sábado, 2 de maio de 2009

Desconsolo e resignação...


Nacional-3-Benfica-1

Com o fim de semana longo e solarengo, a revolver lembranças de verão, interrompendo uma primavera discreta em lenta simbiose com a imponente natureza, dada a poucas reclamações do homem ávido do que não têm... foi assim que surgiu o Maio, florido e irreverente, um nervosismo incontrolado num mês que até nos convida a orar, no aconchego de Maria, a evocar a divindade de Fátima e a cuidar do coração...

Com tamanha empolgação, apesar do recatado espírito que nos acompanha, víamos o campeonato a precipitar-se para as últimas jornadas, sempre na expectativa de um resultado positivo, que nos catapultasse para os lugares cimeiros da classificação, mantendo a senda de vitórias até ao final. Para mais, com o empate dos adversários, imediatamente antes e depois, havia sempre uma motivação extra para diminuir distâncias, motivo para alguma superação...

Mas o jogo começou desde logo muito lento e amorfo sem grande definição. Claro que a equipa contrária tem rubricado uma excelente época, não se deixaria envolver com muita facilidade, mas nós fomos muito pouco convictos da nossa missão, começámos sem chama, deixámo-nos levar pela toada passiva do adversário, demonstrámos pouca confiança e objectividade para procurar, desde logo, atingir os nossos propósitos e condição...

Não adianta chover no molhado, não adianta falar em esquemas tácticos, não adianta dizer que é melhor jogar com 2 pontas de lança, com o Ruben Amorim ao centro ou à direita, não adianta fazer desenhos tácticos, não adianta falar em nomes e posições, já se sabe que quando se ganha tudo foi excelentemente preparado e os jogadores desempenharam na perfeição o seu papel dentro do rectângulo de jogo e quando se perde são os defeitos que sobressaem, uma série de exibições medíocres que fazem a diferença, o deslocamento posicional ou subrendimento individual dos jogadores, a ignorância do treinador, a falta de liderança do presidente, uma equipa e um clube sem rumo…

Agora, analisando friamente o jogo, claro que o Benfica entrou sem chama, sem brio para levar de vencida a partida, pouco futebol praticado, ao invés das duas ou três partidas anteriores, mas o Nacional é uma equipa madura que soube defender, esperando pelo espaço para criar lances de perigo, jogar pacientemente à espera da nossa fragilidade defensiva…

É fácil agora apontar críticas, mas quando a inspiração e a moral, a ambição e o saber não se juntam, é difícil apresentar bom futebol, jogadas vistosas, lances na área, bolas na baliza, golos a entrar. A bola raramente chegou dentro da área, então para quê 2 pontas de lança estáticos?!...

É fácil falar de alternativas tácticas ou posições, mas não é isso realmente que interessa, o que interessa é se cada uma corre mais que o seu antagonista, se cada um tenta fazer o melhor, se o conjunto se articula da melhor maneira, se existe uma aura positiva que faça cada um brilhar, a equipa ganhar…

Claro que também eu, apesar de tudo, aponto os defeitos que detecto, depois deste desaire, mas é um problema que vem já do inicio, a falta de entrega ao jogo do Nuno e do Cardoso que pura e simplesmente desistem dos lances perdidos sem correr, a falta de um génio no miolo que saiba pautar o jogo com segurança e classe, o Luisão, mandão, que ocupe e mande na área, os dois centrais são bons mas sentem-se um pouco órfãos, demasiado crus para tão duras provas de pressão. Claro que é fácil falar num guarda-redes mais possante e com mais classe, afinal é onde a estabilidade da equipa começa, mas se o edifício não está sólido pode ruir por qualquer parte, e não se saberá exactamente onde foi que começou.

Enfim, mais uma derrota, mais um exibição deprimente
, quando os adeptos começavam a pensar que estaríamos num bom caminho, que nos estaríamos a levantar, eis que ficámos encostados de novo às cordas e nem o pontos perdidos pelos leões soubemos aproveitar. Mais um jogo que nos fez descer à terra, cairmos em nós, esfriarmos a expectativas, baixarmos a fasquia, descer a temperatura escaldante com um balde de água fria.

Na próxima semana, novamente com o último, o Trofense joga com o penúltimo na 2ª-feira, vamos tentar reconstruir outra imagem, correr atrás do prejuízo, tentar repor os níveis de confiança, mas por favor, mesmo que aconteça uma hecatombe, vamos apoiar, sem grande euforia e sem grande exigência, vamos antes construir bases para o futuro, afinal todos somos de acordo que temos um excelente plantel, mas quando se perde, é assim que se faz o balanço, pôe-se tudo em causa, falta-nos sempre um Rui Costa, neste caso um Aimar, no centro do terreno, em forma, uma equipa no seu pleno que nos dê vitórias consecutivas, pois quando se ganha é fácil substituir um titular, mas quando se perde qualquer jogador é importante, os substitutos quase nunca conseguem colmatar os mais utilizados.

Nós queremos sempre mais, somos exigentes, mas se pensarmos que existem quase uma centena de equipas com jogadores ou planteis melhores que o nosso, por essa Europa fora, apenas com a diferença do estatuto adquirido por um palmarés invejável que trazemos do passado, um número substancialmente diferente de adeptos angariados, mas o Benfica não é se não a imagem lusa da sociedade, tão depressa achamos que somos bons e ganhamos euforicamente como nos afundamos em deprimentes exibições e crises de confiança...

Temos que encarar tudo com naturalidade, mesmo pensando que nos falta alguma matéria prima, homens de fibra e génios na arte de jogar, temos que conseguir uma equipa mais coesa e unida que não seja tão falada pela comunicação social, mas que mostre mais trabalho e dignidade nas duras batalhas semanais, na conquista de cada jogo, para ganhar a guerra no final!

Nunca saberemos exactamente explicar qual é este fenómeno, o que é que estará mal, a condicionar o insucesso deste Benfica, se é a demasiada expectativa, se é a diminuta qualidade dos jogadores, se é a tensão da massa adepta, se é a fragilidade dos praticantes…

Apesar de tudo, o Verão instala-se aos poucos nesta terra, neste jardim, mas o perfume florido chegou primeiro a esta parcela no meio do oceano, onde nos deixámo-nos afundar, partiremos um pouco cabisbaixos para o continente... resta-nos pouco mais de 4 horas para conseguir deixar outra imagem, 9 pontos para amealhar... nunca saberemos o que é nos estará para acontecer: ou nos dedicamos a sério a cuidar do mês do coração, a rezar amargurados a Nossa Senhora, último refúgio de um fado que nos aprisiona, ou encaramos o Verão com um renovado optimismo, uma mentalidade para amadurecer em tempo de férias uma época mais estável para preparar...

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