domingo, 14 de novembro de 2010

4 palmadinhas nas costas!





Benfica 4:0 Naval

Depois de recuperarmos do estado de choque causado pelos dragões enfurecidos, nada melhor que o impacto de mais uma semana, revestida de labor e rotinas, para nos anestesiar, regulados por outras imagens e preocupações...

Na verdade, não há melhor terapêutica para o amargo desenrolar da realidade, que a impressão trazida pelo consecutivo amanhecer, no aclarear das ideias ou refrear de levianos ideais, envoltos de fantasia. É no lento desenrolar dos dias, que vamos tendo a justa medida das emoções, desviando da monotonia, apesar da necessidade da alma passar por estados de alienação, a simbiose perfeita entre a cruel realidade e o vazio da indefinição...

Metafísca à parte, a meteorologia foi anunciando uma nebulosidade dominante sobre as poucas horas de luz, o sol tinha ordem de soltura em breves aparições, prisioneiro do aglomerado de nuvens que pairavam no ar, estendendo os seus raios por pedaços de terra, através dos buracos abertos no céu que, neste lado do planeta, vão rasgando com a doce brisa que sopra do mar...

Ao sabor deste tempero, crepúsculos de luz polvilhados de orvalho, enquanto o frio não chega com mais vigor, vamos navegando pelo mar da vida. Antes de avistarmos outro cais, festejámos a bordo o santificado Martinho, homem bondoso, ao qual prestámos a devida comemoração, com castanhas quentinhas, acabadas de assar e uma pinga agua pé, à boa moda popular...

De repente, eis-nos atracados no alvor de mais um Sábado, com o mesmo celeste pintado de Outono, cinzento que nos vai acostumando com o rigor e a instabilidade da atmosfera...
Antes do almoço, fui à outra Luz, acompanhar o filho mais novo na actividade desportiva, onde soube do adiamento da Taça para 12 de Dezembro. A tarde já tinha sido reservada para um magusto familiar nos subúrbios distantes, rodeado de aromas campestres, para dar aso à alegria, convívio esfuziante no oculto da vastidão.

Antes do encontro amistoso, fomos visitar a anciã, ainda quedada no extremoso lar, com vista à melhor recuperação, casulo revigorante da alma e do corpo, vítimas do agastamento e da perca, repletos de amor para continuar a sua divina e terrena missão, junto dos que lhes são mais queridos…
Mais tarde, sim a animação e a conversa levaram-nos pela noite apressada, proporcionando um recolhimento nocturno mais caloroso e confortável, no inevitável regresso ao seio da civilização...

Domingo despertou na preguiça da penumbra, fogachos de sol que nos guiaram à Igreja, para assistir com devoção à missa dominical, motivados para receber o auxílio superior na preparação espiritual, orientação divina para as mais tristes atribulações...

Com a tarde, entrava em estágio para o grande jogo, que chegaria no cair da noite, desde logo com a azáfama da pequenada na preparação da grande árvore, expondo as luzidias e santas figuras que irão testemunhar o grande acontecimento, dando brilho e cor ao grande momento, preparando tudo para essa calorosa e imponente recepção, que é a Festa do Natal.

Depois, ainda jogamos ao Monopólio, passatempo de entretenimento e aprendizagem para a importância do capital, e num ápice, ainda antes edificação dos empreendimentos Hoteleiros, eis-me, de olhos fixos no televisor, enquanto outros devoravam os filmes, sozinho no meu retiro, deliciado com as imagens do Benfica contra a Naval.
No entanto, o mais novo não me deixou estar muito compenetrado, veio desviar o meu olhar imperturbável e exigir também atenção…

Ainda assim, debruçado sobre o visor, vi o Airton no miolo, com o condicionamento do Javi, o Salvio que parece estar a agarrar o lugar, com a ausência forçada do Martins e a do Maxi, possibilitando o regresso do Ruben; o Sidnei surgia mais uma vez no eixo da defesa, a substituir o capitão, o restante plantel queria dar continuação ao trabalho já desenvolvido, fazer esquecer o atropelamento sofrido na última aparição...

Toda a mudança, forçada pelas referidas ausências, estavam dentro da normalidade a que o Jesus já nos habituou, os elementos chamados tinham provadas credenciais, muito mais difícil era gerir as expectativas e debelar uma certo desconforto, reconquistar os níveis de confiança, ultrapassar toda a descrença que assolou esta agremiação…

O Naval como que aproveitando esse marasmo, uma equipa moribunda, atacou com todo o arrojo, valendo-nos mais uma vez a categoria do grande guardião Roberto. O meio campo, apesar do bom desempenho do Airton, não atacava a bola com o empenho exigido, a defesa estava apática, sem os elementos acostumados, o Ruben ainda estava a ganhar ritmo e confiança, e o Benfica, ia tentando aproveitar o espaço, o jogo mais afoito do adversário, para explorar o ataque, criar golos e oportunidades.

Foi assim, depois de um jogo mirabolante, com a bola a rolar em 10 minutos corridos que, num centro penetrante, o Gaitan dá para o Saviola, e este, ao segundo intento deu de bandeja para a bota esquerda do Kardec, para gáudio dos mais de 30 mil espectadores resistentes e dos muitos adeptos que estavam em estado de ebulição perante os decepcionantes 100 minutos anteriores.

Realmente o futebol não é uma ciência exacta, mas tem muito de estabilidade mental, de acutilância e moral, mesmo que uma equipa jogue melhor não é sinónimo de vitória, e se uma equipa deixa a outra jogar, vem ao de cima a classe dos bons executantes, a excelência dos tecnicistas e a veia goleadora dos atacantes…

Nessa toada, chegou o final da primeira parte com mais alguns calafrios e permissividade, inquietações que eram colmatadas pela presença insistente do filho… nos rostos do intervalo também transpareciam a insegurança do resultado alcançado, mas para nosso descanso, alivio dos semblantes denunciadores da avidez da alma, o tento do conforto veio logo com o inicio da 2ª parte, numa insistência do Aimar, com o Gaitan a fazer um golo de belo efeito. O terceiro ainda foi melhor, depois de uma boa jogada do Salvio, com um centro amplo e vistoso para o bem calibrado pontapé do Argentino.

Na parte final, o quinteto Argentino da frente ainda quis facturar mais, com tabelas primorosas, e aguerrido futebol, mas havia de ser o Nuno Gomes, entrado a 5 minutos do final, que haveria de fazer jus à sua folha de serviço, carreira cintilante, experiência que veio ao de cima (do mesmo calibre mas sem a mesma destinção de um Inzaghi, Del Piero, Raul), com a obtenção do quarto tento, num lance pleno de oportunidade e intenção… com dedicatória emocionada…

Foi a cereja no topo do resultado, da exibição possível, um pouco desgarrada, como são todas as prestações depois dum resultado negativo, que põem tudo em causa, em que se procura a terapia para continuar com um bom desempenho e fulgente prestação…
Na próxima semana ficamos de folga, a cimeira dos altos estadistas, remete Lisboa para segurança máxima, adiando o jogo da Taça, o embate entre equipas vermelhas que buscam o esplendor da época transacta.

Não sei se fará bem ou não, só o jogo em Tel Aviv, em plena terra santa o ditará, a motivação do grupo, o trabalho dos treinos, a aplicação máxima nos objectivos propostos, é também esse um jogo ainda de reparação dos danos causados, no entanto com outra exigência, requerendo dos jogadores uma redobrada entrega, para alcançar outra estima e uma fortalecida ambição…

Força Benfica, unidos venceremos tamanha grandeza e aspiração!

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