domingo, 26 de abril de 2009

A formiga e o longo inverno!


Benfica-3-Marítimo-2

Último fim de semana do mês, cinzento, como as comemorações de um Abril distante, demasiado esfriado pelas carências sociais, uma chuva que veio com o cair da noite chorar na tão desejada liberdade os tristes e ilusórios resultados atingidos.

Assim é no futebol, estamos em constante alerta à espera dum ressurgimento glorioso que liberte a nossa ambição mas deixamo-nos abater pelo desânimo gerado por jornadas menos brilhantes ou por um resultado mais sofredor... É claro que o árbitro, esse "bode expiatório" quase que fazia abortar a tão sofrida mas vitoriosa operação, pois foi notório o seu livre e pouco criterioso arbítrio, mas ainda bem que o povo foi ruidoso o bastante, soube ser solidário com o sofredor...

Bem vistas as coisas, por todas as razões, e não só pela acção notória deste esmerado juiz, ainda bem que soubemos angariar o maior pecúlio na primeira meia hora, quando o sol estava radioso, antes que se pudesse dar pelo futebol mais largo e vistoso do adversário, pela nortada que se fez sentir e pelo forte temporal que se abateu na nossa equipa...

Claro que o futebol é certo e sabido que não é um jogo lógico, nem sempre que se joga bem a bola entra e até uma sólida barreira defensiva pode ser posta em causa por uma bola transviada, mas a sensação que fica quase sempre é a atitude e a confiança, a vontade de vencer, a aura que paira no ar. O Benfica com este onze, pela 3ª vez consecutiva, dá mostras de circular a bola com mais segurança e objectividade:
Os Centrais são rápidos
, o Nuno Gomes cumpre muito bem a função de segundo avançado, os laterais compensam muito bem a sua inadequação com uma laboriosa entrega, o Aimar protege e pauta o jogo, no centro há mais qualidade técnica, o Reys é um fora de série, mas... tudo isto é excelente, enquanto todos correm mais um pouco que os antagonistas..., enquanto o Reys está dentro do jogo, a driblar no ataque, a centrar e a recuperar o esférico..., enquanto o Martins, apesar de não estar muito confiante, for conseguindo levar a bola..., o Amorim a for distribuindo e rasgando passes como ninguém..., enquanto a equipa estiver concentrada e coesa..., enquanto soubermos evitar (ou não abalarmos) uma qualquer bola, que chega pelo ar, ir ao encontro da cabeça adversária com tanta facilidade..., enquanto o árbitro se mantiver discreto..., enquanto nós não deixarmos respirar a equipa contrária, não os deixarmos acreditar..., enquanto a jovem linha defensiva encarnada não se começar a lembrar da experiência do Luisão ou a faltar a sobriedade da posição…., enquanto não dependermos tanto de um jogador nuclear e estabilizador no meio do campo...

O Marítimo tem bons executantes, trocam bem a bola, não se fecharam em demasia, apesar de alguma falta de articulação no momento da verdade, mas o Benfica também aumentou um pouco o preesing e foi mais rápido na disputa da bola, tudo isso, aliado com obtenção fortuita do primeio golo, os índices competitivos trouxeram uma lufada de ar fresco à exibição daqueles minutos iniciais…

Mas depois, vieram as "faltas", uma cada lado da área, ao cair do pano do primeiro tempo, uma cabeçada na supremacia do Benfica, um rombo no cruzeiro que navegava em ritmo de passeio por águas calmas… E eis que que começou a soar uma brisa marítima, o vento do atlântico começou a soprar, ajudado pela nortada que se começou a fazer sentir, um leve arrefecimento nocturno, uma exibição pereclitante à medida que as ondas se iam levantando.

A matemática nunca se pode aliar com o futebol, talvez a filosofia seja a disciplina mais íntima deste atribulado jogo, nunca se pode fazer contas adiantadas, que o somatório de uma série de factores resulte num resultado esperado, também é assim na vida de todos nós, quando pensamos que temos tudo sob controlo eis que uma surpresa acontece, a areia foge-nos das mãos… Com o Benfica reaprendemos semanalmente essa máxima, somos constante e assustadoramente confrontados com a incerteza de um destino, com as emoções do momento, obrigamos o coração a dobrados esforços, consumindo adrenalina numa cavalgada por entre perigos iminentes, ora chegando destroçados ao fim das batalhas ora surgindo triunfantes e elevados a pequenos herois…

Pois se a entrada do Di Maria poderia trazer mais velocidade, a bola mais perto da área contrária, também é certo que passámos a tê-la menos no meio do terreno, sem o Cardoso, o Nuno, o Di Maria e o Reys a defenderem, a equipa mais esticada, tornava-se praticamente impossível aniquilar as partidas velozes para o ataque do Marítimo. Em função do espaço cedido, a sua ambição também foi aumentando, os nossos lateriais tiveram menos oportunidades para avançar…

Falta um jogador mais maduro no miolo, que dê mais estabilidade e menos impetuosidade, o Aimar cumpre parcialmente essa função, o Amorim e o Martins são excelentes tecnicamente, o Ruben sabe sempre ocupar a melhor posição fazer o passe mais acertado, o Carlos tem que rentabilizar mais as suas capacidades, o Maxi e o David tem sido abnegados no seu esforço aparecendo muito nas jogadas ofensivas, mas depois se a equipa não joga mais compacta, se não houver mais entreajuda na recuperação da bola, torna-se uma equipa muito jovem e muito curta para a imprevisibilidade do adversário, à mercê da qualidade infringida.

Temos que jogar sempre a um ritmo elevado, pelo menos na disputa da bola, é natural que nem sempre as coisas aconteçam pela positiva, mas também só na procura incessante e intensa é que se consegue por a bola no fundo das redes, como aconteceu no lance do primeiro golo, como aconteceu na jogada corrida, em terrenos avançados, no lance do segundo golo, e que veio a catapultar a equipa para uma boa exibição na primeira parte.

Claro que para se jogar sempre a um ritmo elevado é preciso muita confiança, é claro que essa confiança também passa por alguma segurança defensiva, mas quando se joga demasiado embalado na frente ou com uma toada mais ofensiva é natural que surjam mais oportunidades em virtude do espaço surgido. O equilibrio entre a solidez defensiva e a eficácia ofensiva é a justa medida das equipas campeãs.

Para já basta-nos ir ganhando, já que batemos outra vez na dura realidade dos parcos frutos alcançados, deprimidos por uma tamanha ambição esbarrar em tão poucos méritos conseguidos, só nos resta irmos solidificando uma estrutura, de jogadores, de gestor desportivo, de equipe técnica, acreditando nas vitórias que faltem, sempre espreitando alguns desaires, mas não embandeirando logo numa euforia desmedida se tivermos à beira, apenas festejarmos quando o árbitro soar o apito final. Temos que crescer como equipa, como adeptos, não criar demasiadas expectativas, antes apoiando, achar o justo equilibrio entre a emoção vibrante de uma vitória e a racionalidade feliz de ver o benfica vencer, ou fazer por vencer, ou tentar fazer por vencer, cada partida…

Com este mesmo Cruzeiro, com esta tripulação, vamos atracar no porto do Funchal, esperar que façamos boa figura diante do Nacional, conquistar mais uma importante vitória para estabilizar o nosso orgulho, libertar uma martirizada esperança, reerguer o nosso ideal...

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