sábado, 13 de fevereiro de 2010
Sábado gordo com vitória magra!
Benfica 1:0 Belenenses
Na intermitência metereologica, os medonhos aguaceiros surgiram defraudando a bandeira do Inverno, acicatados pelo frio, talvez numa derradeira demonstração de poder, impondo o seu austero regime. A semana aproximou-se do final, com aparato e circunstância, numa grande parada de gelo, impossibilitando o desfile carnavalesco da criançada que, anualmente, tinge de cor e alegria as ruas e as vidas cinzentas da melancólica cidade.
A cidade ficou deserta, perante a incursão invernosa, e a pequenada dos infantários ficou a ver a chuva a bater na vidraça. No entanto, debaixo dos telheiros das escolas, acumularam-se os disfarces, as salas estavam animadas, os entrudos a entrar e as miniférias a sair, eram pretexto para tão grande algazarra. Depois do fantasioso desfile interno, com o frio a instalar-se em definitivo, as névoas haviam de se retirar, paulatinamente, desaparecendo em definitivo pela madrugada de Sábado.
O fim de semana começou assim com um sorriso rasgado no céu intenso de azul, as ruas invadidas por um sol reluzente numa luta monumental, em tempo hostil, com a gélida atmosfera de meados de Fevereiro. Então, voei pelo ar escortejante do parque, contornei o verdejante prado, atravessei o pinhal, onde o gelo se refugiava da luz radiosa, e passei diante do lago, onde as aves se quedavam, receosas do frio; aproveitei para lhes roubar a sensação de liberdade e vaguei no vasto horizonte, pedindo ao Cristo, elevado no cimo do casario, para me ajudar a tornar ainda mais leve, mais alto e mais livre.
Depois da corrida, era chegada a hora do banquete familiar, encontro salutar dos entes mais queridos, comemorar a vida, beber o elixir da nossa estabilidade emocional. Eram um final-de-semana festivo, de gorda folia, por isso continuei com o espírito elevado, depois do voo matinal, era altura de saborear os envolventes momentos de cumplicidade, pequenos gestos de ternura e gratidão com os mais idosos, pequenas e gratificantes conversas dos mais novos e inocentes, privar com os que realmente nos animam e nos fazem acreditar que podemos continuar a voar...
Depois da reunião, o calor de estufa que se fazia sentir na viatura, aliado da necessidade de percorrer alguns itinerários, antes do regresso a casa, ajudaram a permancer com o pensamento em alta, e o corpo também agradeceu tamanha doçura e amabilidade…
Aproximava-se a hora do jogo, a previsão de grande afluência de adeptos para o derbi capital, fez-nos renunciar à natação, ficando retido no bairro, sem acesso ao canal do futebol (o retorno está marcado mais para o fim do mês), a ansiedade começou a apoderar-se da esbatida luz e da indecisão quanto ao seu visionamento. Espreitei pela pequena e famigerada janela do Computador e optei por ficar entre quatro paredes, num isolamento e compenetração sem igual, numa descida abrupta para a terra...
Para acalmar a minha apreensão, agarrei-me ao empolgamento e alegre ambiente que rodeava a partida e à determinação dos jogadores que entraram afoitos para resolver o jogo, logo com um canto nos primeiros segundos, mas o Belenenses começou também a encher o campo todo, a dar mostras de querer jogar com grande afinco e empenho...
A onda de euforia haveria de trazer frutos, depois de alguma pressão, o Ramires subiu à linha e fez um centro fulminante para a cabeça do Cardozo, que abria o marcador e fazia o seu 17º golo, uma terça parte dos golos da Equipa.
Este lance agitou ainda mais as hostes, o entusiasmo dos adeptos fez com que os jogadores retribuissem com mais jogadas vistosas, mas o Belenenses iam respondendo e chegando à nossa área, com algum à vontade e propósito, originando alguns embaraços, amealhando muitos cantos...
