sábado, 18 de dezembro de 2010
Uma mão cheia de sonhos e esperança!
Benfica 5:2 Rio Ave
A semana começou, ostentando já a bandeira das férias escolares, o Outono, extenuado, preparava um abandono auspicioso, assoprando as folhas derradeiras para a calçada. Os escassos transeuntos que se aventuravam pelas ruas, driblavam o desvario da folhagem, passando a marcha lenta de viaturas, de janelas embaciadas pelo nevoeiro, na azáfama das exigências profissionais...
A segunda-feira veio embrulhada em papel pardo, um espesso branco que escondia o Monumento do Cristo, todavia o reinado oculto na penumbra... uma vista sobre a cidade, apenas devolvia metade do casario, meia encosta tinha desaparecido fiel à proximidade e cumplicidade do alto Rei.
O dia a seguir, contudo, trouxe de novo o sol com um sorriso rasgado, brilhando sobre o redentor, uma luz de oiro que contagiou de alegria o povo de Almada... O céu azul continuou resplandecente, qual lago imenso de águas geladas, com vistas regaladas, reflectindo o amplo horizonte…
O fim da semana, depois da imensa claridade banhada de ouro, espalhando riqueza pelos mais diversos becos e sombrios olhares, fez uma cara travessa, farrusca, e mesmo que não tivesse afugentado o frio, o azul via-se cercado por um nublado ameaçador. A uma semana do Natal, o Inverno tinha tudo para uma entrada derrompante, mesmo que os preparativos se confundissem com o luxo exuberante das festas ou com o corrupio dos centros comerciais…
O Sábado friorento foi atrasando a chuva, numa manhã ocupada com trabalho, as últimas compras, a ida às piscinas, com permissão para a frequência paternal e gravação digital. O reencontro vespertino com a rua trouxe as primeiras gotas, mas era preciso levar as crianças às Festas da Catequese e do ATL. A claridade sumia-se, a hora do jogo do Benfica, antecipava o entardecer, a ânsia e a chuva acentuavam cada vez mais o frenesim dos eventos e atrapalhavam as compras no comércio tradicional.
Depois de acompanhar a mãe em algumas visitas natalícias, lojas e mercados, o agravamento climatérico convidou ao recolher, mesmo em cima do início da partida da Luz…
Entrei pela casa, os filhos ficaram nos preparativos da Festa de Natal com a mãe, e eu fiquei sozinho em casa, absorto e deslumbrado com tanto sossego e com tanto brilho que vinha da televisão. A bola já rolava veloz pelo relvado, a molha aligeirava a velocidade do esférico ou então o querer dos jogadores era mais forte, a presença do público era mais calorosa, as festividades do Natal traziam consigo a magia do encarnado. As jogadas sucediam-se no meio campo do Rio Ave, o carrocel parecia afinado, a feira dos sonhos chegou mais cedo à cidade e começou logo a distribuir os desejados prémios.
Com a obtenção de dois golos, tão permaturamente, todos pensávamos que a goleada fosse inevitável, que os forasteiros fossem pelo rio abaixo, que o Benfica se agigantasse ainda mais, que fosse sufocante o nosso poderio. Mas, mesmo que a equipa continuasse a lutar, a demonstrar brio, a levar calor ao público que devolvia em apoio e energia, os golos deixaram de aparecer, o Rio Ave foi começando a restabelecer-se, a partida foi entrando pela noite, a euforia começou a desvanecer-se, a cada oportunidade falhada, sem que o Cardoso se mostrasse…
A equipa no seu todo mostrava um grande empenho e acerto, o Sidnei mostrava estar à altura do substituto, sempre atento e com certeza no passe, o Salvio estava a sobressair e a demonstrar o seu potencial, sempre vigorante e com muita técnica, seguindo o compatriota Gaitan, que desde o começo se tem vindo a entrosar com muita classe. Com este onze, os jogadores mais confiantes, com garra e afinco, poderemos estabilizar e partir com mais motivação e ambição para o que ainda resta desta temporada.
O Martins é o substituto natural do Aimar, o Amorim é um suplente de categoria, para render qualquer posição; nota-se contudo ainda alguma descompensação, como na jogada em que resultou o primeiro golo forasteiro, ou que a pressão ainda não resulte em pleno ou alguma falta de apoio na rectaguarda, mas a estratégia está lá, o caminho a seguir é este, só com esta atitude e bravura é que os jogadores poderão restabelecer a confiança e a solidez das vitórias…
Chegava ao fim primeira parte, depois de tanto desperdício encarnado, e tanto aproveitamento alheio, afinal o primeiro remate à baliza do Roberto já foi feito no 40º minuto, fomos para o intervalo ainda com o desfecho em suspense, podendo eu já ir descansado para o festejo de Natal. Assim, com o agendamento gravado da segunda metade, voltei à soturna cidade para assistir à representação festiva, com um pavilhão a abarrotar de impaciente audiência perante os entusiastas participantes…
Depois do espectáculo maravilhoso, da grande noite Shrekiana, do estrondoso folhetim de um ogre levado pelo sentimento, regressámos ao enlevo da casa, torre mais alta de um condomínio repleto de amor… já com os filhos contagiados pelo espirito das canções de Natal, extenuados perante tanto enlevo e alongamento da noite…
A segunda parte do jogo, mesmo que as notícias da vitória folgada já não fossem novidade, foram devidamente apreciadas, depois do recolher obrigatório, novamente na condição de solitário, para meu contentamento.
Mesmo que o Rio Ave augurasse outro resultado e viesse com esse propósito ou expectativa, o Benfica não se deixou esmorecer, espreitava sempre ampliar os golos, à custa de uma boa exibição… E foi logo no primeiro quarto de hora que dois golos ditaram a sentença, o primeiro numa jogada magnífica do Salvio que entregou de bandeja ao Saviola e o segundo depois de um cruzamento do Gaitan para uma cabeçada fatal do Salvio.
Com tanto tango, as bolas a passarem ao lado do Cardozo, não restou outra alternativa que tirá-lo do jogo, o Nuno Gomes ainda fez uns minutos, mas a equipa da Vila do Conde não quis ser o bombo da festa, abrilhantou o espectáculo, quis retribuir o bom futebol, fazer parte do entretenimento. De tal modo, a alegria do Treinador que, mesmo tendo sido goleado por cinco, estava agradado com a sua exibição…
E foi assim que o ano de futebol terminou, o Inverno prestes a chegar, alguns dias antes do Pai Natal, que vem visitar o menino Jesus, na alegria da celebração familiar; também nos devemos lembrar da troca de afectos e presentes com os mais carenciados e desfavorecidos, fazer uma introspecção visando a nossa humanização e solidariedade…
O novo ano, próspero em esperança, no meio de tanta crise, vem logo com muito futebol, o Estádio da Luz acende de novo os halofotes para a montra das Taças, é preciso entrar com determinação e alegria para começar a trilhar caminhos venturosos, um destino que viva o sentimento dum fado glorioso!
Boas Festas, com muita paz e caridade!
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