito com a experiência, mesmo que na bagagem trouxesse o avolumado desnível no resultado e desgaste muscular.

O Domingo voltou a começar cedo, depois duma visita ao hipermercado, para compras materiais e alimentícias, para governo do corpo, fomos ao encontro da palavra de Deus, qual alimento espiritual. A escuta da leitura sagrada, a doutrina aplicada à vida real, onde tantas vezes é dificil demonstrar o nosso amor pelo próximo, mesmo com os mais chegados, quando não ouvimos, não perdoamos ou não temos tempo para partilhar a nossa humanidade.

Foi nesse pressuposto: ninguém consegue ser feliz sozinho, sem interagir e comunicar com os outros, que provocamos e acedemos a outra reunião familiar. Uma refeição maternal, com direito a troca de presentes e afectos, comemorando com muito sentimento o dia da Mãe.

Com a tarde encalorada, apesar de soprar uma ligeira brisa, fomos ao Basquetebol... depois da vitória no 1º jogo antevia-se o avanço da diferença encarnada, perante um advesário digno mas incapaz de evitar uma derrota por expressivos 101-78.

Depois do espectáculo, enquanto nos afastávamos, de regresso a casa, estava prestes a começar, no Pavilhão ao lado, com uma afluência mais significativa, a 4ª final de Voleibol. O Benfica estava bem posicionado para festejar a vitória do Campeonato, só que o Espinho não facilitou, depois de 2 setes renhidos, acabaram por levar de vencida a partida, adiando para o último encontro o apuramento do vencedor.

O entardecer foi caseiro, esperando com toda a expetativa o jogo do Dragão, uma ansiedade que não dava mostras de desaparecer, mas também não possuia em demasia a racionalidade. Eu sabia que tudo podia acontecer, que era imprevisível o triplo desfecho final, ainda que só um não nos favorecesse.
Ao contrário, os incidentes na chegada do Autocarro, na ida para o Estádio, já não constituiam qualquer surpresa perante o ambiente de rivalidade gerado, em tantos anos de agitação de massas, tantas bandeiras levantadas sem piedade, tantas lutas pelo poder no futebol...
Claro que, aparte todos os desacatos e tensões sociais, os jogadores dentro do campo, também queriam dar tudo por tudo para não serem os bombos da festa, feridos no orgulho por tanto ouvirem elogiar o Benfica, e com tanta dificuldade para o terem aceitado...

Eu sabia que, estes duelos são sempre aguerridos, com uma atmosfera escaldante, que inflama ainda mais quando vê o encarnado e vencem o eterno opositor. Mas quem manifesta tanto complexo quando enfrenta o Benfica é inevitável que resvale em tanta emotividade, querem logo ganhar fora do campo, com escaramuças, arremesso de objectos, uma histeria geral.
Até os dirigentes vibram euforicamente quando marcam um golo. O nosso Rui Costa também apareceu bastante emotivo, mas é a ansiedade natural de querer ganhar o tão desejado campeonato...

Mas afinal, depois de tanta euforia pela esforçada vitória, a única coisa que ficou certa foi o afastamento da Liga dos campeões da Europa. Ah, mas foi a vitória sobre o rival, à mesma arranjando desculpas, numa postura de vítimização. O Árbitro no computo esteve bem, eram esses os seus únicos propósitos, com tantas credencias e crenças para o futuro... Quis segurar o jogo, amarelando o Di Maria e o Fucile, tudo bem, mas depois sobrecarregou de amarelos os jogadores do Benfica, num critério muito apertado. Claro que a expulsão do Fucile equilbrou a contenda, mas sem querer desculpar-me com a arbitragem, no lance do 2º golo, também existe uma simulação do Belushi que cai à entrada da área. Mas, com aquela fervura, a partida não foi fácil de segurar.

O Porto estava a jogar com muita intensidade, e depois do contenamento do empate, nunca poderiamos cometer aquele pecado mortal, não tivemos tempo para respirar - como disse o Luisão, com mais um elemento, era a altura para segurar o jogo, incutir confiança e serenidade, mas o Farias, o patinho feio, que nem se viu no resto do jogo, fez jus ao seu instito atacante, aproveitando a permissividade defensiva.

