domingo, 9 de maio de 2010

Campeões..., nós somos campeões!








Benfica 2:1 Rio Ave

Depois do esmorecimento na cosmopolita nortenha, adiada a festa perante os atribulados acontecimentos, para regozijo de alguns rufias, eis que o anúncio do título estava pronto para seguir para as tipografias, era quase certa a sua publicação em decreto, a gravação lacrada no prestigiante troféu nacional...

Os dias avançaram lentos, depois das populares manifestações de rua e das íntimas comemorações maternais, a semana foi trazendo consigo temperaturas amenas, o Maio foi desbravando o seu itinerário, acentuadamente pedestre, demorado, no encalço dum Santuário e de benções, com a vinda do Papa.

Enquanto isso, uma pequena parcela da comunidade escolar foi posta à prova, invocando os mais apurados níveis de concentração, alunos do 4º e 6º anos realizaram avaliações académicas para aquilatar da língua pátria e calcular o saber da Matemática.

Chegámos então ao chuvoso amanhecer de Sábado, impossibilitando o reencontro com o florir da primavera, viria a permanecer instável e cinzento durante todo o dia, até olhares e lembranças de inverno embatiam na circunspecta e abafada atmosfera. De tarde fomos à baixa lisboeta para fazer algumas compras e atravessámos a cidade na direcção de Benfica, proporcionando aos filhos a prática da natação...

Sentimos o pulsar do majestoso local, numa acalmia reinante, 24 horas antes do começo do frenesim da última partida, antes de pular o rio para a outra marfem, no enlevo do horizonte, seduzidos pela mágica noite vespertina… o serão prolongou-se entre familiares, ouvindo episódios das mil e uma noites, preenchendo a imaginação com as imagens duma viagem pelos confins arábicos da Turquia.

Talvez por isso, o dia consagrado, haveria de começar tarde, a chuva reapareceu ruidosa, cercando-nos em casa, quedando-nos na paz infinita do leito, até que o descanso suou os alarmes ao  sono profundo, trazendo-nos de novo para a vida…

Antes do almoço, era hora de cumprir as obrigações paternais, a acostumada visita hospitaleira. Depois do banquete dominical e antes do grande evento do dia, fomos conviver com outros parentes, ajudando a passar o tempo, de forma descontraida e amistosa.

Este campeonato também fazia lembrar um jogo de ténis, tal como a grande final do Estoril, onde o Gil, resistia a dois pontos de jogo, o Benfica também já havia tido várias oportunidades para se sagrar vencedor, mas por méritos alheios, ainda não o tinha conseguido atingir.
Tal como a bravura do tenista, foi preciso à equipa do Benfica, ao longo da época, ser muito consistente e praticar bom futebol, vistoso, dinâmico, arrebatador, com produção avolumada, com grande brio e categoria.

De volta aos aposentos, estava pronto para todas as emoções. Este jogo, por todas as razões, não haveria de ser como os restantes, todos esperavam o inevitável, mesmo que os de Braga ainda vissem o título por um canundo, na verdade, o que apareceu na televisão, lá longe, visto da Praça central, era o Bom Jesus.

Apesar de tudo, o Benfica entrou no jogo muito decisivo e disposto a dissipar qualquer incerteza, empurrado pelo ambiente arrepiante, o golo surgiu logos nos minutos iniciais, numa jogada de insistência, com o Cardoso e fazer o gosto ao pé, para gaudio do público presente. Foi nessa altura que fui à janela dar um grito, provindo das entranhas da alma, audível pelo bairro inteiro. A euforia foi galopante, a ansiedade dominava os jogadores, desejosos de extravasar e partilhar a sua alegria de forma eloquente.

De tal modo os jogadores não foram tão espontâneos, jogando pelo seguro, e nem a expulsão de um jogador adversário fez a equipa soltar-se como todos gostariamos, ser mais espectacular e obter mais golos. Mérito para a estratégia forasteira que soube defender com muita estabilidade, sendo uns dignos vencidos, sem qualquer menosprezo pela sua prestação.

