sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

O simples olhar duma vitória!



Benfica 2:0 Olhanense

O Novembro despediu-se na fria brancura dos montes, perdido nas recônditas profundezas do relevo. Outro Dezembro carregado dum pronúncio de inverno, estendeu lencois de gelo pelas montanhas interiores, espalhando brisas frescas por todo o território...

Nestes dias de nublosa transição, repentinas clareiras vão despontando delicados raios de sol, mas o tempo já não permite dispensar os agasalhos, qual armação para enfrentar o dia da restauração, nas praças sombrias, onde irromperam as congeminadas revoluções...

O dia dois trouxe de volta a rotina, conservada na mesma atmosfera, no despertar gélido que nos apressa na direcção do trabalho ou das escolas, este mês é de trajectos pedestres e transportes colectivos, outras imagens e meditações que se perdem em cada olhar…

A sexta feira trouxe de novo uma luz dourada e fresca ao amanhecer, tirei o dia de folga, desde logo vi o Cristo que sobrevoava a cidade sob uma ampla tela azul, e nela podiamos projectar todo o conforto do seu amor providencial, dar asas à imaginação...
Aproveitei para assistir a mãe na sua lenta reabilitação, uma disponibilidade que permitiu fazer um acompanhamento mais atencioso e grande parte das compras de natal que nos merecem os amigos e familiares…

À medida que a noite se abatia sobre o horizonte, era altura de voltar ao ancoradouro familiar, depois da passagem pelo colégio e pavilhão, no submerso da cidade. A luz do novo televisor panorâmico da sala brilhava já no meu olhar, antes porém a refeição comunitária na contígua divisão, porque é conveniente seguir todos os protocolos caseiros.
Quando me sentei com esse entusiasmo indomável, embrenhado na missão de apreciar mais um jogo de futebol, já rolava a bola na grande catedral, mas, ao invés do que eu esperava, não era o Benfica que tomava as redeas do jogo, perante uma equipa estratégicamente sólida, ia jogando até com alguma apatia…

Reaparecia o Aimar, ficava de fora o Martins, permanecia o Amorim, as duplas no eixo da defesa e na frente de ataque. Mas o meio campo não estava compacto e pressionante, como foi dizendo o comentador, não estava junto, como referiu o Jesus no final, e a entrada do Carlos e do Salvio veio trazer mais acutilância e autoridade no centro do terreno.
Têm que se dar mérito à forma organizada e ultra defensiva do Olhanense, que espreitava sempre o contra-ataque, pois cada equipa tem que armar a sua estratégia em função das armas e das peças que dispôe…
Apesar disso, o Benfica não demonstrava estar numa noite especialmente inspirada, não circulava a bola com a rapidez e a segurança desejada, valendo-nos a atenção e a destreza do guardião, do grande Roberto, mais uma vez crucial para manter o nulo no resultado. Na outra baliza, valeu-nos o Moreto, para não irmos para intervalo ainda com o resultado por desfeitear. Num lance já em cima do intervalo, num forte cabeceamento do Cardozo, que fez a bola, caprichosamente, anichar-se no fundo da "capoeira"!

A segunda parte, trouxe então o pujante Carlos Martins, o Gaitan tinha tentado alguns rasgos, pela muralha de adversários, ainda serviu de bandeja a cabeça do Cardozo, que desaproveitou, mas o meio campo ganhou mais musculo e visão de jogo. O Amorim está a começar a subir de forma, o Saviola vai lutando pela vida, e alcançou o prémio mais desejado, um golo pleno de oportunidade, em zona favorável e de bela execução…

Enquanto o segundo golo não surgiu, o Olhanense foi espreitando e tentando a sua sorte, o Benfica não evidenciava supremacia, o adversário ia acreditando, à medida de cada substituição, mas fica na retina a boa movimentação dos seus dianteiros e a segurança defensiva patenteada, tirando a despelicência momentânea do guardião.

O Benfica, ganhou o primeiro dos 4 jogos no seu estádio, que tem para realizar ainda este ano, o Dauto prometeu voltar para escrever outras linhas, uma história com outro final, mas o Jesus, num discurso realista, parece querer começar pela base, sendo melhor o resultado que a exibição, é preciso ganhar, sem sofrer golos, para ganhar outro estatuto, confiança e ambição…

O Cardozo traz outro elan ao ataque, não que o Kardec não seja excelente, até um pouco mais rápido, mas o Cardozo tem mais presença, já atingiu uma maior estabilidade emocional e tem outros argumentos, mesmo no encontro físico na altura de defender, mas em especial na altura de decisão. No final, a sua intervenção humilde e a sua prestação dentro do campo, perante o feito alcançado, pela obtenção de tantos golos, fazem dele um grande futebolista…

Enfim, foi este o relato, sempre extenso e maçador, dum apaixonado telespectador, no meio da densidade populacional que habitava a sala, com expedições constantes pela frente do televisor, com interrupções e falas inoportunas que tive que enfrentar, mas com uma enorme alegria, o poder juntar mais uma vitória com a expressão mais sublime do amor…
O fim de semana vai fazer avançar o Dezembro, as luzes vão piscar no ofusco do tempo, na friura das ruas, no apressar das compras e do consumo material, em busca de um conforto, duma paz interior, em busca de uma luz brilhante, dum bem espiritual.
Todos esperamos que o amor fraterno, o convívio parental sobressaiam à medida que se aproximam as festas... Desde logo, com a mãe padroeira, a Senhora das benções, que nos livra do mal e proporciona bem estar.

Ainda antes, na terça-feira, vésperas desse dia santo, esperamos conseguir mais uma vitória, para fazer ver aos alemães que temos equipa para vencer, que poderíamos muito bem ter trocado com eles na classificação; para continuar a escalada da recuperação, alcançar a UEFA com todo o merecimento, e o capital de confiança exigido para enfrentar outra eleminatória da Taça e mais um jogo, repleto de luz, antes do Natal.
Viva o Benfica!

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