sábado, 27 de março de 2010
1 vitória (moralizadora) de dois pontos!
Benfica 1:0 Braga
A semana começou auspiciosa, desportivamente falando, com os festejos da primeira conquista da época, em terras do sul, território vocacionado para o palco da chegada apoteótica da primavera, porta de entrada da brisa balsâmica que atrai das savanas africanas as aves migratórias para o clima mais aprazível deste país.
Mas a buliçosa estação, assinalada pelo escaldante ambiente algarvio, pela consolação da saborosa vitória, apenas subiu até à capital nessa noite de festa, no autocarro cheio de alegria que envolveu a comitiva encarnada, pois a semana haveria de seguir periclitante em termos metereologicos, com o tempo impávido ao crescente empolgamento e às datas do calendário, ameaçando com aguaceiros os dilatados periodos de sol, condicionando a subida da temperatura.
Apesar de tudo, o final de semana, passados mais alguns dias de caminhada quaresmal, com a cruz mais aliviada pelo desbravar soalheiro da primavera, apareceu disposto a conceder neste cantinho atlântico, as condições favoráveis para a sua implementação, para o regresso definitivo das andorinhas, o crescimento sustentável dessa indelével harmonia...
Apesar do imenso mar azul estar cercado por um areal de nuvens, com algumas vagas a rebentarem numa espuma branca e fina, o céu espelhava uma alma límpida e sadia, o amplo cenário inundava o parque com um sopro de exultação à vida; eu corria pelos contornos relvados, sob as tenras folhas que despontavam dos plátanos, passava pelas flores que brotavam dos damasqueiros, ladeava os coloridos canteiros naturais, admirava o lento palpitar da natureza, ao som da musica da Enia, recarregava as baterias num simples ritual de sublimação...
O jogo que se ia desenrolar à noite, adivinhava-se de emoções fortes, era o motivo da conversa circunstâncial com amigos, aliás, o futebol em geral, a derrota do Sporting no funchal: nunca se pode reclamar mérito antecipado, a vitória neste desporto é demasiado fugaz, mas o Carvalhal achou por bem evidenciar-se só por que ganhou algumas batalhas, esquecendo-se que a condecoração só nos destingue no fim da guerra, mesmo que entenda a sua revolta, perante tanto mediatismo e faltas de consideração…
Mais tarde, mesmo sabendo da avalanche humana que resvalaria na direcção de Benfica, ali para os lados da Luz, com o aproximar do entardecer, não hesitei em infiltrar-me nessa longa romaria, indo com os catraios até ao complexo desportivo para mais uma sessão de natação. Os Autocarros aglomeravam-se vindos de todo o país, desta vez tingidos de vermelho, traziam as pessoas contentes e divertidas para assistir ao espectáculo do ano; na bagagem traziam o farnel tradicional, no coração uma esperança enorme de poder festejar o golo, alcançar um estado de euforia, começar já a escrever uma página memorável da história desta Liga, embalar no sonho até à nirvana…
O ambiente estava fantástico, sentia-se uma aura serena e contagiante, mesmo que no fundo soubessemos da possibilidade dum triplo resultado, mas a fé e o entusiasmo vibrante dum estádio cheio iria fazer toda a diferença. E foi neste estado de alma inebriante que retornámos à margem sul, abandonando aquele formigueiro de gente, antes ainda me ofereceram um caneco de verde, trazido directamente do minho, terra de bom vinho e boa gente, e eu com pena de que a ocasião não fosse para isso condicente...
O anoitecer ia chegando devagar, o jantar foi saboreado paulatinamente, os preparativos para assistir ao jogo foram pensados atempadamente, tentava manter uma tranquilidade aparente, ainda hesitei ir para os lugares junto do relvado mas resolvi elevar a postura e subir para o poiso situado no camarote. O minorca, aficionado pela bola (os joelhos rasgados denunciam a sua queda para o assunto), quis acompanhar-me no meu posicionamento, apesar da inquietude, o maiorca, mais dividido por outras formas de lazer, vinha ter connosco de vez em quando.
Os jogadores entravam no palco majestoso, uma grande faixa profetizava já um Benfica Campeão, o público aplaudia confiante numa boa prestação. O Martins jogava no lugar do Aimar, o Saviola assegurava a batuta dos grandes maestros, mas de todos se esperavam exibições de mestre, uma filarmonica afinada a entoar uma excelente sinfonia.
