domingo, 7 de março de 2010

E o vencedor é… Benfica!



Benfica 3:1 P. Ferreira

Em dia de aniversário da RTP - curiosamente metade dos que celebrou na passada semana outra grande instituição, baluarte da sociedade portuguesa, o jogo de futebol, ao final da noite, transmitido para toda a comunidade lusófona, milhares de portugueses viajantes pelos 7 mares e que se identificam com a pátria mãe, não podia ter corrido melhor, antes foi parte integrante do programa de comemorações, um excelente espectáculo para assinalar a excelência benfiquista e da nação…

A caixinha que havia de mudar o mundo, testemunhou o auge da carreira fulgurante do Benfica, mesmo ocultando o brilho berrante das camisolas, assegurou a reaparição de Portugal pelos continentes, projectou novamente a marca inaudita do prestígio e da ambição portucalense, na qual o glorioso teve um papel preponderante… Portugal de um século tumultuoso, que começou com a revolta republicana, não evitou as insuficiências trazidas pelas grandes guerras, agarrados à epopeia do mar, fomos afastando-nos do mundo contemporâneo, perdendo influência internacional.
O povo foi-se agarrando às aparições da Cova da Iria para sustentar com fé a sua alma, foi reacreditando nas suas possibilidades com o sucesso competitivo alcançado pelo Benfica além fronteiras, soltou-se em definitivo das amarras do orgulho e da solidão com a tomada do poder democrático, lentamente fomos reconquistando terreno, afirmando o nosso carácter, mesmo que cada vez mais esmagados pela reduzida dimensão…

O fim de semana chegou sob a ameaça de aguaceiros, o início da semana tinha trazido um Março ao ritmo do seu antecessor, mesmo que se antevesse a mudança de estação, não é fácil lidar com tal herança conflituosa que se verificava no céu. Ainda assim, o tempo vai lentamente levantado âncoras, reaparece em forma de trovoada, chuviscos enfurecidos com o sol cada vez mais fortalecido e os rasgos cada vez mais frequentes e de maior extensão; a terra encharcada em tanta água vai desabando sem aviso, abastecendo nascentes, enchendo torrentes, num último fôlego de devastação.
A primavera no entanto, acabará por chegar, os bandos de andorinhas já se fizeram ao caminho, o solo está cada vez mais fertil e preparado para brotar com cor e viçosidade…

O Sábado começou e acabou tarde, a hibernação continuou com a aula no interior do ginásio, ao canto da sala, por imposição da pluviosidade. Alguns quilometros e calorias depois, o reabastecimento no posto da cozinha, um prato suculento com produto norueguês.
Os sorrisos doirados que inundavam as ruas fizeram lampejar o olhar e devolveu-nos o ânimo para enfrentar o exterior. Passámos pela Igreja, um dos rapazes tinha que se preparar espiritualmente para a Páscoa, reconciliar com Deus a imaculada inocência, antes de irem banhar-se nas águas calmas e cheias de luz, exercitando o corpo para não destoar com o júbilo interno.
Na viagem de regresso, o rádio anunciava o descalabro do FCP, os de Olhão deixaram o Dragão à beira do colapso, perante tanta fita fantasmagorica não chegou tanta intuição feminina. Mais tarde ouvi as desculpas habituais do cansaço, o samba do “não vamos jogar a toalha”, enfim calha a todos, mas saber lidar com a derrota não é para todos…

À noite, fomos visitar a família, em ambiente animado e descontraido, passei pela sala da cafeína e acabei na sala do fumo e digestivos ((abomino o tabaco), com uma visão priveligiada para lá da Arrábida, onde os focos incidiam na cidade de distrito, capital da pequena península, e outra sobre o deslumbrante embate no meio da outra maior, ibérica, onde o lusitano Ronaldo estava a jogar. Ambas terminaram com um resultado auspicioso, o Setúbal tinha travado o avanço dos bracarenses e o comandante de Madrid tinha ajudado a derrotar os sevilhanos. No final o timoneiro, diplomático como sempre, veio reconhecer o fraco caudal ofensivo, dar mostras de algum cansaço psicológico do seu arsenal…

Chegou finalmente o Domingo, acordámos com entusiasmo, o sol teve já uma presença mais assídua, fomos à casa do Senhor, para a reza costumada mas, num templo e com propósitos diferenciados, para escutar e interiorizar a Palavra divina, crescer de forma harmoniosa e moralizada.
Antes do jogo, ao início do serão, ainda fui à casa dos pais, o Sporting, do chefe da casa, afiava as suas garras, enquanto durou a visita auxiliadora e a troca de cuidados ou de afecto paternal.

