domingo, 12 de abril de 2009

Depois do gelo o iceberg...


Benfica-0-Académica-1
O vento deambulou ao longo do dia, ora despercebido pela presença de alguns tímidos raios de sol, ora cúmplice duma atmosfera arrefecida e carregada de nuvens e sombras. O sangue permanecia quente pela empolgação da ida ao estádio, pela fervorosa romaria que a lenda perpetuou ali para os lados de Benfica. No calor da intensidade espiritual, sempre à espreita de assistir a um arrebatador milagre (em noite de Ressurgimento) ou receoso e expectante de coisa nenhuma ou da queda de um mito.

Chegámos cedo, pai e filho, para poder escolher um bom lugar, com farto farnel para um entardecer demorado, era preciso abastecer e preparar o corpo para a noite que se adivinhava fria. A vontade da alma atingir a glória era enorme, vislumbrar qualquer sinal de esperança no seio da Luz para reforço de uma inexplicada devoção por aquele lugar de culto.
Mas o frio não dava tréguas, a cidade meio deserta e descrente, não tinha trazido muita gente ao futebol (apesar de tudo foram cerca de 25.000), o cinzento e o silêncio começaram a apoderar-se daquela festa, as trevas surgiram derrompante, o desânimo foi espalhando-se, as bolas no ferro, a falta de sorte e de confiança, numa vigília longa, penosa e frustrante…

Tudo começou com o voo real e magnífico em volta do majestoso cenário, as ondas sonoras e vibrantes do hino benfiquista, mas tudo isto é um pouco contraditório com tão fraca exibição oferecida, a excitação do Speaker é um pouco desfazada de tão parcos golos obtidos, o espectáculo único e arrebatador da águia não tem comparação com tão pobre futebol praticado, um estádio tão grande para tão pequena ambição… é maior a romaria do que o Santo…

Fora do campo, continua a ser contraditório, por um lado os adeptos impacientes que desesperam por um passe falhado, uma jogada que mal começa, um passe para trás, quando mais do que ninguém os jogadores querem é que ela chegue à área contrária e ao fundo das redes… Dentro do campo é o contraditório da ausência duma dupla que não sabe construir (Mas o Katsouranis ocupa como ninguém o meio campo defensivo, o Yebda é incansável), por troca com o Amorim, que é unânime rende mais no miolo, e o Martins, mais técnicista, que transporta e passa melhor a bola, em suma, não foi a aposta na qualidade do meio campo que impediu o desatroso resultado.

Claro que se notou mais segurança na circulação da bola, mas falta mais rapidez e acutilância no ataque, e à mesma sofremos um golo ao meio da primeira parte no primeiro canto, primeiro remate à baliza, depois de termos desperdiçado um série de lances de perigo…

A aposta do Aimar na lateral não trouxe qualquer rentabilidade, o Aimar não sobressai, para um jogador do seu calibre, ou por défice de forma ou porque acorrentado ao esquema táctico. A dupla Cardoso e Nuno Gomes são completamente inaptos, clones desplicentes, não se tira qualquer proveito desta dupla, pelo contrário, há um elemento que falta mais atrás na manobra defensiva, uma vez que estes dois não sabem defender, ficando demasiado estáticos. Com a entrada do Di Maria a bola chegou muito mais vezes à área, e basta um atacante fixo, desde que tenha a ajuda dos restantes companheiros, haja uma dinâmica maior...

Mas não adianta só falar no desenho táctico gizado para cada partida, o que sempre vai marcar um jogo de futebol é a chama dos jogadores proporcionada pelo gaz da euforia, a moral e a confiança que a onda de apoio vai incutindo; talvez que estes adeptos frenéticamente ansiosos, os que vão ao estádio para assobiar, de lenços no bolso, os que escrevem maldicência nos jornais e nos meios de comunicação não mereçam mais do que este triste fado, eles próprios vão minando a estima dos jogadores e depois exigem resultados…

É certo que a Académica apenas defendeu, qual quandrado de gelo, teve a sorte de marcar num lance fortuito, e depois abusou da perca de tempo e do esforço defensivo, atravessou-se no caminho do Benfica, qual iceberg, para provocar o embate e a catástrofe inevitável.
Este enorme barco à deriva, não consegue acordar deste sono imenso, seguir uma Rota certa, alhear-se desta pressão sufocante, desta ânsia nervosa de conturnar uma ansiosa falange de apoio que sempre espera, e cada vez mais desespera, pela alegria adiada, por uma vida cada vez mais triste, vazia de satisfação…

Foi assim que tudo terminou, mergulhado em águas geladas, movimentos presos, correndo contra o tempo, tentando gerar algum calor, numa correria desenfreada na direcção do carro, que pai e filho, envoltos na tristeza do acontecimento, mas fortalecidos na cumplicidade da aventura, seguimos ao encontro do conforto do lar, do enlevo da restante família…. Ainda não vai ser nesta geração, que agora desponta (por mim falo), que vai deixar de haver devoção e um forte sentimento pelo Benfica, o sucesso por ora é fugaz e discreto, mas é amor que vale a pena, é a sofrer e a lutar que se conquista a glória éfemera e serena…
Os profetas da desgraça estão quase a conseguir desmoronar outro castelo, outra equipa técnica, meia dúzia de jogadores, já ninguém aguenta tanto cansaço e maldicência, nunca há tempo para semear e deixar amadurecer os frutos, deixem de ir aos Estádios, não sofram tanto, sobretudo não sejam tão ruidosos, poluentes e venenosos, não descarreguem no Benfica a amargura e a ansiedade da vida, antes sofram e amem o futebol, amem o Benfica...

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