Sporting 1:0 Benfica
Depois da brilhante prestação em stamford bridge, voltámos ao bairro de Benfica, de alma cheia para o fado...
Os jogadores foram aclamados, madrugada fora, pela entrega e lealdade em terras de sua majestade, e o sonho, desfalecido, deu mais sentido ao tríduo pascal..
E foi um tempo que amanheceu farrusco, mesmo que rasgos azuis deixassem o sol cumprimentar os mais necessitados... Levando à meditação, nas pequenas ermidas dos lugarejos do interior, e os aguaceiros ajudaram à introspeção, antes da Páscoa dourada e vital...
5ª-feira à noite fui ao futebol, com o filho mais velho, a chuvinha apareceu no caminho, assistiu ao jogo, dificultando o esforço, e persistiu, já o Cristo Rei apagado nos lembrava a sua entrega, depois da ultima comunhão e ato de humildade aos seus discípulos...
6ª-feira afastei-me da rua, e o dia passou veloz na etapa da agonia, mesmo que seja difícil impor os mesmos costumes e sacrifícios aos miúdos, treinados para os doces e para a diversão...
Na televisão vimos o nordeste branco, granizo na capital, o frio aproximou-nos do serão, o telefone uniu-nos à família da província...
Sábado santo, amanheceu, mais convicto da superação, o sol deu mais alento, saímos para um assaloiado passeio e retornamos à introspeção e lazer familiar.
No entardecer fomos ao basquete, ver o Benfica chegar aos cento de pontos, com cestos, jogadas e atletas de todos os estilos, contra a Lusitânia...
O serão era santo e de vigília, antes da aclamação da ressurreição, entretidos com filmes religiosos e consolas, até que o alvor celestial cobriu a terra inteira com a boa nova Pascal...
O sol trouxe outro clarão, ouvia-se mais nítida a primavera. Seguiu-se o banquete pascal, junto dos familiares, a bênçãos aos afilhados, debaixo da brisa dos pinheiros, celebrando com cabrito, amena conversa familiar...
O Domingo era de alegria, mesmo que o tóxico nos consumisse com o preço da festa, a troco da dádiva aos outros, na presença do Senhor...
E a Páscoa foi dando passagem à acostumada vida de Abril, florindo os dias, verdejando a natureza e a 2ª-feira apareceu derrompante para nos habituarmos a mais uma semana...
Para os gaiatos era o dia zero, os pais encaravam logo o trabalho puro e duro, mas havia o dérbi de Lisboa para desanuviar... A honra versus o título, já que o Porto tinha dado um safanão, com a camisola amarela e tínhamos que ir no seu encalce para não deixar a fuga ter o sucesso esperado...
E à hora marcada, depois do jantar aligeirado, ida apressada para a frente do televisor, o dérbi no palco inflamado de Alvalade estava mesmo a começar. Voltavam os dois centrais conceituados, jogava o Rodrigo na frente com o Cardozo, os restantes elementos dispostos nas suas posições habituais…
O Benfica começou afoito, como equipa mais forte e moralizada, o Sporting todavia não se desmoronava na retaguarda, coesos e solidários, como tem sido apanágio do Sá, fazendo da força coletiva a sua grande arma… e o Benfica, com o decorrer do tempo, foi-se deixando envolver pela teia leonina, muito recuada e a impor um ritmo mais morno na partida…
O Benfica tentava pelas alas chegar à area, mas o Sporting estava sempre disciplinado e atento nas manobras defensivas, o Javi ainda rematou numa posição frontal, mas de resto o Benfica não criava grandes oportunidades, não só pelo preenchimento do espaço do adversário como da sua inércia e falta de velocidade…
O Rodrigo tentava vir buscar a bola atrás mas esbarrava na muralha defensiva, nas bolas pelo ar era o Xandão e companhia que controlava, e o Sporting foi aproveitando para ir saindo timidamente para o ataque, o Ínsua com uma disponibilidade enorme, o Matias e o Ismailov com uma técnica veloz acima da média, o Wolfswinkel ágil no meio dos centrais que vinham de lesões e o Javi, estoirado sem pernas para ajudar…
