sábado, 28 de novembro de 2009

Ninguém ficou a rir nem a chorar!


Sporting 0:0 Benfica

A semana tinha começado há distância de um mês do Inverno, o meio da semana assinalou a passagem dos últimos 30 dias para a chegada do Natal, o tempo permaneceu incerto, quase sempre chuvoso, com um gradual arrefecimento da atmosfera. O aproximar do final de semana trazia consigo já o mês de Dezembro no horizonte, fosse pelo descanso que se antevinha prolongado para alguns, fosse pela reduzida distância temporal, Domingo surgia já com a 1ª semana do Advento, tempo para começarmos já a preparar a quadra natalícia, a festa mais feliz da civilização...

A bruma trouxe o Sábado cheio de secretismo, a preguiça perdeu-se naquela manhã nebulosa, e só mesmo o ecoar das vozes frenéticas das crianças me guiaram de novo para a realidade. Com a ajuda da máquina desbravei as artérias da cidade, para fazer uma última visita anual à costumada barbearia, tendo posteriormente abandonado a viatura para a habitual canseira semanal, uma corrida pelo meio da densa humidade que se espalhava pelo parque. Nem o Cristo Rei, que espreita quase sempre de soslaia a minha frequente prática desportiva, se conseguiu desenvencilhar daquela penumbra, apesar de saber que Ele permanecia lá.

Com a vinda da tarde, o sol conseguiu finalmente soltar as amarras, mostrando o vigor da sua luz, por entre os buracos rasgados num céu carregado de espessas e gigantescas nuvens, figuras monstruosas com o ventre carregado de fúria e pluviosidade. Foi com este cenário, na iminência da queda abrupta da abóboda que pairava sobre as cabeças, que a noite surgiu derrompante cheia de incerteza e ansiedade...

O derbi da cidade de Lisboa estava prestes a começar, dum lado uma equipa quase sufocada que não poderia perder o último fôlego, do outro uma equipa que tinha que vencer para continuar com grandes expectativas, manter-se no topo, pressionando ou enfraquecendo os mais directos perseguidores.

Era um jogo de emoções fortes, propício para o convívio fraternal, afinal são cores sempre presentes no seio da família, apesar de alguma efervescência sentimental, é sempre uma excelente e salutar ocasião para confraternizar.

Os representantes máximos dos clubes também quiseram aparecer com grande fair play, o árbitro apelou ao contributo positivo por parte dos responsáveis das equipas, os adeptos tiveram uma nota satisfaz e quis o resultado final ser fiel a todo este naipe de bons ingredientes para que não houvesse ninguém que se ficasse a rir nem a chorar. Claro que o Presidente leonino achou um pouco mais de piada, o Sporting não perder acabou por ser positivo mas, em abono da verdade, a haver um vencedor, tinha que ser o Benfica.

O jogo começou com uma grande intensidade por parte do Sporting, que começou logo a atacar e a correr atrás do prejuízo, nem sempre com grande qualidade de passe nem acerto no último remate, a confiança não abundava, mas o enorme grau de competetividade imposto desde logo, pelos da casa, dificultou sobremaneira a entrada no jogo por parte dos encarnados, sem espaço nem tempo para assentar e expor o seu melhor futebol. Mérito alheio, que com o decorrer do tempo fomos tentando contrariar, com mais posse de bola e jogadas mais corridas e sustentadas.

Na primeira parte, apesar da oportunidade do Polga, o futebol do Sporting era pouco esclarecido e mais ao repelão, mas também não concediam que o Benfica o fizesse de uma forma muito afoita e personalizada, apesar de tudo, de algum equilibrio, com o avançar do tempo, o Benfica começava a controlar o jogo...

Em sequência a produção de jogo e actuação conseguida na segunda metade foram suficientes para alcançar outro resultado, isto apesar do remate venenoso do Veloso, mas o terreno e a combatividade que continuou muito alta e intensa não deixou que, mesmo com jogadas mais frequentes e vistosas a chegarem à grande área verde, surgissem muitas oportunidades flagrantes nem descernimento para as concretizar.

O empenho de Javi acabaria por lhe custar o amarelo e uma cabeça partida, o azar também havia de bater à porta do Sidney que jogo muito bem, o Ramirez voltou às suas grandes exibições preenchendo o campo todo, o Aimar não teve uma noite fácil, com tanto aperto, o Saviola guardou-se mais para o 2º tempo, e o Quim mostrou que ainda tinha qualidade para disputar o lugar na selecção.

Os jogadores do Sporting, a começar pelo rato de corda Liedson, deixaram-se cair inúmeras vezes, o Proença quis manter a média de cartões por partida, mas ignorou a excessiva dureza de algumas jogadas, a mão do Polga em cima do risco da área. Claro que no computo geral, foi discreto, e o nulo não foi obra sua, antes foi um prémio para a entrega dos jogadores do Sporting, que jogaram como se da sua sobrevivência se tratasse, nem sempre acertados, mas com coragem, e o Benfica em terreno alheio não esticou a corda ao máximo mas, apesar de tudo, fez um bom jogo, e não se poderá dizer que tenha sido um mau resultado, terminou em cima e seria o vencedor mais justo, se a vitória fosse resultado de pontuação...

Claro que é fácil dizer que o Benfica tinha obrigação de ganhar, nesta fase de maior descrédito que o Sporting atravessa, mas também têm que se relevar a abnegação e o esforço dos seus atletas, que tudo fizeram para não perder e contrariar o favoristismo encarnado.

Sem ser uma partida com muita qualidade, talvez o tapete não permitisse grandes veleidades, foi bem disputada, os seus intervenientes deram tudo para conquistar os três pontos, mas todos sairam iguais, a ressureição do Leão ficou adiada, a moral da Águia não ficou beliscada, antes ficou a sensação que poderíamos ter voado um pouco mais longe, mas isso também contribuiria para o enterro do Rei Leão.

Foi já altas horas da noite, que terminou a reunião familiar, o único grito do hipiranga saiu gorado naquela jogada do Ramires no final, mas ficaram cravadas na recordação as palavras de circunstância, a alegria profunda pela partilha de emoções, a satisfação pelo tempo passado em fratena comunhão.

Mais um dia passou, outra semana ficava para trás, outra jornada nas nossas vidas, misto sofrimento e confiante abordagem e superação, assim vamos caminhando pereclitantes e inevitavelmente para um final imprevisto, mas que a nossa alma anseia feliz e cheio de ilusão.

Na 4ª-feira jogamos mais uma cartada importante, um teste à nossa capacidade futebolística e mental, porque é muito importante para o nosso vigor físico e estímulo mental, conseguir atingir, se possível já, o direito de prosseguir, com destinção, nas provas europeias. Em local adverso, temos que demonstrar que somos fortes para enfrentar adversidades e apresentar o futebol suficiente e o empenho necessário para levar de vencido o jogo na Bielorrussia.

Afinal, se conseguirmos mostrar este espírito aguerrido de hoje, com periodos mais largos de tempo com bom futebol, e mais acerto no capítulo da finalização, moldando-nos mais rápido à estratégia do adversário visando a superioridade, vamos conseguir tornar mais perto e viável o sonho do título, conciliar esta ambição desmedida com uma eufórica realidade.

Um comentário:

pinto disse...

Veja a crónica do PJ ( adepto fereveroso do Benfica )
em http://zonadesportiva.blogspot.com/2009/12/opiniao-encarnada-por-pj.html