quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Taça de Portugal: prólogo em Freamunde...

Freamunde 0:4 Benfica

Domingo de alvura fina acalorado pelo sol, germinando uma nova semana... Era dia da Senhora do Rosário, vigília pelo serão ameno, mirando a Lisboa luzidia, com o brilhante Cristo ao lado, ouvindo o melodioso mistério da voz de Teresa Salgueiro a despertar a leveza do ser...

A semana trouxe a desditosa 2ª-feira, a quentura suavizava a tortura doutro calvário, pequenos gestos e olhares foram adocicando a rotina...

As manhãs submersas na rotatividade do planeta,  clareavam lentamente, aguarelas que pincelavam os dias de Outono... As noites sucederam aos dias, horas extras para assistir ao dedo magoado, tarso que quase pôs a pré-adolescência a ruir na urgência hospitalar...

Fui ao jogo semanal, tirar esforço do corpanzil, a pensar no alívio da cruz, seduzido pela leveza da jornada tardia... E mais uma semana chegava à reta final, dobrava o Outubro, a Seleção não conseguiu quebrar o gelo russo nem reagir com proveito ao golo permaturo...

O fim-de-semana preencheu mais páginas coloridas, amanheceu ainda com a imagem das velas e esperanças reavivadas em Fátima, houve o futebol do gaiato, o começo da Catequese, rasgos de sol, que empolgavam o cinquentenário da cunhada, os preparativos para mais uma procissão, desta feita na Cova da Piedade, a mesma devoção à Senhora da Iria...

Domingo com muitas nuvens, fomos cedo para o campo, chegada anunciada com chuva, almoço denunciado pelo cheiro e aparato do tacho, cozido que reuniu à mesa uma família à portuguesa, animada com bom vinho, prendida pela conversa e festejo do meio século de vida...

E um ar fresco apelava à agilidade ou reforçava o atrito para abordar a nova semana, oferecia mais 5 viagens, com ida e volta, avatares duma saga, sem poder hibernar, pelas aventuras diárias na selva da cidade... O dedo ia sarando lentamente, a temperatura ia espreitando justificações para baixar, esperando aguaceiros, o metro espaçava as viagens nas horas de ponta, para forçar reivindicações e atrasar utentes...

3ª-feira, Portugal enxovalhado, não foi além dum empate caseiro com a Irlanda desnorte, sob forte intempérie, fraca mentalidade e apenas alguma convicção no segundo período, que não chegaram para impor o nosso estatuto...

No dia seguinte, a chuva acabou por chegar à nossa cidade, do sul, manhãzinha, para enxaguar a rua, antes do circuito citadino... O Governo parecia preso por um fio: cada vez é mais difícil moralizar a classe política e governar um país; ao contrário da América, cheia de moral, onde vemos debates de titãs...

5ª-feira, a chuva atravessou a madrugada e roubou a luz da manhã, quebrou o silêncio do Portas, mensagem digerida à cabeceira, anunciada em nome da estabilidade...

Freamunde esperava uma visita empolgante, jogo de taça, disputa aguerrida num relvado nortenho...
A chuva deu algumas tréguas, abrandou com o aceleramento da noite e do regresso a casa, passagem pela cozinha, antes do conforto e relaxamento da sala, em frente do televisor…

O Benfica alinhava com a segunda linha, o regresso do Cardozo, ao lado do Lima, as faixas com o Salvio e o Nolito, o centro com o Martins, e a retaguarda com o Matic e o Jardel, eram a espinha dorsal mais consistente, de resto a baliza estava bem entregue ao Paulo Lopes, um prémio de carreira merecido, quem sabe não possamos chegar ao Jamor, o regressado Sidnei como dupla central, as laterais entregues ao esforçado Luisinho e sólido Almeida.

O jogo descaía mais para o lado direito, o Martins fazia tombar mais a bola para este lado, aproveitando a disponibilidade do Sálvio, de tal modo foram surgindo algumas oportunidades, o Almeida também foi subindo quando podia, progressivamente a posse de bola e o pendor ofensivo foram crescendo face à passividade do Freamunde…

Nunca se vai saber ao certo onde é que começa a fragilidade de uma equipa e o ascendente da outra, mas o Benfica foi gerindo o jogo, com troca de bola, a permissividade do Freamunde e a pouca agressividade e qualidade permitiram que o Benfica se adiantasse no marcador, por volta do quarto de hora, num aproveitamento do Lima, após a marcação de um canto…

A gestão encarnada continuou, mas o segundo golo não surgia, os da casa foram conseguindo encontrar espaço, mas esbarraram perante o experimentado guardião as investidas. Quase ao cair da primeira parte, depois dos visitados enjeitarem uma oportunidade, o Paulo pontapeou para o ataque onde o Cardozo tabelou com o Lima e fez um golo de belo efeito, à entrada da área, preparando com um pé e chutando com o direito para o fundo das redes…

A segunda parte começou ao mesmo ritmo, mais estabilizado, apesar duma oportunidade para o Freamunde reentrar no jogo. O Martins cede o lugar ao Bruno, talvez já a pensar em Moscovo, e o Salvio, depois de ter feito o gosto ao pé, depois duma boa jogada no lado esquerdo, com o Luisinho na assistência, também saiu para dar lugar ao Rodrigo. Antes do findar da partida, entrou o já famoso André Gomes, o menino com bom porte e toque de bola, que não desperdiçou o momento para marcar um golo e mostrar um bom desempenho.

Até ao esgotar do tempo, houve troca de bola do Benfica, perante o desgaste físico e anímico do Freamunde, mais oportunidades foram surgindo sem um remate certeiro, e a festa, que foi colorida, terminou com o Benfica a passar, com mérito, para a seguinte eliminatória…

Nunca sabemos se o descanso é benéfico, é preciso ritmo competitivo, mas 3ª-feira é já ali, temos uma viagem para lá dos Urais, de onde era bom trazer pontos e muitoseuros, elevar a estima, quebrar o gelo, para isso temos que contar com a dedicação e a competência de todos…

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