Logo num dos primeiros lances o Polga rasteira o Gaitan, na dúvida se é dentro da área, ou porque era demasiado cedo, o árbitro acobardou-se e marcou canto, mas num lance de contra-ataque, depois dum pico do Wolfswinkel, o Luisão, ainda meio preso de movimentos fica para trás, dá-lhe um toque com o mão no pescoço e este, franzino, deixa-se cair para trás, com o arbitro a não hesitar marcar a penalidade…
Para nos marcarem um penalti andamos a penar há tantos jogos, e num lance duvidoso, o árbitro é perentório e castiga-nos com o máxima das sanções. Claro que perante a oferta, o Sporting adiantava-se no marcador e deixa loucos os seus adeptos…
E a equipa da casa ganhou um tónico suplementar, o Benfica tentava virar o rumo dos acontecimentos, com o Witsel a tentar levar a bola para a frente, mas notava-se falta da agilidade e segurança, do Aimar junto da área, o Cardozo, mais uma vez andava perdido, entre os defesas, que se fechavam a sete chaves e espreitavam o contra-ataque…
Nem parecia que jogavam em casa, a posse de bola atingiu os 65-35 para o Benfica, mas na verdade era o Benfica que tinha que ganhar, para os da casa apenas estava em jogo a rivalidade, para nós era a conquista um título… Mas o árbitro, como quase todos, só com cartões amarelos é que se afirmam, sobrecarregando os jogadores do Benfica, o Witsel, o Luisão, que noutro lance dividido, igual a tantos outros, do João, por exemplo, vê o segundo e a consequente expulsão…
Claro que o Sporting teve o ensejo para ampliar o marcador, por várias ocasiões foi o grande Artur que nos salvou duma goleada, a trave, nós não tivemos situações flagrantes, o Cardozo, estático, não pode servir para todo o tipo de jogos, nestes que é preciso mais mobilidade, não pode ser solução, pois se as bolas não lhe chegam, ou se numa jogada, ainda na primeira parte, isolado, não sabe cabecear!
O Yannick na segunda parte também não sei se foi boa opção, se em Londres tinha dado nas vistas, a condição física ainda não está apurada para estes embates, era preferível ter posto o Gaitan no meio, o Witsel, na fase em que saiu o Javi, foi um mouro de trabalho, inesgotável a tentar parar a avalanche, o Emerson voltou aos medos e indecisões…
Claro que foi um jogo possante, duro, muito tático e físico, onde resultou a estratégia e a motivação do Sporting, que montou um colete de forças e foi amolecendo o Benfica que não soube desenvencilhar-se desta cilada, não acordou para a realidade de ter que vencer, não conseguiu demonstrar dentro de campo a sua superioridade…
O Jesus tem que saber armar a sua equipa para jogar com esquemas ultra defensivos, não é só atacar que conta, saber arriscar já numa fase de desespero, se calhar é preciso deixar a outra equipa jogar, expor-se mais, e atacar com mais espaço, ou pressionar muito alto para obrigar a outra equipa a errar, não sei, alguma coisa de comum existiu nos jogos em que perdemos pontos, a postura defensiva dos adversários, e é preciso encontrar outros antídotos…
E foi com um ambiente festivo que a equipa e adeptos festejaram a vitória sobre o Benfica, como se da conquista dum troféu se tratasse, e foi com um ambiente tristonho que vemos o Porto afastar-se na frente da corrida e nós sem poder de reação…
Claro que ainda existem provas de montanha, o Benfica tem jogos mais planos, mas a moral do opositor saiu reforçada com mais esta etapa ganhadora… vamos acreditar e fazer a nossa parte, com humildade e perseverança, a começar já pela vitória da Taça da Liga, como forma de reparar o orgulho e encontrar alento para o resto da temporada…
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