sábado, 25 de setembro de 2010

Vitória magra, gorda a importância!




Marítimo 0:1 Benfica

Eis, num ápice, passada mais uma semana, encerrado mais um capítulo do livro anual, desfolhada com toda a circunstância, a página que assinala a vinda de mais um Outono. Miragens nubladas vão povoando o horizonte, vento que vai acicatando a rebelião da folhagem, aproveitando a ténua luz que vem esvanecer o vigor. O cerco vai tardando o amanhecer e precipita o repentino ofuscamento do sol, ora rendido à passagem mais possante das névoas ou ao natural encurtamento do dia…

Neste gradual arrefecimento da atmosfera, nesta lenta mutação da natureza, vamos aproveitando cada raio de sol, as poucas horas do dia, quais fins-de-semana fulminantes, absorvidos pela rotina e pelas contrariedades da vida…

As memórias do Verão, vão ficando cada vez mais esquecidas  no denso livro, folheado depois das férias, de tal forma o Sábado foi encarado com todo o entusiasmo, desperto pela tímida claridade solar. Depois do desporto, para cansar fisicamente a criançada e combater o ócio das horas em frente do televisor, chegou o saboroso almoço caseiro, respeitando o mais requintado ritual.

O Benfica ia jogar ao entardecer, a minha alma mergulhava em mar tranquilo, misto de ansiedade e vibrantes sensações, pelo menos até chegarem as imagens da Ilha da Madeira. Mas, pelo meio, ainda tive que contornar o alheamento e a falta de convicção dos pequenos estudantes, na realização das tarefas escolares. Fiz a habitual visita às instalações hospitalares, para visitar, com respeito e carinho, o débil progenitor, e aproveitei  para acompanhar o descendente à urgência médica, com uma pequena inflamação no antebraço.

Com tudo isto, estava prestes a ligação ao Funchal, na televisão da sala de espera, quando nos chamaram no intercomunicador ao gabinete do doutor. Depois da opinião minunciosa e especializada, antes de correr em direcção da viatura, ainda fui espreitar a tv referenciada, o visor anunciava quase 10 minutos de jogo e a nulidade do marcador. Retomei o acompanhamento pela rádio e o relator só falava em lances do Benfica. Outra paragem, mais adiante, para aviar os fármacos e mais um pedaço do relato com pendor encarnado...

No interior da casa, já noite escura, fui quarto adentro, a sala estava invadida por um nómada habitante viciado no jogo, abeirei-me do televisor, recostado, qual descanso e visão privilegiada, em porto seguro, depois da revolta azáfama anterior, para assistir ao resto da partida...

A primeira parte aproximava-se do fim, apesar do Benfica estar, aparentemente a dominar, o Marítimo poderia a qualquer instante tornar-se ameaçador. O Saviola tentava balancear a equipa para dentro da área, o Martins tentava impor-se no centro, fazer passes rasgados, como tão bem sabe fazer, o Gaitan tentava afirmar-se, mas, no momento crucial, ainda não conseguiu acertar, qual tónico moralizador. Do outro lado, os da casa, também tentavam surpreender. Foi então que apareceu o Roberto, já salvador, o Luisão todo o poderoso, a comandar a defesa, baluarte de um batalhão invencível.
A segunda metade, depois da ceia familiar, só começou 5 minutos mais tarde, no exacto segundo em que liguei o televisor e o Cardozo poderia estar a festejar o golo, em vez da recarga com a cabeça, que o defesa acabaria por, facilmente, aliviar. Mas, o Fabio Coentrão, um dos que não perdeu qualquer esplendor, ao contrário, cada vez mais refinando e exuberante nas suas prestações, fez brilhar as estrelas com a sua intervenção.
Numa jogada ofereceu o golo ao Cardozo, mas este rejeitou tamanha dedicação, noutra, assegurou ele mesmo, depois de uma recepção majestosa, à entrada da área, que a bola haveria mesmo de entrar, num remate convicto, cheio de técnica e primor. Nas declarações finais ainda estava nas nuvens!

O Marítimo, apesar de tudo, não quebrou animicamente, pois, quando as oportunidades não se concretizam, alimentam sempre a esperança do opositor. Mas mesmo assim, o Benfica tentava esticar o jogo, segurar a bola, chegar antes do adversário, mas não estava fácil, conseguir o empenho e a entrega, aliados da frescura física e mental, outrora demonstrados.

Com a saída do Saviola e do Martins, ficaram a faltar referências sólidas, unidades experientes que soubessem segurar o jogo, ler as evidências da partida, fazer uso de todo o saber; o Salvio, o Jara e o Gaitan, são jogadores com categoria, mas que ainda estão numa fase de afirmação e crescimento, precisam de estar apoiados por um plantel mais dinâmico e entrosado, que os liberte de tanta responsabilidade.

E porque gostamos de sofrer (ainda que nos últimos anos tenhamos goleado) ou porque os níveis de confiança ou físicos, intimamente ligados, ainda não estejam no ponto ideal, o Jesus pôs novamente o Airton, ainda a ganhar pedalada, para assegurar que o resultado já não iria sofrer alterações.

Pela noite, enquanto os pardalitos adormeciam extenuados no ninho, a mãe repousava as asas protectoras, cansadas de tanta devoção maternal, o pai, vigilante das suas crias, quedas no enlevo da noite, foi escrever estas singelas linhas, antes de coroar a noite com aquele conforto familiar, ceder ao cansaço e aos sonhos de amor…

O Domingo, vai ser maravilhoso, qual dia de descanso, depois da magnífica obra do Senhor, oração matinal que alimente a alma, corpo que siga o encalce da luz, uma vida com sentido, iluminada pela vontade divina que vai moldando o nosso ser…

Depois de duas vitórias para a Liga, três consecutivas, o embate de 4ª-feira vai ser importante, uma prova de fogo que é preciso superar. Os jogadores tem que assumir esse desafio, tomar as rédeas da convicção, atingir a plenitude do esforço, o controlo emocional, mostrar que querem mesmo ganhar, para despoletar novas alegrias, prosseguir no caminho da Europa, ganhar alento para a prova nacional…

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