Benfica 2:1 Braga
Apagadas as luzes da ribalta europeia, a noite veio resgatar-nos para o
recobro da madrugada...
4ª-feira acendeu de novo os holofotes do tempo, raios abrasadores apontados
ao cantinho ocidental...
Os jornais ressacavam o desaire: "que não houve mão para tantos árbitros.."; "que ainda é possível dar a volta à eliminatória", o Artur falava já do jogo
vital de Sábado, porque no Benfica não há tempo para lamentar derrotas nem para celebrar demasiado as vitórias, resumindo, psicanálise apurada para regenerar a esperança e a
ambição...
E a semana ficou cortada pela metade, a patroa folgou com o subordinado
mais velho, o poente trouxe as benções noturnas à paz familiar, depois do
trabalho e do basquetebol...
5ª-feira perpetuou o cerimonial primaveril do fins de Março, frescura amena
atou a manhã com laços feitos de nuvens que andavam à deriva pelo ceu...
E a névoa foi peneirando o sol, temperando a atmosfera, ajudando a
escurecer o dia... Depois da janta fui com o "minorca" ao desafio de futebol,
impor ao corpo preparo físico e fortalecer a aptidão mental...
A chuva prometida veio logo a seguir trazendo bagagens, viajando connosco
até casa, adormecendo o pequeno, à passagem pelo Cristo redentor, confidente da
oração da noite...
A chuva foi carregando mais bagagens pela madrugada, mas as armas só
chegariam de manhã, disparadas sobre a cidade, saudades de inverno, lavando o pó dos
carros e regadio da terra...
Mesmo assim a rádio dava conta de incêndios mais a norte, apesar da intempérie à porta do trabalho... Contudo, à hora do almoço, a chuva deu sinais
de abrandar, até novas e prolongadas tréguas...
Suspensão é o que não acontece nos problemas que atropelam a vida, com a
mecânica da viatura a voltar a dar parte fraca, como se o automóvel nos
cobrasse com juros do serviço de transporte...
Mas enquanto só formos perdendo os euros, e os meses, até o couro e o
cabelo, e for restando fé e saúde para os sacrifícios levar, damos graças a
Deus...
E o mês terminava no Sábado, estávamos nas imediações da meta, depois da
curva da noite descansada, a contra curva do basquetebol de manhã (pai versus
filho), o piso escorregadio da oficina, antes do almoço, e a reta longa,
escancarada, logo a seguir à escapatória da quinta e ida às boxes da reunião familiar, para encher o deposito e afinar estratégias, para aceleramos em definitivo
para a Catedral, onde a Luz nos acenou a bandeira de xadrez da chegada...
O dia estava quase a abandonar Lisboa, ainda se avistaram laivos de
encarnado a poente, apesar da firmeza das nuvens, mas já entrámos no Estádio com
a noite a realçar as cores vivas sobre o relvado, a aguia sobrevoou as
bancadas quase repletas, cantámos o hino com voz rouca e aprumada e os
jogadores deram inicio ao acelerado pulsar…
Era preciso uma vitória do Benfica, com garra, para destronar o líder, para
garantir um final de campeonato mais confiante… Jesus não quis mexer muito na
estrutura, deu uma chance ao Miguel discípulo, ao lado do mestre Luisão,
Capdevila rendia o castigado Emerson, enquanto o Rodrigo jogava ao lado do
Cardozo, com o Gaitan e o Bruno a extremos, o Witsel na manobra…
O Benfica apareceu mais afoito e seguro das suas intenções, afinal tinha
que ir atrás do adversário na classificação, ia trocando a bola, ora com o
Gaitan sobte a esquerda, com a ajuda do Capdevila, ora pela direita com a
dupla baixinha, Bruno e Maxi, sempre com o Rodrigo como pêndulo, a levar a bola
pelo meio, em alternativa, a tentar furar a coesa defesa bracaranse.
