quinta-feira, 1 de abril de 2010
Os diabos e a vitória dum Deus glorioso!
Benfica 2:1 Liverpool
A semana começou recordando a aclamação triunfal de Cristo na sua chegada à Jerusalém, através do ritual da procissão e benção dos Ramos, num domingo favorecido pelo sol, fomos desbravando a entrada duma nova semana, antes do culminar assinalado pela sua entrega e crucificação.
Os dias foram passando santificados, numa crescente introspecção para a cerimónia solene do acto de flagelação; a mesma multidão que O havia saudado, haveria de O condenar da forma mais cruel. Jesus, porém, aceitando a vontade do Pai, suportou e venceu tamanho sacrifício a favor da redenção de toda a humanidade…
O tempo acompanhou o final de Março, temperado e melancólico, seduzido pela espiritualidade, passando o testemunho para o mês da liberdade com a mesma mansidão e temperatura. Apesar de tudo, o dia 1 rompeu com algum fulgor, um alvorecer inundado por uma luz dourada, mesmo no embaraço causado pelas brancas ilhas nublosas espalhadas no mar do céu.
Chegados a 5ª-feira-santa, ainda antes da cerimónia religiosa nocturna, da última ceia, que daria início ao tríduo pascal, depois de mais um dia de trabalho, no entardecer de Lisboa, na Catedral da Luz, estava marcado mais uma comovente partida de futebol.
O Benfica recebia o colosso Liverpool em mais um embate europeu, propício para salientar a galhardia e excelente desempenho evidenciados nesta Liga, consolidar o seu prestígio além fronteiras, recuperar a sua dimensão...
Depois do resgate na viatura familiar, da entrada triunfal em casa, perante o conforto e a relaxamento mental, antevendo já um fim-de-semana comprido, com a certeza do anúncio de um Deus ressucitado após a caminhada espinhosa do calvário, que traria disponibilidade para o passeio e convívio familiar, abordei o jogo com muito entusiasmo e espontaneidade.
Ainda fui desejar boas festas pascais no café, lançar o jogo, numa curta e improvisada conferência de amigos, antes de correr para a frente do televisor. O plantel titular era o que já se esperava com a ausência do Saviola, não era mentira, a entrada do Martins e do Aimar.
O Liverpool desde logo se mostrou uma equipa personalizada, ambiciosa e rotinada para os confrontos europeus, mas o Benfica também esgrimiu argumentos, colocou em campo todo o seu voluntarismo, impondo respeito, tentando superiorizar-se pelo futebol praticado, opondo-se com grande vivacidade.
Sem nada o prever, apesar do pendor atacante, o Liverpool chegou à vantagem, através dum livre, marcado sobre o lado direito, com a bola atrasada no interior da área a resultar num golo com alguma sorte e habilidade. O público e os jogadores não se intimidaram em demasia, continuaram confiantes e as jogadas bem deliniadas haveria de levar a bola junta da baliza do Reina, mas a bola teimava em boicotar a festa do empate, mais por culpa do nosso fraco aproveitamento e desperdício das oportunidades.
Mas o caudal de jogo, a atitude ofensiva dos jogadores, haveria de manter o emplogamento e o suspense, a todo o momento esperava-se que o Benfica anulasse a desvantagem e conseguisse materializar em golos aquela produtiva e vistosa exibição. Quando o intervalo chegou, mesmo com a derrota a prevalecer, castigando a inoperância atacante, perante a vantagem numérica e o cumprimento da primeira parte, todos acreditávamos na luz ao fundo do tunel, que era possível dar a volta ao resultado.
Depois do descanso, da refeição na cozinha, o regresso à tribuna foi feito acelarado, os pequenos eram cumplices da minha controlada ansiedade, ia vociferando os nomes dos jogadores, blasfemando pelas contrariedades, rezando nas horas de maior aperto, evocando a Deus e dando as mãos para ultrapassar as dificuldades.
Até que depois de tantas bolas longe da baliza, um pontapé com força embateu no poste e haveriam de surgir as bolas no fundo das redes, através de duas grandes penalidades. O Cardozo desta feita não vacilou, com força na primeira e com classe e confiança na segunda repôs alguma justiça no jogo, selando uma importante vitória, pondo o Benfica na frente da eliminatória.
Todos os jogadores tiverem um desempenho meritório, não querendo descurar ninguém, gostava de destacar o Fabio, pela sua afirmação e ascenção, correndo o campo todo, mesmo com missões defensivas, o Ramires abnegado também surge em todas as posições do terreno, o David Luiz ganhou aos pontos ao Torres, o Martins pela sua entrega e visão de jogo, o Aimar mais sacrificado mas importante na manobra e nos lances cruciais, o Di Maria pela sua magia, o Javi pela sua categoria, o Luisão pela sua liderança e simbologia, o Maxi pelo seu empenho, o Nuno pela sua experiência num saudozo regresso, o Amorim pela sua segurança e atitude…
Mesmo que tenhamos jogado quase uma hora com mais um elemento, tirando alguns esporádicos lances de ataque na segunda parte, o Liverpool foi quase banalizado pela supremacia do Benfica. Vitória tanto mais valorizada por que se percebe na equipa adversária uma grande competência, um clube muito competitivo, duma das mais disputadas ligas da Europa. Em Anfield Road, perante os cânticos caseiros, esperamos estar à altura dos acontecimentos e dos pergaminhos já alcançados, com dedicação e esforço, manter vitoriosa mais esta batalha, ultrapassando mais uma eliminatória.
Antes, depois do anúncio definitivo da glória celeste, dos festejos exuberantes da Páscoa, de termos comemorado a passagem da morte para uma nova vida, cheia de esperança e harmonia, depois dos passeios e do salutar e fraterno convívio, de termos entoando o aleluia, vamos jogar na segunda-feira à Figueira da Foz.
Um jogo com a Naval, onde temos que consolidar o predomínio na Liga interna, encarando o jogo com toda a pujança, visando alcançar mais uma vitória, seguirmos confiantes, serenos mas determinados, para chegarmos também à nossa Jerusalém, triunfantes e aclamados por uma eufórica multidão... com força, com raça, Benfica!
Uma Páscoa Feliz!
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