
Benfica 1:0 Académica
Um amanhecer azulado
despertava o branco orvalhado do parque quando atravessamos as portas do final
de semana...
Mas um espesso nevoeiro
enamorou-se pelas lameiras e veio abraçar a cidade, até a tarde voltar a
desvendar o cenário quotidiano...
O entardecer acendeu
candeeiros, depois da reunião escolar, noite fora, pelos arrabaldes de Lisboa, até
ao luzente futebol, corpo focado no cansaço, lua confidente no acalmar…
Sábado, uma cortina
nublada debruçou-se sobre o Tejo, contemplava o treino do rapaz no monte do
Cristo libertador.
Acertámos as contas do
condomínio, antes da separação vespertina dos irmãos, pelas diferentes disputas
e locais de competição...
Lançamentos e pontapés
certeiros, atrás da ambição, pois o resultado coletivo não era da sua exclusiva
preocupação...
Dividimos os incentivos,
cada qual com a sua convicção, vieram reforços para o novato, a avó e o primo,
e recolhemos ao conforto caseiro, ao
infinito bem estar da mansidão...
O Domingo atraiçoou com
chuva a desenvoltura matinal, mas o almoço do primo estava marcado, aniversário
de prata, com exausto beberete e convívio levado à exaustão...
O rigor do inverno foi por
água abaixo, ainda vimos as manchas rubras do ocaso a pestanejar à noite,
felizes no sombrio regresso, antes da cegueira da Luz intensa me atingir o
olhar...
A pé e discreto, levantei
voo até ao ninho da águia, reunião rapina no coração da cidade... Cheguei com
dez minutos de jogo, a Académica aguentava o resultado, batia-se com aprumo e
personalidade, o Benfica agastado com as andanças, alterações de tempo e causas,
andava à procura da sua condição e felicidade...
Os homens de negro não
davam confiança nem espaço, apostavam no tempo e na ansiedade... O Benfica
imponha a presença, tinha posse e vontade mas não desvendava os caminhos do golo...
O Rodrigo está sem
dinâmica, não tem a agilidade do Gaitan na beira da área, não desequilibra, o
André não tem a disposição física do Enzo, pois este tinha que fazer de Matic,
à sua maneira voluntariosa mas mais precipitada...
A Académica quis poupar o
relvado e jogavam todos unidos só com a missão de não sofrer golos...
Ao intervalo abandonei o
sofrer coletivo e poisei na intimidade do lar...
No mesmo palpitar acelerado
dos ponteiros, depois de fazer a clandestina ligação da net, encontrei o jogo
já com 55 minutos ao lado dos zeros do marcador...
Indefesos a outra semana,
deitamos o visor na cabeceira e fomos seguindo as peripécias do encontro, eu e
o adepto mais novo, divididos entre a resignação e o clamor...
Saia Ola John entrava
Kardec, era preciso por jogadores de área no meio do ataque, mas os académicos
continuavam com a lição bem estudada...
Alugava-se meio campo,
briosos mas inofensivos, já se sabia que corriam o risco de não terem um final
feliz..., antigamente havia muitas histórias que acabavam assim, crescia a
ânsia encarnada e a querença coimbrã..., nós os dois quietinhos, partilhávamos
emoções...
Entraram em simultâneo o
Martins e o Gaitan, para os lugares do André e do Rodrigo, este saiu danado,
talvez com a sua fraca produção...
O Martins entrou possante
e interventivo, apesar do pouco ritmo, o Gaitan veio logo com o turbo ligado,
tentando desconcertar o adversário, abrir brechas ou furar redes...
O Ola John atira ao poste,
Kardec consegue cabecear nas alturas mas direciona mal a bola, o Melgarejo
remata quase em cima do golo, mas a bola não queria entrar…
O desespero crescia nos
adeptos, o minuto noventa ficava para trás, faltavam mais cinco minutos ou, numa
jogada de sorte, a bola acabaria por entrar como nos finais felizes dos
contos...
Uma mancha negra inundava
a área, até o Artur teve que vir quase ao grande circulo, o Luisão e o Garai
eram os primeiros atacantes, até que num raide aéreo, a bola vai cair perto da
pequena área, onde aparece o Gaitan na cara do guarda-redes, a ser puxado pelo
defesa...
Faltavam dois minutos para
acabar a partida, os jogadores da Académica tiraram o autocarro da frente da
baliza e o Lima, frente a frente, orando ao Senhor, eu, lado a lado, de mãos
dadas e a rezar, festejámos o golo, o fim mais feliz que se pode desejar...,
vitória, vitória, acabou-se a história...
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