Depois, com a entrada do Aimar, soubemos ter mais a bola, jogar mais acutilantes no ataque mas nunca tivemos verdadeiras ocasiões, tirando o lance do weldon, num fora-de jogo mal assinalado. O Cardozo não se percebe como é que joga o tempo inteiro, com tão pouca produtividade, o Kardec já mostrou que tem capacidade para fazer o seu lugar; o Saviola ainda não adquiriu o elevado ritmo que foi preciso para imprimir neste jogo. O Javi teve uma exibição apagada, o Fábio e o Di Maria estiveram mais ao seu nível, o Maxi correu e tentou, o Ramires marcou presença, mesmo no centro deu boa conta de si; o Carlos tentou pautar o jogo, povoar o meio campo, mas também não teve muito inspirado. Colectivamente não fizemos um jogo empolgante, mérito do Porto que soube fechar, defender e correr atrás do resultado, galvanizados pelos seus revoltados adeptos...
O Benfica também não teve a sorte do jogo, sofreu perto do intervalo, não teve tempo para saborerar o empate e para ficar por cima, desbravando o caminho para os seus objectivos.

Claro que se em Braga houvesse um empate, acabaríamos por festejar na mesma, mas o estádio local apinhado de gente, num último jogo à "borlix", aplaudia a equipa levando-os ao rubro por mais uma vitória.
Depois, confesso que também estava hesitante, caso tivesse que dar aso à alegria e exuberância pelo festejo do título; o relógio, por cima do televisor, já tinha dado as 10 badaladas, metade dos elementos da casa, já tinham o pijama vestido, nas vésperas de mais um dia de escola, com apertados horários para cumprir, as mínimas horas de sono aconselhadas, desaconselhavam a sair para a rua, como fundo dum tão inoportuno cenário.

Claro que a vitória no Dragão era importante neste esgrimir de competitividade, nesta luta incessante pela máxima superioridade, até para castigo de alguns adeptos portistas, excêntricos e acérrimos bairristas, levados pelo ditame de um vitalicio regionalista, com visões curtas, que lança combustível na multidão para construir um império sobre as cinzas...

O Jesualdo, bem falante professor, depois da amnistia, voltou à carga, para ver se terminava mesmo fora do campo, quem sabe mais próximo da porta de saida. Foi segredar ao Auxiliar que "não os tinham no sítio", porque afinal, não tinham marcado o penalti sobre o Maxi, tinham amarelado os três jogadores do Benfica e, cúmulo "da falta de audácia", expulsado um jogador da casa. Mas, esqueceu-se da irreverência dos seus pupilos enraivecidos, do toque do Meireles no calcanhar do Luisão (sem a sanção já habitual). Afinal o Jesualdo é um ansião, com um ego enorme, tamanho familiar, já deu três seguidas e está prestes a começar uma carreira fulminante. Boa sorte professor(pela lavagem cerebral)...

O que mais me dana, não é festejar já, já vai longa a minha exposição, e amanhã está já ali à espreita, tenho que me ir deitar, é apenas a soberba portista, complexos que não sabem disfarçar, em especial contra o Benfica, por não se renderem às evidências, não saberem perder, aceitar que o Benfica este ano foi melhor, com toda a legitimidade, merece ser campeão...

Claro que para a semana, com a Luz a extravasar de encarnado, num espectáculo empolgante, a equipa vai demonstrar todo o seu querer, a sua vontade inaudita para ganhar este troféu. Com o apoio frenético dos adeptos, o barril de polvora pronto a implodir o país, com foguetes e champanhe, um simples grito de guerra ou buzinar, mesmo que o futebol não seja uma ciência exacta, mesmo que tenhamos três jogadores de fora, temos equipa para ganhar, acabar de vez com tanta ansiedade, finalmente, poder cantar vitória com toda a euforia…

Força Benfica! Falta um só jogo para alcançar a glória terrena, o auge da felicidade suprema, mesmo que seja só um momento de efémera ilusão!

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