
Hapoel 3:0 Benfica
Depois da longa travessia semanal, dos aguaceiros que lavaram as pontes, das clareiras douradas que fintaram a nebulosidade, das trovoadas que assolaram o sono profundo da madrugada, da fresca e límpida luminosidade trazida pelo amanhecer, o virar de página começava com uma nova ilustração de fim de semana…
Naquela pintura, dei por mim a correr, pelo meio das folhas amarelecidas que tombaram secretamente na beira do caminho, a brisa orvalhada de Sábado de manhã realçava o viver do Outono, denunciado pelo sol tímido que inundava a natureza do parque…
De tarde esvoaçamos até ao campo, aterrando no ninho da família, num descontraído convívio afectivo, inspirando o ar fresco da montanha, que soprava da Arrábida, no refúgio rural. A noite trouxe-nos de regresso à cidade, acompanhados pelo luar cheio, aliado celeste do combate ao temeroso breu cosmopolita.
O Domingo, do Cristo Redentor, foi mais desportivo que espiritual, uma vez que fui acompanhar o filho basquetebolista, na sua iniciação à competição, entrosamento com a modalidade… Desbravámos as fazendas pelo interior da Peninsula na direcção do Montijo, uma pequena viagem, um pequeno passo no caminho que ainda é preciso percorrer, para o seu grandioso crescimento desportivo e humano…
O Resto do dia foi preenchido com a visita à matriarca, que vai lentamente restabelecendo do abalo e do trágico desenrolar da vida… nos termais aposentos familiares, rodeada de ternura e apoio de todos os descendentes…
Então veio outra semana, pintada de Novembro, com nuvens a sobrevoar a atmosfera, construindo muralhas e travando batalhas com o sol. No rádio, no trajecto habitual de 2ª-feira, soube os resultados da Taça, que denunciavam incidentes e dificuldades nos jogos principais. Na verdade foi um fim-de-semana sem futebol, sem a excitação acostumada, mas o fervilhar do bichinho que se alimenta do nosso entusiasmo e da nossa ilusão estava a começar a dar sinais de vida, a acordar dessa curta hibernação…
Num golpe palaciano, a chuva apareceu enfurecida na madrugada de 3ª-feira, disposta a fazer refém o sol, a seguir o ritual da largada de passageiros matinal; na verdade estando sempre presente, na ida ao hospital com a mãe, pois que o dia de folga, me permitia andar por fora.
No início da tarde, já com a amada companheira, para fugir à intempérie, enfiamo-nos no escuro do cinema, depois do comer, fomos orar e amar, numa viagem contemporânea por belas paisagens e atribulações da mente, numa vida cada vez mais egocêntrica e competitiva… Abandonámos a 7ª Arte, o linguajar romano da bela itália, o romance de Bali, e demos logo de caras com a realidade do trânsito no encalce da reunião familiar.
Depois do descanso, a chuva ainda quis pernoitar, e dar-nos as boas vindas, boicotar a greve na manhã de 4ª-feira, mas apesar do incómodo causado, exortava em mim um sentimento soalheiro, mesmo com a retoma do trabalho, com a perspectiva do grande jogo, santificado pela terra e pela importância crucial.
Depois do dia altivo, no meio do caos, o regresso a casa foi feito de estrela em estrela, contornando a lua na doce míngua, descendo lentamente do céu, nos farrapos de nuvem, directamente para o aconchego do sofá, em frente do televisor...
Com o discurso prometedor de Jesus, a superioridade evidente, crescia ainda mais o empolgamemnto das grandes noites europeias. Por muito que tenhamos já sofrido, tentamos sempre afastar lembranças ruins, deixando a ilusão tomar conta de nós, em proporção inversa da monotonia que se apodera da sociedade.
Em frente da tv, na velha poltrona, apareceu mais uma vez o minorca, ainda com os reiterados trabalhos de casa, eu esboçava uma postura calma, afinal o jogo até começou de feição, com ataques constantes, posse de bola avassaladora, chegada à area contrária por diversas ocasiões, mesmo que a bola saísse sempre pela linha de fundo, fora da baliza. Nem o Kardec isolado, nem remates transviados, nem ressaltos perdidos davam a direcção certa ao esférico.
O Hapoel, com o Estádio frenético, massas ansiosas de alegria para as suas vidas de clausura, lá ia atravessando o meio campo, mas só chegava à baliza através de livres. Numa dessas faltas, fez chegar a bola à entrada da área para o cabeçamento às três tabelas com o David, fazendo a bola anichar-se no fundo das redes do Roberto que nada pode fazer. Nestes lançes eu acho que não se deve defender muito à frente, porque ao recuar ou no espaço vazio entre o guarda redes é muito fácil desviar a bola para golo.
Caimos mais uma vez, prostrados no chão, pois o Benfica desta época (já é mal antigo), assim que sofre um golo fica em transe, tem crises existenciais… mesmo que ainda restassem 3 quartos de jogo pela frente, com tempo para dar a volta ao resultado.
Mas no Benfica desta época nada sai bem, tudo corre mal, há uma crise de ansiedade, como disse o Aimar, reina uma crise de confiança que leva tudo a desmoronar ao mínimo desaire. A equioa, apesar de tudo, continuou atrás do resultado, o Aimar tentou levar a bola pelo meio, o Saviola, o Salvio e o Gaitan, estiveram relativamente bem no transporte e na construção de jogo na fase avançada, mas não conseguimos ser eficazes e conclusivos na hora de rematar ou fusilar a baliza.
O Kardec esteve uns furos abaixo, ao nível da finalização, talvez porque sentiu a sombra do Cardoso, que até acabou por jogar consigo ao lado, e uma equipa de alto nível não pode falhar tantas oportunidades. Podia-se por agora em dúvida as opções do Jesus com a não inclusão do Carlos Martins em forma, mas não foi pelo Salvio que a Equipa se desiquilibrou, nem foi com a sua entrada que a equipa mostrou mais acutilância no ataque, O Cardoso entrou sem ritmo, e com dois pontas de lança mais fixos, também não trouxe nada de novo, uma vez que a bola raramente chegava lá, perdendo-se capacidade e criatividade com a saida do Saviola, apesar deste não conseguir catapultar para as boas exibições… Mas o Jesus, como explicou no final, teria que arriscar cada vez mais, pondo mais jogadores na frente, para tentar inverter os acontecimentos, porque era imperativo não perder, ganhar tanto melhor.
O que é certo é que, nem sequer o Fabio esteve nos seus dias, tão aguerrido e esclarecido como o habitual, o Maxi ainda tentou dar nas vistas mas também não em demasia, e um pouco sem explicação, sem ler nem escrever, fomos copiosamente derrotados, com um resultado expressivo, que ainda nos vem afundar mais a nossa mágoa e profunda desilusão. Nem as rezas e o aperto caloroso do filho fez inverter a situação, só nos restou resignar parente tanta decepção…
Uma depressão da qual temos que sair rapidamente, lutando exaustivamente no próximo jogo, com espirito guerreiro, buscando a vitória a todo o custo. O jogo de Aveiro é importantíssimo, em estádio europeu, para começar de novo, da estaca zero, a readquirir confiança anímica, para acreditar que é possível continuar a caminhada, com orgulho e brio, atrás de outras ambições.
Só com muita força e união, trabalho e solidariedade, de mãos dadas, conseguiremos dar a volta a esta crise, para continuar na luta europeia, continuar a lutar pela vitória em cada jogo do campeonato, conquistar as duas taças nacionais que ainda temos pela frente… Força Benfica, muita coragem e esperança para ultrapassar esta situação…
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