domingo, 17 de janeiro de 2010

Nova aventura dos 5... no Funchal!








Marítimo 0:5 Benfica

O ano vai envelhecendo as nossas vidas com Janeiros, o Inverno rigoroso vai escrevendo ou relembrando memórias passadas, a terra continua rodando trimestralmemte em busca do equilíbrio e da fertilidade…

Depois do temporal a pique em terras vimaranenses, a meio da semana, a chuva foi diminuindo de irreverência e intensidade, apesar do final de semana ainda um pouco cizudo, enigmático quanto às suas reais intenções…

Ainda assim, vigiados pela impenetrável abóboda, seguimos os costumados rituais, atracamos despreocupadamente no cais para repouso duplo da exausta expedição de cinco dias pelo mar revolto do quotidiano. Reabestecemos a moral, reorganizamos os pensamentos e redefenimos trajectos e ambições...

Comecei por cuidar do corpo, aproveitando o ar fresco da mata, circulando pela natureza verdejante, serpenteando como vento, pelo circuito de manutenção, qual sublime liberdade… no cansaço final, a ofegante respiração oxigena a mente de leveza e satisfação...
O resto do Sábado foi preenchido com as semanais tarefas, acompanhando os catraios nas actividades desportivas, mimando os progenitores em troca do auxílio num pequeno gesto de gratidão, lembrando entes queridos e seus aniversários ou visitando parentes, convivendo na acalmia do porto da tranquilidade…

O Domingo, começa sempre mais tarde, desligam-se os despertadores da preocupação, os horários das Eucaristias vão-se desdobrando pela manhã e, quais nómadas, não somos fiéis apenas à nossa paroquial comunidade…
Apreciamos os diferentes lugares de culto e eloquentes pregações, buscamos sem compromisso e pretenciosismo o reencontro com Deus, deixamo-nos guiar pelo divino, admirando em simultâneo a magnificiência e a imponência do templo… sem esquecer o interlocutor mais inspirado, para crescimento da nossa fé!
Claro que em todas estas incursões pelo sagrado, existe sempre um factor de desestabilização, é dificil controlar os ímpetos dos filhos, tantos motivos de distracção, mas vamos tentando seguir o trilho, dando-lhes as mãos…

O céu permaneceu tristonho, seco e cansado do choro contínuo, fazendo das nuvens suas reféns. Assim, não foi possível ver o arco da aliança que Deus estabeleceu com os Homens, mas é tempo favorável para a compenetração, fazer pactos de confiança e relacionamento com Deus e com os outros, fazermos tudo o que Ele nos disser!
Depois de tantas imagens horríveis no meio da tragédia haitiana, percebemos o quão circunspecto é o nosso olhar, o quanto restricta e complexada é a nossa interactividade com o próximo, quinada de orgulhos e preconceitos…

Mas este Domigo cinzento, abençoado e jubiloso, haveria ainda de oferecer uma inesperada actividade de lazer, um momento de alto de cultura e espiritualidade. Assistimos à magnífica peça de teatro, protoganizada pela companhia de teatro de Almada, com variados actores conceituados, que levaram à cena “A Mãe”, de Bertolt Brecht. Retratava a dura travessia social passada no início do séc XIX, na Russia Czarista e totalitária, numa crescente e envolvente história real, tomada de consciência e cumplicidade com a revolução, em que se viram envolvidos os operários daquela época, com particular incidência na vida de miséria duma humilde viúva e seu filho, que com o passar dos anos se tornaria numa activa e influente partidária de uma nova utopia para aquela sociedade.

