sábado, 30 de janeiro de 2010

O Conquistador chegou a Lisboa!





Benfica 3:1 Guimarães

A luz do sol voltou a empoleirar-se nos telhados, deslizando suavemente pelo frio betão das fachadas dos altos condomínios, visitando manhãzinha o bulício das congestionadas vias da cidade, clareando o olhar e aquecendo o coração…


No fastidioso quotidiano matinal, avistamos da periferia, o brilho solar da cidade prazenteira que vai descendo pela colina, do alto do Cristo acolhedor, de braços abertos, abençoando o vale dourado por onde começamos o dia…

Foi com este cenário resplandecente que a semana foi avançando, a última do primeiro mês, da nova década, com os itinerários e costumes habituais, a primeira paragem para deixar os instruendos à mercê do mestre-escola, a segunda para largar os passageiros nos respectivos locais de trabalho…
Enquanto os primeiros vão aprendendo as letras e a história, os mais velhos pôem-se ao serviço da comunidade, no aquecimento interior, com as imagens solaregas que se avistam da janela, confortados pela comodidade e pelo bem prestado…

Com o findar da semana, as névoas foram surgindo no horizonte, desafiando o sol, de mãos dadas reconquistaram o celeste azul, mas não tiveram a força suficiente para esmorecer em demasia a atmosfera ou fazer chorar o céu…
Foi com este bucólico quadro da natureza, no fim de Janeiro, que saí para a rua para enfrentar mais um fim de semana, em vez de ficar à esperar da luz amarela ou que os dias passem por mim.

É a altura para as reuniões anuais dos Condomínios ou das Associações: apresentar contas e dar a conhecer todas as actividades. Logo depois do burocrático agrupamento, seguiu-se a hora do atletismo no ecológico parque das redondezas. Voei como as livres gaivotas que planam sobre o pequeno lago, nadei como os patos e gansos no fresco das águas ou procurei alimento no viçoso verde em redor, serpentendo pelo delimitado carreiro entre plátanos, de troncos nus e amarelecidos e pinheiros verdejantes, aquii e acolá erguem-se harmónicas construções de pedra que convidam ao lazer e recreio. O Cristo continuava altaneiro, ao cimo da muralha do casario que o circundava em redor.

A tarde continou com actividades desportivas, desta vez com um grande treino de futsal, num ringue ao ar livre, a fazer lembrar os velhos tempos, dos grandes torneios ou esporádicas partidas de arreigada competição. Desta feita, a três, qual enferrujado treinador, incentivando os pupilos para a prática da modalidade, aliando o saudável com o esforço e a diversão. É preciso sair do sofá, largar a consola e o teclado, dar uns pontapés na monotonia e na morbida mobilização.

Seguiu-se a prova de natação, com a travessia das pistas aquáticas do Benfica, uma visita para reconhecimento do ambiente que se fazia sentir no complexo da Luz, e o regresso ligeiro, para garantir um lugar em frente do panorâmico televisor, pois o trabalho já apalavrado, atraiçou uma derradeira tentativa de assistir ao vivo; em alternativa, com alguma antecedência fez-se a reserva, com direito a jantar, em frente do gigante televisor, numa ampla sala familiar...

O convívio entre parentes, a vista priviligiada para o écran, o descontraido ambiente que se fez sentir, foram um excelente pronúncio para aquele forte relacionamento e para a partida que se iria visualizar. Apesar do anfitreão ser leão, do sobrenatural vespertino e do sapo que não conseguiram transformar em príncipe, afinal, a solidez e a confiança bracarense fizeram a diferença, não fora o cisco no olho do Liedson no momento do remate à baliza ou o cabelo nos olhos do Veloso (por causa do novo penteado) no momento em que resolveu tirar a bola ao Paulo César.

Ainda antes do jogo da noite, vimos que o Machado, lá na Choupana do engenheiro e das ponchas, regressou em excelente forma, num saudozo discurso carregado de ironia e inimizades, mas afinal a eloquente explicação para a perda, teve alguma razão de ser, a dualidade nos penalties e a duvidosa expulsão… mas, não se pode ter tudo, o dinheiro dos negócios, o estádio remodelado, o ídolo com pés de barro ao lado e o resultado no futebol, talvez mesmo só no FIFA 10, provavelmente um dos melhores jogos de vídeo!

