Estugarda 0:2 Benfica (Liga Europa - 1/16 final - 2ª mão)
A semana deu um pulo, no lento girar do globo, o sol fez reaparecer o contraste primaveril observado noutros cantos do mundo… O céu estampou o brilho duma claridade doirada, avivando saudades duma natureza florescida e deslumbrante…
Perante as miragens translúcidas da cidade, até a meia-lua se viu devassada na privacidade, apanhada desprevenida a namoriscar no fresco azul matinal…
Para arrefecer os ímpetos, a preguiça porfiava com a fulgurante ousadia do final de Fevereiro, os mancebos teimavam em perdurar uma sonolência embriagante, exasperando o mais calmo dos generais… todavia o dia de jogo grande, com o Benfica a disputar a sua continuidade na Liga da Europa, lá no centro, sul da Alemanha…
O dia, também por isso, não se livrou do esplendor, as caminhadas pela rua, ida e volta do trabalho, faziam-me tomar o pulso com a vida urbana que ainda vai resistindo pelas praças, nos ajuntamentos de idosos à cavaqueira ou quedados pelo convívio dos cafés, avós que cuidam dos netinhos em idade pré-escolar… o metro que leva os estudantes, enquanto estica o tráfego para Lisboa, em mais um dia de protestos na CP…
A tarde permaneceu soalheira, mas dou por mim a olhar o casario a desvanecer pela janela, o relato anunciava água na fervura para Alvalade, com o empate a chegar quase no fim do primeiro tempo. A noite abateu-se em definitivo, já eu pensava na apressada chegada a casa para me sentar na poltrona…
O jogo do Benfica estava quase a começar, a adrenalina disparava, todavia a diluição do nervosismo pelas acções habituais… Era uma partida de tudo ou nada, a mentalidade do Benfica já nos tinha atraiçoado noutros confrontos bávaros, mesmo que agora tivéssemos uma confiança avassaladora, a equipa germânica andasse pelas ruas amárgas, tudo poderia acontecer…
E o jogo começou com a equipa alemã a correr muito, com o empenho sustentado pelo ruidoso apoio dos adeptos, e o Benfica a tentar impor o seu caracter, com toda a determinação… Desde logo, foi uma boa aposta no Jara, muito combativo na frente, incansável a pressionar a saida da bola, tal como o Cardozo, que eu nunca tinha visto a correr tanto…
Depois o Salvio foi transportando a bola de mansinho, tal como o Gaitan, com mais irreverência e o mesmo controlo, ambos pelas alas, com as ajudas sempre prontas dos laterais… O Maxi num duelo acesso com o Japones, o Coentrão sempre afoito, pisando terrenos dianteiros, que quase dava em golo, decorria o minuto 17. Antes disso o Gaitan já tinha tentado visar a baliza do experiente guarda redes… na outra baliza, o Roberto apenas se lhe viu a cor da camisola, pelo minuto quinze, numa defesa segura ao remate do japonês que, com bateria carregada, furou pela área, rematando ao primeiro poste…
Mas o Benfica foi fazendo-se valer do seu capital anímico, pautando o ritmo de jogo, com a batuta do Aimar, desta feita mais recuado, na ajuda à defesa, uma vez que o Airton, ainda não tinha a calibração adequada para estas andanças, de tal modo havia um fosso maior para os dois da frente, mas com as saidas apoiadas, a posse de bola, a temporização dos extremos, fomos conseguindo suster o adversário e sair sempre com amplitude e objectividade…
E foi com naturalidade que o Salvio rematou de fora da área, levando a bola, por entre uma muralha de pernas, para o fundo das redes. Na segunda parte foi a vez do Cardozo, de livre, bem ao seu geito, de pé esquerdo, a levar a bola ao encontro do poste, que a fez tombar para dentro da baliza… já antes, depois de uma excelente iniciativa do Jara, podia ter desfeiteado o guardião, mas este não permitiu com uma magnífica defesa de reflexo…
Não se percebe muito bem como é que o Estugarda é uma equipa em crise, com um público extraordinário que nunca esmorece, com uma atitude enorme dos jogadores, que nunca baixam os braços, talvez o ponto fraco sejam mesmo o eixo da defesa ou a ausência de um jogador mais criativo no meio, que contrastam com o voluntarismo da equipa… e já agora uma palavra de alento para o guarda-redes que saiu magoado…
Mas o Benfica foi enorme, assumiu por completo a sua posição de melhor equipa, fez por merecer este resultado, com uma grande atitude por parte de todos, talvez o Jara, com mais ganas e mais disponível físicamente, mas todos deram uma resposta muito boa, depois do esforço de Alvalade, em mais uma excelente prestação, que nos fez acabar de vez com tanta malapata e invencibilidade…
Antes de pensarmos em Paris, a cidade Luz, onde queremos que continue a brilhar o sonho da europa, ainda temos muito que suar, Domingo com o Marítimo, passados dois meses, depois da primeira vitória do ano, para mantermos a perseguição ao líder, e 4ª-feira, perante o Sporting, também na Luz, para decidir a passagem à primeira final da época… e ainda antes do regresso à Luz, para medir forças com o PSG, ainda temos uma deslocação dificil à cidade dos arcebispos… Força Benfica, continua com este fulgor, esta chama imensa, acalenta o sonho até à exaltação!
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