
Benfica-2-Trofense-2
O sábado surgiu trazendo consigo um semblante muito triste para um fim de semana de Maio, o sol ainda despontou pela manhã, por entre o carregado cinzento que abafava o azul celeste, de tal modo à 1h da tarde o calor ainda se fazia sentir no Estadio da luz, não deixando antever que o tempo pudesse trazer consigo lágrimas tão intensas, um temporal tamanho que faria abater mais um pedaço de céu sobre a nossa vida.
Lentamente, a água veio em catadupa, a espaços rápidos de estios seguiam-se outros de enxurrada demorada até bem perto da hora do jogo. Por isso, a entrada para o Estádio não foi propriamente descansada, antes pelo contrário, aos repelões, como a trovoada, de avanços incertos e paragens atribuladas. Finalmente, pai e filho em sobressalto puderam sentar-se a admirar o panorama, um verde magnífico confinado no meio de um extenso manto encarnado que se estendia em redor.
Nós, lá do alto, numa profunda cumplicidade, iamos assimilando tão intenso panorama, eu, ansioso que o espectáculo corresse pelo melhor, que o Benfica marcasse mais golos, que pudesse libertar uma tão reprimida esperança, partilhar com o meu filho os festejos de uma inesquecível vitória. O pequenito, irrequieto ia escutando a agitação, absorvendo imagens, contruindo memórias, tão contrariamente inocente à minha viciada consciência, ao meu modo nervoso de comentar as jogadas...
A Vitória até começou a voar mais alto, em espiral, para gaudio dos presentes, vindo pousar em cima da aguia ferida e destroçada que permanece imóvel em cima do simbolo glorioso. Mas a fraca moldura humana espalhada em redor, não estava muito confiante e exuberante, a contrastar com o numeroso grupo de adeptos que vieram de Trofa, contaminados de euforia e dispostos a apoiar a sua equipa. Eu acho que se devia cobrar mais um suplemento para os forasteiros assitirem ao voo espectacular da Águia!
Por força da ausência do Reis, a equipa havia de sofrer algumas alterações, mas em contrapartida notavam-se com agrado os regressos do Luisão e do Aimar. O Benfica começou de igual modo, como alguns jogos a esta parte, muito lento, trocas de bola com pouco fulgor, jogadores com pouca confiança, apesar dos safanões inconsequentes do Di Maria, o Aimar era o único que ia tentando chegar à area com perigo, calma, classe e certeza, o Martins e o Amorim estão em crescendo de forma, controlavam e trocavam a bola no meio do campo, mas depois o Luisão com falta de ritmo, uma equipa destroçada, fazendo pela vida, mas demasiado presos e vulneráveis às contingências do campeonato, à pressão e à exigência dos adeptos e deste clube.
Um jogo de futebol tem destas coisas, basta que uma equipa seja combativa q.b., tenha um lance mais próximo da área contrária, e que nas bolas pelo ar sejam mais felizes ou resulte uma jogada estudada. O Benfica que teve uma posse de bola avassaladora, que até deu a volta ao resultado, num curto espaço de tempo, o que fez devolver mais um pouco de confiança e soltou mais os jogadores, simultaneamente arrefecendo os ânimos da claque contrária, viu-se de novo, atraiçoado por um lance em que a bola sobrevoo a área ao encontro das cabeças adversárias.
O Quim não fez uma defesa, foi um mero espectador dentro do campo, o árbitro Ferreira, não tem muito perfil para ser Major uma vez que não sabe impor muito respeito, ou então são traços de um português que não sabe o que foi guerra... e o meu filho impávido e não sereno ia escutando os impropérios do pai, contra o Cardoso que não corre, contra o putos da américa do sul que são muito displicentes, contra o David Luiz que já anda esgotado de jogar bem, mas também alguns aplausos para o perfume e presença do Aimar, a entrega do Maxi, a boa entrada do Balboa (até tem pinta de jogador). O Carlos Martins para mim está a começar, no fim, a afirmar-se, o Rubem Amorim é muito seguro e omnipresente... o Aimar em forma será uma excelente contratação para o ano, o resto é praticamente impossível fabricarem-se jogadores ou despontarem foras de série, no meio de tanta desilusão, no meio de tanto burburim e ansiedade, no meio de tantos resultados amargos e desmotivadores, no meio de tanta confusão...
Naqueles 3 minutos em que esteve 1-1, depois de 4m a perder, vendo a minha impaciência virou-se o meu filho para mim e disse: "ao menos não estamos a perder", não fui capaz de lhe dizer que o Benfica tem sempre que vencer, mas o mesmo ofereceu-se para pedir ao Jesus que houvesse mais um golo, e eis que acabada a oração, um milagre aconteceu com a reviravolta no resultado. Eu conto isto, não para acreditarem, mas para continuarmos a ter fé, um ano destes, espero que não sejam muitos depois, ainda voltaremos a festejar o milagre de sermos campeões!
Claro que é muito mais fácil, quando a estabilidade e a qualidade existe, o trabalho é rentabilizado, há sacrifício e entrega pela vitória, estão em causa ambições superiores; não se sente o sufoco dos jornais e dos meios audio-visuais que massacram e esperam pelo sangue para atacar sem piedade, para servir de bandeja o fracasso aos passivos leitores e ávidos espectadores, claro que é mais fácil dizer mal, claro que é mais fácil acomodarmo-nos e fecharmos os olhos para interiorizar o nosso fado, é mais fácil destroçar o coração por um amor impossível, assim vamos corroendo a nossa auto-estima, vamos ficando destroçados com tanta frustração...
Talvez que seja chegada a hora de fazer um silêncio introspectivo, de haver uma acalmia geral, não sermos tão impulsivos e sentimentais, fazermos uma cura de fervoroso adepto, controlarmos a emoção, transmitindo na mesma o nosso apoio, marcando presença, mas apenas assinalando a nossa comparência ou manifestar euforia em cada final feliz...
Foi assim, passado mais um episódio infeliz, que nos precepitámos rapidamente para fora do Estádio ao encontro da viatura, por entre a noite de um sábado de má memória, ao ritmo das pernas do baixinho, num compasso tristonho mas veloz; ao longe ainda ouvimos a monumental assobiadela no términus do jogo, antes de entrarmos definitivamente no nosso mundo, dentro do carro que nos haveria de transportar para junto do aconhego da restante família...
Um comentário:
Mesmo sem filhos...
o quanto te entendo...!
Melhores tempos virão...digo eu...já em relção ao país penso o mesmo mas...!
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