Para que ainda houvesse mais suspense, o Rio Ave viria a alcançar o empate, minutos antes do 2º golo do Cardozo, que o ponha em definitivo no topo dos melhores marcadores, fazendo com que a energia envolvente fosse ainda mais entusiasmante e comovente… e até ao fim, foi só gerir o tempo, circular o esférico, esperar pelo apito final.

Claro que uma celebração desta envergadura mereceu uma bebida inebriante no Cálice, religiosamente guardado, com o emblema do Benfica, para esta jubilosa ocasião!

Em todo o Portugal as pessoas foram para a rua, ocuparam as praças, circularam pelas avenidas, gritaram bem alto a sua alegria, a plenos pulmões: “Campeões, campeões, nós somos campeões!”.
Por todos os países lusófonos, de Africa, em todas as comunidades portuguesas, Genebra..., por todo o mundo, o povo extravasou exultação... Ainda atiraram algumas pedras no Porto, os Policias estavam impávidos a repor a ordem e o respeito à livre manifestação, mas mesmo a Invicta pode festejar o 32º título de Campeão nacional, numa grande cadeia de empatia e satisfação...

Eu não fugi à regra, fui com os miudos, de cachecol em punho, garganta e buzina afinadas, com o automóvel em marcha lenta pelas ruas da cidade do Cristo-Rei, invadindo praças, assinalando de forma barulhenta e efusiva o meu orgulho de inestimável pai e bom chefe de família… para que este momento fique gravado na consanguinidade dos descendentes, memórias para a posteridade…

No Marquês de Pombal, bem ao de cima, todas as artérias que desembocavam nessa emblemática Praça da Capital, foram inundadas por uma multidão, pessoas ávidas de ecoar o seu contentamento por mais esta conquista. Receberam em apoteose os jogadores, técnicos e restante comitiva que seguiu num autocarro panorâmico ao encontro da exuberante população. Eles próprios estavam radiantes pelo feito alcançado, por terem proporcionado tanta felicidade a um país, numa fase tão periclitante…

Depois dos festejos na catedral da Luz, onde assistimos com fé inaudita e misto de emoção, ao milagre de Jesus e seus discipulos, ficamos à espera da visita do Papa, santidade máxima da Igreja católica, esperamos recebê-lo com grande devoção e entusiasmo, pedir-lhe que nos ilumine ainda mais a nossa vida, aprofunde a nossa convicção, traga mais graças e venturas para o futuro, mormente para a eternidade! Confiemos na plenitude de Deus e louvemos o seu amor!

2 comentários:

sloml disse...

Eu estive na festa e garanto que não há palavras para a descrever. Título muito mais que merecido e muito saboroso também. CAMPEÕES, CAMPEÕES, NÓS SOMOS CAMPEÕES!

Dylan disse...

Grande texto, o seu, meu caro.

O treinador do SC Braga tinha previsto que algo ia acontecer. Realmente acertou - um vulcão entrou em erupção na Luz debitando para a atmosfera cinzas vermelhas que cobriram o espaço aéreo nacional de norte a sul do país, também em África, na Ásia e na Europa. O magma incandescente derreteu os maus perdedores, sempre prontos a minimizarem as vitórias dos outros através da intimidação e comunicados dignos de uma taberna do interior. Falaram em túneis - esqueceram-se do verdadeiro precursor do túnel nauseabundo dos anos 90 -, criaram um artificial candidato ao título que, apesar da sua boa época desportiva, foi sustentado por erros arbitrais. Mesmo assim, venceu a melhor equipa: o Benfica. Com um futebol vistoso, com o melhor marcador, com o maior número de golos marcados e menos sofridos, com jogadores ameaçando transferências milionárias, com mais espectadores e carregados por um andor - os adeptos. Como diz Chico Buarque: foi bonita a festa, pá!

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