quinta-feira, 11 de março de 2010

No inferno quase tocámos o céu!





Benfica 1:1 Marselha

A parte útil da semana, mais proveitosa para entidades empregadoras do que para súbditos dependentes, já sem falar dos que sofrem o flagelo do desemprego, apareceu com uma 2ª-feira de triste figura, mostrando um azedume crescente com a escassez da claridade, chuviscos acentuados no decorrer do dia, terminando num compulsivo choramingar ao serão...

Os mais novos, retornavam ao ensino, no mesmo controlado horário, mas com uma predisposição desmedida para superar o calendário, quais sementes à espera de brotar em campos floridos com a anunciada chegada da primavera…

Apesar do clima sombrio, o dia assinalava uma data importante para uma parte da Humanidade: as Mulheres, festejavam o dia da sua emancipação e revolta contra a descriminação social, lembrava ainda todas aquelas que ainda não conseguiram libertar-se da opressão, atingir a igualdade de direitos no seu quotidiano.

Mas neste cantinho ameno, algures ao sul do hemisfério, não se faz esperar a bonança, os dias seguintes trouxeram um céu sem qualquer mágoa ou ressentimento da reiterada precipitação, fazendo da noite a sua conselheira e apaziguadora de tanta rebelião… mas quis o frio que não proclamássemos ainda a inevitável mudança de estação, viajando pela europa montanhosa, um ar gélido veio arrefecer os ânimos e desfazer a confusão…

Foi assim que chegámos ao dia da Europa, por mais uma jornada da Liga (dos últimos) e pelas Vítimas do Terrorismo. Em Lisboa entrava em acção o amado Benfica, em Madrid, em dia de péssima memória para os espanhóis, jogava o rejuvenescido Sporting (ouvi no final que mesmo reduzido a nove arrancou um prometedor empate a zero). O Rui Costa convidou todos para uma visita às profundezas do inferno, para inflamar a chama da equipa, conseguirmos derrotar o difícil adversário que vinha da costa azul mediterrânica, chamado Marselha...

A hora do jogo era perfeita para chegar a casa sem grande confusão; depois de assentar bagagens, da razia às batatas fritas e hamburguer (a “mão de vaca” era um prato pesado para noite), lá estava eu em frente do televisor com toda a efervescência, emoção... e com mais alguns fedelhos por perto (o vírus só é transmissível por reincidência e contagiante vibração)...

Antevia-se um embate duro, com um adversário de respeito, só mesmo uma equipa galvanizada, com o apoio da massa adepta, seria capaz de vencer a contenda, ficar com alguma vantagem na eliminação. Tal como eu tinha aventado, já seria bom ganhar, e se tivémos o pássaro na mão... se conseguissemos manter o golo de vantagem, teria sido ouro sobre azul, mas a cereja que o Ramires tanto quis pôr no topo do bolo, com um estrondoso remate, que até fez estremecer o estádio, não quis lá ficar no cimo, apenas conseguimos servir um apresentável doce no final...

A equipa estava na sua máxima força, com os regressados guerreiros do meio campo, a equipa mostrava-se mais sólida e criativa, mas desde cedo vimos um adversário muito personalizado, a defender com muita audácia e a jogar com grande capacidade. O Benfica foi tentando impor o seu jogo, mesmo sem conseguir dominar em pleno, foi tentando esplanar o seu futebol, mas o Aimar mostrou alguma falta de ritmo e a equipa forasteira, bem organizada, não permitia grandes veleidades, partindo sempre que podia, com rapidez e segurança na direcção do ataque...

Foi a equipa mais forte que defrontámos esta temporada, os jogadores franceses tinham uma grande postura competitiva, muito robustos e versateis, com grande técnica e sentido de baliza, mesmo em campo hostil, deram uma boa réplica até ao final, nem sei como é que eles aguentaram tanto, sempre com grande coragem e determinação.

Mas o Benfica também não se ficou atrás, o Saviola fez a cabeça em água aos defesas franceses, o Maxi correu quilometros junto à linha, e ainda teve forças para ir ao coração da área empurrar a bola para o fundo da rede. Na primeira parte, apesar das duas ocasiões por parte dos Marselheses, foram do Benfica as melhores jogadas e oportunidades de golo, com o Cardozo bem desmarcado a pontapear para as nuvens, e o Aimar, depois de uma magnífica triangulação, já sem forças, sem conseguir levantar a bola perante a saida do guardião, e outras menos fulgurantes com remates ao lado...

A segunda parte começou com um Benfica mais afoito, movimentado, o Di Maria soltou-se e fez alguns slalons até às imediações da outra baliza, com a entrada do Carlos Martins, mais robusto e com os mesmos atributos técnicos do Aimar, tivemos mais a bola ou pelo menos estivémos mais tempo no meio campo ofensivo.

Mas o jogo não atava nem desatava, o combate estava renhido, todos os golpes e jogadas contavam como pontos, a sua disputa e o confronto directo é que iria resolver a contenda ou fazer sobressair alguma supremacia. O Ramires neste aspecto é enorme, tem uma presença e uma disponibilidade que deslumbra qualquer adepto, para mim merecia ser coroado pela combatividade, pela entrega e aptidão física que demonstra em cada prestação…

Depois do golo, da alegria enorme, do festejo ensurdecedor, tivémos uma fase com algum ascendente, o adversário sentiu o soco, cambaleou um pouco, nós partimos para cima dele decididos a derrubá-lo, mas a trave mestra do jogo não quis que ficássemos com a eliminatória resolvida, a sorte não quis que os dois pássaros nos ficassem na mão, talvez com mais serenidade e uma atitude mais defensiva tivesse permitido, ao menos, segurar uma das aves... claro que a sorte alcançada pelo Marselha também tem mérito, pelo brio e fôlego evidenciados até ao soar do gongo... mas para nós constituiu um grande balde de água fria, no último instante, perante tanta empolgação...

Mesmo que estejamos, aparentemente, em desvantagem para a segunda mão, no inferno de Dante, esta partida serviu para demonstrar que o Benfica está com estofo de campeão, com muita fibra e  empenho. O empate, até pelo equilíbrio na posse de bola, premeia a estaleca do Marselha, mas ainda nenhuma das equipas ganhou vantagem psicológica, o poder está muito dividido e no jogo da próxima semana tudo pode acontecer. Mesmo que tenhamos que marcar em Vélodrome, o favoristismo e as despesas do encontro recaiem agora sobre o Marselha, e o Benfica, com muita união, disciplina tática, a mesma atitude e energia, pode levar de vencida a eliminatória...
Vamos todos torcer para que a equipa possa sair vencedora deste dificil embate, um duro teste à nossa capacidade física e resistência mental, mas que está ao alcance das nossas possibilidades…

Já no Domingo, vamos à ilha da Madeira, defrontar o Nacional, em mais um jogo complicado, que todos esperamos seja mais uma final, pois só com esforço e dedicação podemos alcançar uma vitória, o resultado que nos permite continuar a acreditar no sonho grande e lindo de tornar o Benfica campeão…

Força BENFICA!

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