Se dum lado o Gaitan foi conseguindo uns cantos, arrancar um cartão ao
Douglão, fazendo calar o Miguel Lopes, do outro também a luta era cerrada, mas o
Maxi não recuperar com facilidade. No miolo o Witsel ia chegando para as
ecomendas, pautando o jogo, apesar do aperto do Custodio e do Hugo… E tudo isto
estava a passar-se ali mesmo à minha beira, sobre a cabeça do Leonardo muito “sussegadu”…
A claque de Braga, lá no cantinho do alto, ouvia-se abafada pela distância e
pelo grito uníssino dos adeptos encarnados, nem o Quim se livrou duma tremenda
assobiadela quando reclamou com o árbitro um lance com o Maxi…
A posse de bola era substancial, o Benfica dominava e estava por cima do
jogo, mesmo que não tivesse criado nenhuma oportunidade flagrante, o Braga
tentava sair com rapidez, maioritariamente pelas alas, com o Helder ou o Alan,
mas este notava-se ainda muito preso de movimentos… e a primeira parte findou
sem qualquer golo…
Na segunda parte, o Benfica voltou a entrar mais acutilante, mas desta
feita o Braga foi encontrando e aproveitando melhor o espaço do meio campo, com
o Mossoró a destacar-se mais no centro, com saidas mais rápidas, e o jogo ficou
um pouco mais aberto e corrido…
O Gaitan também começava a querer dar mais nas vistas, pela esquerda,
incursões para o meio, mas não havia maneira de abrir o caminho do golo… A
chegar ao ultimo quarto de hora, falei no golo do Carlos Martins, há um ano,
por essa mesma altura do jogo, e eis que pouco depois, em cima do minuto 75, o lance
que iria resultar em penalti a favor do Benfica…
Já tinha saído o Cardozo para dar lugar ao Nelson e o Miguel Vitor saiu lesionado, tendo que se accionar o plano B, com a colocação de Javi a central e a entrada do Matic. O Quim ainda quis entreter o Witsel, mas o belga, com muita classe, atirou para dentro da baliza,
provocando uma explosão de alegria…
Jesus quis reforçar ainda mais o meio campo e tirou o Rodrigo para entrar o Nolito para a frente do seu compatriota, indo o Gaitan para o
meio do ataque… Mas aiinda a euforia andava no ar, o silêncio descia do terceiro
anel, pouco depois do Nuno Gomes entrar, com uma ovação de gratidão (o
povo raramente se engana no julgamento popular), quando num livre do Hugo Viana, sobre
o lado direito, a bola sobrevoa toda a area, caindo junto do poste onde apareceu um
desvio para o empate. O relógio já tinha entrado nos minutos 80, havia pouco
tempo para reagir, o ânimo quase ficou de rastos, pelo menos o meu…
Mas eis que num esforço final, o Gaitan vem à direita, entra pela área, das
poucas que conseguiu fazê-lo a fintar, dá para o lado, bem no coração da área,
onde o Bruno tem tempo para preparar um remate com o seu pé esquerdo em geito e
rasteiro, com a bola a entrar junto ao poste… o tempo estava a expirar, eu nem alcancei bem a finalização, já só vi as
pessoas a levantarem-se em catadupa, num salto de contentamento, extravasando
uma emoção imensa, e também eu saltei como uma mola e gritei a plenos pulmões o
grito da vitória...
No meio da loucura, abracei o meu filho, peguei-lhe na mão e fui puxando-o, para
o exterior, torneando a multidão, atordoados com tanta alegria,
quase voamos pelo serão, ao encontro do lar sereno, onde nos esperava a
mansidão…
Rodaram os três da frente, e na próxima etapa, temos o imprevisível derbi
lisboeta, mas é certo que os adversários também têm que perder pontos, ou os
dois: 2 ou um deles: 3… Antes, a meio da semana, vamos ter um dificil jogo em
Londres, onde o Aimar poderá trazer mais consistência, talvez o plano B seja
para continuar, mas não é pior o Matic, vamos ver, como é que a fibra e a sorte
se vão comportar...
Empenho e a certeza da Ressurreição de Cristo é que já não
devem faltar no jogo de Alvalade, independente do que acontecer na Europa, para
continuarmos bem posicionados para, na linha da meta, ganharmos a Liga de
Portugal…
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