Desde logo se viu um Benfica mais acutilante, com um ritmo superior, a querer comandar a partida, apesar do primeiro canto madrugador do Braga, único na primeira parte. O Benfica foi tentando chegar ao golo, construindo jogadas vistosas, o Martins esteve possante no centro, mas a equipa bracarense defendia-se bem, tem excelentes interpretres, jogava unida, apesar de estrategicamente retraida, à espreita de qualquer oportunidade.
Mas os jogadores encarnados estavam motivados, abordavam os lances com sobranceria e antecipação, ganhavam a bola e desenhavam alguns lances de ataque. O árbitro quis segurar o jogo e amarelou logo alguns jogadores, com algum exagero, mas o jogo decorria sem grandes picardias, apesar da emotividade latente. Poderíamos ter chegado ao golo quando o Saviola se isolou, num atraso desplicente, mas a bola bateu-lhe no joelho, o Cardozo também não estava particularmente inspirado, num centro do Di Mari, na segunda parte a bola fugiu-lhe ao bater-lhe na cara, e chegou quase sempre atrasado e pouco lesto nas imediações da baliza.
Até que numa jogada de assistência, após o 8º canto, já depois do minuto 45, um centro do Martins foi cabeçeado pelo Javi, a bola sobrou para o Luisão que, em cima da pequena área, só teve que se virar e rematar para o fundo das redes, desfeiteando o surpreso Eduardo. A justiça no resultado foi evidente, mesmo que não tenhamos tido muitas jogadas flagrantes de golo, a percentagem de posse de bola, ataques e remates foi por demais avassaladora. O Braga apenas através de livres tinha feito chegar o esférico à nossa área, mas com raides inconsequentes.
A segunda parte trouxe-nos um Braga mais imponente, disposto a discutir o resultado, já que a derrota, mesmo por um, não interessava. As substituições bracarenses, forçadas ou não, vieram espicaçar ainda mais a partida, a frente atacante alargou-se em alcance e qualidade, o que tornou o jogo mais disputado e aberto e, então sim, com outra emotividade.
Mesmo assim, ainda que a bola tivesse chegado mais perto e com mais perigo da área do Quim, sem ser através de livres, na mesma quase sempre pelo ar, o Benfica teve oportunidades mais que suficientes para ter alargado a vantagem, desferir o golpe de misericordia. Já com o Aimar em campo e com o slalons do Di Maria, ou os sprints do Fabio, apenas o Cardoso destoou em eficácia e velocidade. O Javi está em grande forma, tal como o Fabio Coentrão, para mim um dos homens do jogo, sempre aguerrido e com muita pujança.
O final do jogo foi ao som de cânticos, levando a equipa ao colo para uma merecida vitória, abafando os impetos do Braga e esfriando os incitamentos do Domingos. Aparentemente, com uma segunda metade mais dividida, com um abrandamento do Benfica, a posse de bola encarnada, manteve-se em 61%, e apenas houve mais um canto para cada lado, com a supremacia dos ataques e remates por conta dos da casa.
Mais vale um golo na mão que garantam 6 pontos de avanço (na prática 5) do que querer a todo o custo alcançar mais um golo, descurando a defesa e a salvaguarda da vitória. Talvez num jogo mais intenso e aplicado o pudessemos ter alcançado, mas era um jogo que, acima de tudo tinhamos que ganhar, sem pensar exageradamente no resultado. Assim, com mais 6 finais pela frente, basta-nos ganhar as próximas 5, porque não festejar o título na mui nobre e invicta cidade, tal como Benfica, quase invictus nesta longa cruzada...
Com a semana santa já a bater à porta, o Domingo (com 23 horas) abre-nos a passagem para a derradeira introspeção sobre a nossa revisão de vida, destemidos e fervorosos, empunhando os ramos, acolhamos a gloriosa etapa de Jesus, o nosso Salvador. Mesmo com uma hora a menos, enfrentemos com confiança os dias abençoados que restam até ao final do mês (um Março exuberante em resultados desportivos), e encaremos o triduo Pascal, que vai começar na noite da entrega atraiçoada, depois dos actos submissos e reveladores duma nova aliança com a humanidade...
Mas ainda antes da hora da agonia no Horto, ainda temos a hora e meia que, esperamos seja de gloria, no inferno de Lisboa, com o jogo entre os diabos vermelhos, no dia primeiro de Abril, dia das mentiras, que esperamos seja um espectáculo maravilhoso cheio de Luz e esplendor, a sublime união entre a alma e o criador...
FORÇA BENFICA!
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