quarta-feira, 29 de setembro de 2010

A noite foi mesmo de Outono!




Schalke04 2:0 Benfica

A semana, que era suposto trazer já consigo, as vestes de outono, foi desfilando ainda com os tons fulgentes do sol, apesar da labuta constante no desfalecimento da natureza e encurtamento da claridade, a luminosidade intensa ainda vai desbravando os dias, contrariando a preguiça e o desânimo, pelo menos até que o Outubro chegue imponente, disposto a impressionar…

A semana já ia na sua fase descendente, com os olhos postos no calendário, que anunciava outro mês quase a chegar, comemorava-se o dia dos Arcanjos do Senhor; e eu mais confiante, que isso me desse alento, que ajudasse o Benfica, num mês de datas memoráveis, a conseguir ganhar…

Tal como o tempo, também a crise está a apertar, com a notícia sínica e penosa, anunciada naquela noite, mesmo que não lhe tivesse dado impacto, demasiado concentrado no jogo de outro televisor, fica a impressão que são sempre os mesmos a pagar a factura do individamento: corta-se no ordenado, aumentam-se os impostos, congelam-se as pensões, e a receita estatal aumenta; mas porque é que não se reduzem as regalias e ostentações, reformas chorudas e outras gratificações, na máquina descomunal do estado?! É mais fácil aceitar que uma fábrica feche e o lento desmoronar das famílias…

Enquanto a crise não nos atinge, apesar das dificuldades, temos todos que reaprender a viver, com restrições e privações, a exemplo dos ascendentes que todo fizeram para nos sustentar, dando o melhor, mas sem o consumismo que desgraça a actual sociedade; o jogo do Benfica funcionava, até por isso, como uma reconfortante terapia para nos ajudar a esquecer todas as convulsões...

Depois do trabalho, chegados pelo entardecer, depois dos contratempos e actividades extra curriculares, o sofá esperava por mim, o televisor já indicava o cronometro a andar, e eu duvido que alguém me conseguisse desviar o olhar, mover daquela posição, só mesmo a suplica ajuda do banho ou o rápido pedido de explicação no estudo, reclamadas pelos filhos, de resto, o jantar tinha tempo, nem só de pão vive o homem, os laços de ternura ficavam para outra oportunidade…

A equipa entrou no jogo com atitude, os jogadores empenhados em conseguir um bom resultado, pois só lutando e procurando conquistar a vitória se consegue alcançar um final positivo. Mas o ambiente era escaldante, os jogadores da casa fortes e rotinados, e o Benfica deste ano, ainda não estava suficientemente estável ao nível mental, depois da falsa partida e dos desaires no começo da época.

Apesar de tudo, a primeira parte, o impeto e a entrega foram suficientes para manter o nulo, a posse de bola dividida, esporádico ascendente, mesmo que a melhor chance tivesse sido desperdiçada pelo Shalk, mostrámos alguma personalidade e acutilância em toda a primeira parte da partida.

Quando uma equipa perde não se pode estar sempre a apontar erros individuais ou atribuir culpas particulares, mesmo que seja uma escorregadela que resulte em golo, porque se fossemos contabilizar as oportunidades perdidas pelos atacantes, ou falhas de passes, também a história era preciso ser recontada…

O que eu quero dizer é que apesar do colectivo não estar na sua plenitude, e a culpa é sempre da dinâmica ou determinação que se consegue evidenciar no seu todo, claro que existem sempro unidades mais vulneraveis e que contribuem para esse descalabro:
O Maxi não está tão rotativo e esclarecido, subiu raras vezes e (ainda) não apareceu como é seu apanágio. O César é experiente mas ainda não conseguiu ganhar a confiança suficiente para estar num bom nível, as suas entradas e exibições não tem convencido totalmente, o Cardozo, foi (outra vez) uma unidade muito apagada, que não se sacrifica muito em prol da equipa, como nestes jogos se exige, a sua acção estará sempre dependente do caudal ofensivo, mas o Saviola também não esteve particularmente inspirado para carregar com a equipa às costas. O Salvio não deveria ser atirado às feras, desta maneira, está muito frágil na disputa da bola e ainda não se conseguiu impor. O Martins patentou alguma classe mas tem que ser muito mais combativo e resistente, evitar ir demasiadas vezes ao chão. Os centrais e o Fábio foram os mais interventivos, o Roberto está ileso de culpas, o Javi também demonstrou presença e foi bravo no meio do campo, entre diversos adversários.

Em suma, nestes jogos tem que se estar sempre em alta voltagem, não se pode tirar o pé do acelarador, a aplicação tem que ser total e continuada, e o Benfica apareceu na segunda parte mais conformado, os niveis de auto confiança ainda não estavam bem calibrados para aguentar tamanho embate e deixamo-nos, mais uma vez, abater.

Até tivemos mais posse de bola, talvez consentida pelo Schalke, que  jogava mais na expectativa, explorando o contra ataque; depois não podemos construir umas jogadas após outras, ou irmos tantas vezes à area contrária sem que consigamos marcar. O Jesus não pode insistir tanto no Cardozo, quando é necessário um jogador mais útil e volante para as características destes jogos, em que a equipa não consegue balancear no ataque com a frequência e o descernimento consentâneos com a sua estática produtividade.

O próximo jogo, em Lyon, contra uma equipa bastante calejada nesta Liga, apesar da conturbação interna (também o Shalk estava menos bem), vai ser, outra vez, extremamente dificil, vai requerer ainda mais entrega e sacífício por parte dos jogadores, vai estar em disputa com um adversário directo, não podemos permitir que fiquem por cima. O ambiente vai ser empolgante mas o Benfica tem que rapidamente ultrapassar o fantasma que assola a sua propria sombra, tem que acreditar que é possível dar a volta, que é possível ganhar, para o merecermos e sermos abençoados com a estrela da sorte.

Como eu disse, a entrega, pelo menos em grande parte do jogo, foi positiva, mas não foi suficiente, é preciso ainda lutar mais, não baixar os braços, continuar a acreditar. Os festejos exuberantes do primeiro golo, quase com um quarto-de-hora para o fim, demonstram que foi difícil chegar à vantagem, e nós ainda não temos a força mental para conseguir reagir, com tão pouca moralização...

No Domingo, vamos ter um bom jogo para levantar a cabeça, ambos desmoralizados pela derrota europeia, é um bom teste para conseguir digerir e superar mais esta mágoa, para cobrar a factura deste infortunio, seguir em frente, com uma vitória..., claro que só à custa de muito trabalho e dedicação, será exequível dar esse passo em frente, na credebilização da equipa, na crença dos jogadores e no entusiasmo dos adeptos.  Eu irei lá estar para dar uma ajudinha, se Deus quiser!

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