Com este espisódio, aprendemos que é mais fácil acomodarmo-nos à política vigente do que lutar firme e tenazmente pelos ideais, mas quem se aventura audaciosa e genuínamente por um sonho ou aspiração, mesmo preso ou encontrando a morte numa qualquer bala do destino, realiza nesse gesto e atitude a mais gratificante das missões humanas. A Mãe, mesmo depois de desprovida do amor e presença física do seu filho, sentiu-se determinada e feliz, mais do que nunca sentiu na cumplicidade de uma causa comum, uma eterna felicidade…

Depois da comoção, não são ocupações lúdicas muito banais no nosso trajecto de ensinamento e educação, as horas entraram pela noite, aproximava-se muito rapidamente o jogo do Benfica, o verdadeiro momento de êxtase da minha vulgar carreira cultural, motivo para tanta incontrolada emoção… Passámos pelo espaço de baby-siter contratado, tudo a custo zero, a família é para isto que serve, repartem-se agradecimentos, afinal o convívio é salutar, e voamos para casa, cheios de leveza no ser, começando lentamente a descer à terra, à medida que crescia o receio do Benfica não estar numa boa noite e tudo em começar outra vez a desmoronar…

O orçamento lá de casa também teve que passar por negociações antes de ser aprovado, a Sporttv foi parte da cedência para alcançar um mais estruturado equilibrio e só me restava visualizar o jogo através da rede sem fios, no meu companheiro inseparável chamado computador. Abri e fechei janelas, pesquisei e cliquei links, os minutos do relógio no canto inferior esquerdo não ligavam aos toques das teclas nem à espera do retorno dum sinal, no meio do desespero e da tortura lancei-me derrompante para os botões do rádio, para saber notícias, saber o que se passava lá longe no Funchal.

O nervosismo não acalmou, com o relato da fraca produtividade do Benfica e da superioridade do Marítimo mas, finalmente, quase em simultâneo com a chegada das primeiras imagens, pois que de vídeo tinha muito pouco, surge o golo do Saviola, por volta meia hora, e numa reviravolta alucinante, segue-se a expulsão e o 2º golo doMaxi que quase atirou por terra toda e qualquer ambição caseira. Ao cair do pano do intervalo, com todo aquele inesperado golpe de teatro, surge o goleador Cardozo a facturar mais um golo para a sua contabilidade.

Mudou aos 3, mas não haveria de acabar aos seis, pois que as balizas até nem pareciam pequenasmas a excitação era muita, o bichinho já está entranhado no sangue, já não consigo passar, sem ver o Benfica na Tv, e eu juro que fiz um penoso esforço, e a vitória para mim já bastava, se fosse inevitável enfrentar a abstinência...

Mas o meu ideal fez-me sair de casa, e fui encontrar-me com os camaradas de armas, os que amam o Benfica, o povo que anseia pela sua libertação, pelo título de campeão no final desta ardua caminhada…

Fui beber café, portador de alguns panfletos que fazem alusão à conquista do campeonato, pelo Benfica, juntei-me despercebido no oculto da multidão, contribuindo para dinamizar esta onda crescente de entusiasmo e rebelião, misturei-me com o povo, essa imensa classe operária, desejosa de reinvendicar os seus direitos, como em todas as épocas, gritar bem alto: “o Benfica é campeão”.
Claro que do jogo poderei dizer muito pouco, o écran estava distante mas, com tão avolumado resultado já não importava tanta precisão, não se torna necessário esmioçar todas as evidências, analisar os lances em camara lenta, eventuais erros ou humana indecisão…

O Braga não mostra fraquezas, obreamos na liderança, mais distantes do terceiro, à espera do tropeção ou do tombo arsenalista, para nos destacarmos definitivamente na liderança...

Força Benfica!

2 comentários:

sloml disse...

Nunca comentei, mas sigo os seus posts desde há vários meses e leio-os a todos. Este, como sempre, é mais uma obra prima de literatura. Os meus parabéns.

Off-topic: Para quem não chegou ainda a ver o documentário "Ser Benfiquista" que passou na ESPN, dêem um salto aqui ao meu cantinho e leiam este post:

http://gloriosachamaimensa.blogspot.com/2010/01/documentario-que-passou-na-espn-canal.html

Peço desculpa pela publicidade, mas acho que vale a pena!

Blog X disse...

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