Com tudo isto crescia de emoção e importância o jogo de Lisboa. Na Capital, estava tudo a postos, na margem sul também, os pratos recheados, a boa companhia, qual restaurante com vista para o relvado da Catedral. Desde logo o Benfica entrou confiante, mandador, empolgado, o Guimarães, um pouco cinzento, o mesmo guardião, com a armada defensiva, ao contrário da estratégia do antepassado conquistador, à espera de desferir o golpe fatal, na expectativa de repetir um dos últimos resultados.

Mas o grande Aimar, haveria de aparecer, num lance de génio, toda a equipa mostrava impenho e confiança… mas o futebol é fertil em contrariar lógicas, qualquer lance fortuito pode transformar-se em excepção à regra da estatítistica. O Benfica universal e glorioso, de uma família imensa e sentimental é também de antigos jogadores revoltados ou mal amados, que tudo fazem para regressar e vingar o seu orgulho pessoal. O Assis até nem foi bem o caso, evoluiu no Benfica, foi campeão com o Quim, o Luisão…, mas parece que tem especial gosto em marcar ao Benfica e conseguir uma boa exibição… e a primeira parte terminou com o Helmano a dividir cartões, entre faltas maiores e menores, em Portugal recorre-se muito à simulação, as novas tecnologias se pudessem medir a intensidade, recorrendo ao movimento e lei da física, metade dos lances não eram marcados, mas os jogadores moldam-se ao critério dos arbitros, muitos se calhar nem jogaram ou não davam para o futebol…

A segunda parte não podia começar da melhor maneira, com a sobremesa perfilada, eis que surgiu o golo da vantagem, depois dum magnífico remate do Carlos Martins. O jogo foi seguindo a bom ritmo, o Guimarães mais afoito, motivou-se para procurar nova igualdade, e o espectáculo só ficou a ganhar.

E foi assim que surgiu o lance do jogo, um remate do meio da rua, indefensável, um dos melhores golos do campeonato, corolário de uma magnífica exibição, comprovativa do bom nível que o Carlos Martins atravessa. Claro que deve resfriar os protestos incontrolados, a sua impetuosidade tem que ser direccionada para arte de bem jogar, abstraindo-se da arbitragem e concentrando-se exclusivamente no futebol.

E foi com um jogo amplo, a toda a largura que o Cardozo ficou isolado, correndo do meio campo até à grande área contrária e teve o ensejo de marcar mais um golo, mas, algo lento e perdulário, hoje não era dia para marcar, não esteve especialmente inspirado.

O Saviola esteve ao seu melhor nível, o Di Maria não conseguiu tirar da cartola a sua irreverência e criatividade, o Fábio esteve coeso e cumpriu em pleno, o Luisão é o porta standart da equipa, e todos estiveram a uma boa prestação: os campeões fazem-se pela entrega e solidariedade, pelo trabalho colectivo, nuns jogos com melhores exibições individuais ou rasgos particulares, noutros, com uma grande entreajuda ou lances de levantar os estádios, mas são tudo ingredientes que fazem falta para conseguir a melhor receita, com vista à confecção do prato divinal: Campeão à moda do Benfica…

Está a aproximar-se o combate final, a 13 Rounds, todos os pontos e demonstrações de fraqueza são importantes, afinal, nem o Sporting amanda a toalha ao chão, pelo menos evitam o assunto, pois que o sentimento é geral; o Porto, vem a correr por fora, mas não se pode esquecer que terá de ganhar todos os jogos, inclusive ao Braga… Nós, temos que continuar a acreditar e a afluir em massa ao estádio, já nesta 4ª-feira para, numa grande corrente de fé e apoio, de mãos dadas, ao colo, como quer que seja, ajudarmos a equipa a levar de vencida o Leiria, passarmos para a frente à condição, continuar a nossa luta…
Ninguém para o Benfica, olé!

2 comentários:

Anônimo disse...

Belíssimo texto! Parabéns!
Carrega Benfica!

Viriato de Viseu disse...

Soberba prosa!!!
Assim se ama também com poesia o nosso GLORIOSO!!!