quarta-feira, 20 de outubro de 2010
Não superámos a revolução!
Lyon 2:0 Benfica
A semana começou com um sorriso dourado, no tímido azul celestial, dum Outono resplandecente. Nas tardias manhãs, rompidas pelo sol, a claridade desce mansinho os predios mais vistosos, reflectindo o casario, mais adiante, estendido na colina, sobranceira ao Cristo-Rei.
Nós seguimos, no lento trafego, ao encontro das escolas e dos trabalhos, aquecidos pela luminosidade, embora um pouco entristecidos pelas contrariedades que assolam os progenitores, pelo absorvimento do quotidiano...
No escasso luzidio, tomamos várias direcções, acudimos a varios pontos da cidade, para retribuir o carinho recebido na vida, disputando o tempo do almoço, adiando o recolhimento caseiro...
Foi com este quadro, duma cidade intensa, pintada com as tonalidades outonais, que enfrentamos as amarguras humanas, agarrados à vitalidade e entusiasmo dos filhos, aos momentos de lazer. Terça-feira, trazia para além disto, alguma excitação, era dia do Benfica jogar, uma partida importante para se manter entre os campeões, motivo suficiente para desviar a orbitra de atenção, fugir da zona de impacto da rotina, fazer algumas manobras de diversão…
Mas não foi fácil chegar a casa a tempo e horas, contrariar tarefas e obrigações, cumprimento de deveres, contornar a assistência familiar, e o jogo havia de chegar pelo som das colunas do automovel. Apesar de alguma tranquilidade, pela fase ascendente do Benfica, o frenético relato fez despertar a angústia de não ser ainda o suficiente…
No entanto, o zero a zero foi mantendo a expectativa, até à chegada perto do televisor. A partida já ia quase no primeiro quarto de hora, e as imagens vieram devolver serenidade, o vermelho enchia o campo, jogava de peito aberto, com muito empolgamento e confiança. Os jogadores corriam, circulavam a bola, mesmo que a firmeza no passe e a fluidez das jogadas ainda denotassem alguma aparente instabilidade.
Ou então porque o Lyon é bastante competitivo, anda nesta lide dos Campeões há anos a fio, tem jogadores experientes, jogava no seu reduto, ia contrariandoo nosso empenho e desembaraço, procurando um deslize, a todo o momento contra atacar. E havia de ser o Martins, no seu auge de forma, agora com estatuto de selecção, mais possante e a aparecer no jogo, a entregar o ouro ao bandido. Já na jogada anterior a bola ia entrando, depois de uma perca de bola, mas havia de ser à segunda, quase contra a corrente, que o ânimo descambou e sofreu um forte abalo.
Apesar de tudo, a equipa continuou a querer disputar o jogo, procurar outro resultado, com a equipa a lutar bravamente, mesmo que faltasse quase sempre mais acutilância e creatividade na dianteira, com o Kardec demasiado sozinho, o Saviola não está a conseguir sobressair, e as entradas do Gaitan, do Aimar e do Martins não eram suficientemente conclusivas, porque já vinham muito detrás, sendo eles os donos do meio campo, para criar grandes desequilibrios ou lances de maior perigo, à entrada da área...
O Gaitan está em excelente forma, mas a sua ingenuidade europeia, fez com que as aspirações que já eram escassas, ficassem reduzidas. Mesmo que possamos apontar o excessivo rigor do árbitro, o que é facto é que, no intervalo, quando fui para a cozinha jantar, fui logo dizendo, para que ficasse registado, que já não era possível dar uma reviravolta no resultado, que só uma grande entrega e sorte nos evitaria a derrota.
Porque o adversário estava igualmente empolgado, pressentia que ficaria em situação mais favorável. E foi logo com o reatamento do jogo que, o Benfica, fazendo valer-se mais do coração, prematuramente quis ir procurar o prejuizo, menosprezando o valor do adversário.
Mesmo com todos os atenuantes, a mentalidade abalada pelo golo sofrido, a inferioridade numérica, a posse de bola e os remates à baliza foram esmagadores para o Lyon, apenas fomos superiores na conquista de cantos, mas foram raros os pontapés a visar as redes contrárias ou as flagrantes oportunidades.
Enfim, a supremacia do Lyon, apesar de tudo, não conseguiu deitar ao fundo o estado anímico e o orgulho dos jogadores do Benfica, pois conseguimos evitar a hecatombe da goleada, também temos jogadores rotinados; só é pena que não possamos clonar o Coentrão, para o equilibrio de forças ser ainda maior. O Aimar apesar do prodígio, já não consegue aguentar, com um ritmo elevado, toda a partida, já a saida do Martins foi mais para dar oportunidades a outro companheiro, e o Saviola teima em não se encontrar na sua plenitude. Ao contrário do habitual, o Salvio, entrou bem no jogo, está a mostrar mais competitividade, o Jara vem de uma paragem longa, apesar de mostrar grande garra, ainda não está entrosado.
Tal como no jogo da alemanha, ainda não fomos tão concludentes e estáveis, fisica e mentalmente, o fado português continua a perseguir-nos, não conseguimos inverter a história de um clube glorioso, mesmo que mostremos algum brio, façamos boas exibições, somos atraiçoados pelo erro, fatalmente atingidos nas poucas ocasiões.
Tal como na alemanha, assistimos aos efusivos festejos junto da bandeirola de canto, como quando espetam o ultimo ferro, na estoucada final, e eu assumi, novamente, as dores enormes e o sufoco do animal, impotente perante tal desolação...
Tal como disse, depois do outro jogo, temos que rapidamente cobrar esta factura, já no próximo jogo, no Domingo, no algarve, de tão boas recordações, trabalhando arduamente pela vitória, aplicarmo-nos ao máximo para recuperar o caminho da recuperação anímica, voltarmos de novo aos resultados positivos, conquistar outros patamares mais sustentáveis de dignidade e ambição…
...Depois com o Lyon é só tirar a desforra, mostrar que também conseguimos vencê-los, mostrar afinco e dedicação...
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