domingo, 19 de setembro de 2010

Curado o orgulho... vamos ganhar asas!





Benfica 2:0 Sporting

Animados pela vitória na Europa, apesar da prestação não ter deslumbrado, recuperada alguma crença, este jogo contra o eterno rival de Lisboa, era o tudo ou nada para reverter as tímidas pretensões que temos evidenciado na defesa do título nacional...

Desde aí, a semana manteve-se escaldante, o ritmo laboral foi desgastando as lembranças de lazer, os horários foram acentuando a costumada rotina, marcada pelo cumprimento pontual das crianças na escola, agora separados fisicamente, alargando o repetido circuito matinal, também nos estudos a amplitude das exigências académicas, irá exigir mais atenção e disponibilidade, mas tempo é que não há-de faltar!

Com o sábado, nasciam os ultimos dias da estação, mas vinha igualmente outra anual ocasião, que era preciso festejar, o alcance de mais um ano de vida. Para tal reservou-se banquete em família, depois da manhã desportiva. O clima persistiu imperturbado até à inevitabilidade do ocaso, no dado momento que outra pequena reunião de familiares, assinalava a data comemorativa, deste importante nascer.
A noite estava agradável, num telheiro campestre, observatório lunar, mesmo que as trevas adiantadas fossem resfriando a alegria inicial, dando vivas a um novo ano, antes do recolhimento noctívago geral.

O Domingo, ia ser extenso, até ao tombar da noite lisboeta, então era preciso apurar a forma física para suportar o embate. Depois de uma longa ausência, reencontrei a natureza campestre da mata, fazendo o reconhecimento do circuito de manutenção, passando pelo arboredo, já em fase de declínio, revelando esbatidas tonalidades na ostentação.

Fui ao Hospital para visitar e abraçar o pai, dar-lhe alento e a sopa, a higiene facial, com aroma de colónia, a sobremesa predilecta e o conforto habitual. A tarde acelarou o passo, no sombreiro da sala, fizemos do sofá a rede do repouso, com vista sobre as vistas da televisão, minutos de quebranto, sustento e ânimo do corpo sintonizado com a temperança da mente.

E eis que na escuridão derrompante, sobressaiu a televisão cintilante, e o assento defronte, não se fez para outra coisa, eu não me fiz hesitante, de corpo e alma atirei-me para cima, à espera que as imagens vibrantes, de um estádio composto de adeptos palpitantes, ansiosos, como eu, por ver o Benfica vencedor...

O jogo começou dividido, talvez o Sporting com mais bola, os tais 5% que sempre conseguiram manter até final, mas o Benfica, em rápidos ataques, foi criando lances flagrantes, com alguma frequência. Até que num lance de insistência, no seguimento de um centro, Cardoso empurrou para o fundo das redes, num minuto que muitos reclamam de sorte…

A partir daí, conseguimos ter mais equilibrio mental, afinal, em quase todos os jogos, nos que saimos derrotados, mesmo não jogando superiormente, nem que antes tivéssemos feito algo por merecer vantagem, acabaríamos sempre por sofrer, em fases marcantes…

Neste jogo, tivémos nós essa estrela, que tanto tem andado arredada, que tanto tem minado a confiança dos jogadores, fragilizado a moral colectiva. Na verdade é muito fácil fazer desmoronar um imponente edifício ou estrutura mental, o difícil é a lenta reconstrução arquitectonica e o reencontro com a harmoniosa estabilidade psicológica.

Graças a Jesus, o treinador ou ao divino, este jogo serviu de metamorfose, a galvanização que este golo acrescentou à equipa, a entrega e a disponibilidade em crescendo, o espírito mais forte de entreajuda, vieram ao de cima, apesar da replica adversária…
Todavia, não foi ainda um jogo brilhante, muito veloz, mas deu para restaurar um pouco mais de confiança, os níveis físicos aumentaram; quando se ganha, existe um maior empenho, e houve uma pressão maior na conquista da bola, na conservação do resultado, na procura de uma maior vantagem.

Enquanto todos se aplicam é mais fácil segurar as investidas contrárias, quando a bola se recupera mais à frente também se torna mais favorável criar jogadas de golo. O Aimar, continuou a ser dos mais intervenientes, a ver se não se ressentiu já disso, mas a maioria dos jogadores já subiram de forma e rendimento: o Martins está mais compensado, o Saviola está a começar a aparecer, o Fabio continua com uma rotação alucinante, o Roberto saiu-se bem na fotogenia, o Amorim tem que jogar mais para ficar mais consistente, pois num lance entregou o ouro ao Liedson, mas este não estava muito bandido, o Javi, apesar de condicionado pelo amarelo cedo fez uma excelente partida. Até o Jesus parece estar a querer carborar, mas pelo seguro ainda pôs o ferrolho Airton no meio para consolidar a defesa, e como ele próprio disse no final: não faz milagres; o Cardozo mostrou o seu instinto goleador, apesar de falhar outras oportunidades, esforçou-se mais no papel defensivo, e tal como ele também disse, estão todos a começar a levantar a cabeça, depois de um tamanho espalhanço ao comprido, digo eu, do soco que a derrota da Supertaça, provocou neste gigante…

Com duas vitórias consecutivas, a conquista ao eterno rival, e o retirar de motivação aos outros, ferrenhos, oponentes, que estão sempre obsecados com a nossa prestação, o facto de não termos sofrido qualquer golo, penso que vem estabilizar mais a equipa, consolidar processos, equilibrar mentalmente os jogadores, incentivar mais a dinâmica e a confiança colectiva, contagiar os adeptos...

Depois do enlevo da noite, do sonho que vai ganhando asas, o alvor da claridade vai empurra-nos de novo para mais uma semana de trabalho e escola, a meio vamos despedir-nos do Verão e acolher com abraços de ternura o tempo morno e o horizonte cambiante que nos vem preparar lentamente para mais uma hibernação...

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