Finalmente, ainda antes das luzes da ribalta que ditarão, já madrugada, os grandes vencedores cinematográficos, acenderam-se as luzes da Catedral, mais de 40 mil, compunham as bancadas, incentivavam a equipa, a moldura ficava completa com as cores dos protagonistas que se espalhavam pelo verdejante prado. Malmequeres surgiam floridos pelo meio das papoilas saltitantes, a excitação não esfriou com as pingas que se juntaram ao apito inicial, o vento acariciou as vistosas flores, a bola rolava com alegria, qual borboleta que não se importava de beijar as redes, para sentir a vibração contagiante dos assistentes e o eco de contentamento descomunal...

O Benfica entrou a todo o vapor, mesmo com as ausências do Ramires, Aimar e Javi Garcia (uns aneis mais acima em boa parceria), mas com o Di Maria, Saviola e companhia com muito fulgor e sintonia a querer alcançar mais uma vitória. O Airton tem a chancela de craque, sempre possante, pagou a factura do esforço na parte final, o Fábio está a perder os complexos, o menino está cada vez mais entrosado, O Maxi fez um excelente jogo, mais coerente e com a entrega habitual, o David está onde está a bola, e só mesmo um centro à distância, teleguiado, é que haveria de fazer notar a sua ausência na defesa...
O Amorim está a subir de forma, os golos são um tónico suplementar e, mesmo sem o Aimar a comandar o carrocel, o Di Maria chegou para as encomendas, o Carlos marcou o território, mesmo sem a astúcia visionária do Aimar, segurou a bola, com o Cardozo a fazer pela vida, pois tinha que marcar para se destacar de novo no topo individual, e só não se afastou mais porque a sua veia goleadora colidiu com a veia de guarda-redes do Coelho ou com a sua cadente velocidade… mas não se pode dizer mal do goleador-mor, nem de toda a frota atacante, afinal o reduto Pacense estava bem defendido, mesmo que os tiros fossem quase sempre mal direccionados, mas os três que atingiram o alvo foram mais que suficientes para fazer render a equipa adversária, que nesta segunda volta ainda não tinha baqueado.

O Quim sem se dar por ele, sofreu o golo ao findar da primeira parte, num período em que o Benfica abrandou e permitiu um jogo mais amplo e atrevido do Paços, com os extremos Pizi e Maicon muito rápidos. A segunda parte trouxe os forasteiros a quererem discutir o resultado, mas o Benfica reentrou com vontade e foi ficando novamente por cima até que, com uma hora de jogo, um remate à entrada da área, fez a bola ressaltar num defesa e na trave, entrando na gaiola feita de rede, até apanhando um Coelho desprevenido com o disparo inesperado.
Com este golo, a caça ao coelho continuou mas havia de terminar a caça à borboleta, no entanto os aplausos exteriores continuaram a incitar todos os que se disponham pela coutada, mesmo os menos experientes, que tiveram a oportunidade para exercitar alguns minutos a arte e o traquejo que exige a modalidade...

Apenas um breve comentário sobre os amarelos cirúrgicos aos jogadores encarnados, se o Di Maria poderá ter-se escedido (mais uma vez - mas o largo critério depende dos jogadores), já o Saviola, mesmo que tivesse precipitado a queda, o contacto (obstrução) foi real, e se calhar fora da área, até tinha sido marcada, mas mesmo na dúvida, o cartão é exagerado. A falta que amarela o Luisão também não foi exurbitante mas o olhar do árbitro parecia estar desgarrado…

Na 5ª-feira temos já outro desafio, vencer os Marselhenses, que se afiguram como figura de cartaz desta 2ª Liga Europeia, mas o Benfica tem os seus argumentos para anular algum favoritismo e levar de vencida esta primeira batalha. Desde logo o apoio frenético do inferno da luz, e depois a consistência já demonstrada e a repetida clarividência deixa-nos esperançados num resultado positivo, mesmo que seja só uma vitória…
O espectáculo vai continuar em canal aberto, pelo que apenas retomarei a emissão da SportTv (já lá vão alguns euros de poupança desde o final do ano passado) no próximo final de semana, com o regresso à Ilha da Madeira, desta vez já no final do inverno, esperando que já tenha passado o mau tempo no canal...

Viva a Mulher (viva o bom chefe de família!), viva o Benfica, viva a televisão, vivam as peliculas de cinema, viva a Quaresma, viva Deus que acalenta a felicidade e o sonho de campeão!

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