O Aimar não conseguia soltar-se, para pautar o ritmo de jogo, o Saviola tentava aparecer, fazer pressão e sair a jogar, desmarcando, mas os jogadores de Belem desmultiplicavam-se aplicavam-se bastante, ocupando espaços, pressionando e defendendo sem nunca perderem o sentido da baliza, utilizando a mesma tática dos encarnados.
E foi assim, com o jogo dividido, e com a imagem por vezes a parar, o que dava para ir apreciando melhor o sentido posicional e tático das equipas, aqui e acolá com uma jogada mais aparatosa do Benfica, que eu ia rezando pelo segundo golo para ficar mais descansado.
Mas o tempo ia passando, o Belenenses ia acreditando, trocando mais a bola, afinal não tinha nada a perder, em ultimo e já em desvantagem, tinha que tentar inverter o resultado, lutar pela sua dignidade.
Se o Belenenses jogasse sempre assim de certeza que não estava na cauda da classificação, mas se jogar contra o Benfica é muito motivante, também me parece que neste jogo, jogámos mais com o coração e menos com a cabeça, sem a descontração e a fluidez habitual. A rapidez, a confiança e o entrosamento pareciam que não se estavam a conciliar, ao mesmo tempo que as interrupções na transmissão me começaram novamente a importunar...
Foi a faltar vinte minutos para o final, com a exibição e a emissão, sem atar nem desatar que, resolvi descer apressado, na direcção do café, para visionar o resto do encontro, num écran decente, talvez na esperança que algo pudesse mudar. Mas, para minha desolação, a apatia continuava, os nervos, os livres, as bolas perto da área, o preenchimento azul do campo.
Até que, num lance, com o Cardozo sozinho, sem engenho para tirar a bola colada na rede, tirou um guarda redes da cartola, reduzindo o adversário, pondo alguma água na fervura, com um consequente aliviar encarnado...
O Martins entrou com a sua veia gladiadora, o Weldon desperdiçou alguns lances, mas não conseguimos ganhar a batalha do meio campo, as ligações com bola não saiam perante a bem estruturada e aguerrida equipa de Belém. Com o aproximar do apito final, pairava no ar alguma ansiedade, que uma bola transviada num livre ou num remate à distância pudesse causar dissabores, não tinhamos o jogo completamemte na mão, apesar do espaço maior na frente para podermos aproveitar…
Enfim, noite cerrada, olhar brilhante, coração quente e saltitante, enfiei-me no aconchego do lar, satisfeito pelos laços de ternura, revestido de robe e candura, na companhia da família, num serão de entretenimento, onde Deus marcou presença com a sua harmonia e contentamento, benção só alcançável, se confiarmos Nele, a nossa linda história de encantar…
E foi este o primeiro dia do resto das nossas vidas, dos três que nos restam para gozar, que a disposição e alegria não nos falte, para brincar ao Entrudo, soltar as amarras do nosso conformismo, aproveitando para nos divertirmos e para namorar…
Na próxima 5ª-feira, esperamos que Berlim não esteja muito fria, que a lembrança do muro já não nos sirva de impecilho, que a nossa confiança seja motivo de orgulho, que nos consigamos impor com abnegação, entrega e virtuosismo, lutar com bravura pela vitória.
A próxima jornada, já com o FCP a 9 pontos (tão injustiçado pelos árbitros, pelo anti-jogo e outras coisas mais, deita cá para fora Jesualdo, deita...) e com o Braga a 1,3 ou 4, ficamos na poltrona a assistir ao grande derbi a norte (condado portucalense), para saber qual a distância pontual para os mais directos rivais (desde o FCP a -9 ou -6 até ao SCB a -4 ou +2 - tudo pode acontecer), antes do reajuste para as ultimas 10 rondas cruciais.
Força BENFICA, pelo sonho é que vamos! Quanto sal atlântico é que nos pertence, quantas trágicas conquistas e vãs disputas foram nossas, para conceber esta alma lusa de feitos heroicos e galvanizantes?! Perante a tamanha desmoralização que paira na nação, com a desorientação na política e a latente crise de valores, o Benfica campeão elevaria um pouco mais a auto-estima e o orgulho de Portugal...
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