Braga 2:1 Benfica
A semana foi encerrando com movimentações meteorológicas acentuadas, um enorme desfile de nebulosidade tentava dominar a ponta ocidental do velho continente…
Apesar disso, a 5ª-feira ainda se coloriu com o corso infantil, o sol cintilou no centro da cidade através dos sorrisos das crianças… e a sexta madrugou com uma pontinha de sol, na ausência da lua, piscadela que nos convidava para o gozo das férias escolares e merecido descanso do trabalho... Foi então, depois da cavalgada do zorro pequenino, das maldosas traquinices que ninguém pode levar a mal, que ficámos prontos para a aventura familiar de um fim de semana prolongado…
O Sábado foi ainda passado na cidade grande, sob o pronuncio de aguaceiros, forçando a ginástica corporal… distribuída pelas modalidades de basquet, atletismo e natação, cada qual seguiu a sua vocação. Eu fiz o percurso de corrida, pelos caminhos do parque, onde o Circo Cardinalli, tinha assentado arraias, com toda a sua esquadra em redor da tenda mágica, que ostentava a bandeira do venturoso Portugal …
De tarde seguimos para as quintas dos subúrbios, com a família à nossa espera, em duas parcelas do campo. Levámos connosco a matriarca, e avançámos sobre as nuvens atemorizadoras, mas só com o escurecer, concretizaram a ameaça, já estávamos recolhidos noutro animado convívio de aniversário, com a garotagem excitada pela ocasião, enquanto os pais, de volta das iguarias e das sagres, com os risos e a cavaqueira circunstancial…
Entrámos pela noite, regressámos pelas estradas molhadas, a alma arrebatada pelo frenesim… já a pensar no alvor de domingo, que nos prolongaria o sonho para lá da imaginação…
Na verdade, eram realmente três dias, a caravana do Carnaval, partia em viagem, manhãzinha, pela largueza das vias que nos afastaram para longe da capital, em direcção do norte, com vista ao alto montanhoso coberto de neve…
Porém, antes da escalada, percorremos um longo trajecto, percorrendo o lindo Portugal… A chuva não tinha feito as malas, ficou pelo sul, apesar da pintura rocambolesca do horizonte não deixar sobressair muito a cor solar… seguimos com os pedaços de luz doirada até ao Santuário da Iria, na Cova central do território, abençoado cantinho de reflexão…
Depois da celebração no amplo lugar de culto, catedral onde o orador nos incutiu à profunda oração, abalámos pelo interior, ao encontro de outro foral… Leiria, distrito central, defendido por um altivo castelo… Subimos à torre mais alta, mirámos o panorama por entre as muralhas, atravessámos o pulmão lusitano dos pinhais seguindo a rota do Vidro…
Íamos pernoitar na capital do saber, na margem do Mondego, mas as espreitadelas do sol, permitiram outras paragens, circuitos mais amplos, subindo o rio desde a Foz, então fomos remando contra a corrente, até descobrir o encanto que lhe granjeou a cumplicidade junto à cidade de Coimbra…
As luzes desvendavam a agitação e o brilho da cidade, a noite chegava mansinho, e nós entrávamos pelas amplas avenidas ribeirinhas ao encontro do descanso e da perfeição…
No passado verão, a mesma cidade, simbolizava o tormento, com o pai hospitalizado, quase sem forças para lutar… agora, voltávamos, novamente no encalço do sonho, com os filhos meus, construindo asas, na quentura do Hotel…
A noite trazia o Benfica na televisão… abeirei-me então da sala de Tv, com direito a sofá defronte, num comodismo difícil de igualar na intimidade do lar…
As crianças cibernautas, navegavam ao lado, apesar do mais pequeno, libertino, não se contentar com a viagem pelo écran, e eu não caia em mim de consolação…
Mas a encarnada “laranja” não entrou tão mecânica e sumarenta como o habitual, os extremos estavam ausentes, com o Jara e o Menezes a fazerem a modos que as suas vezes… No eixo o Martins apresentava-se dinâmico e com garra, como é seu apanágio, e a equipa apareceu, apesar dos solavancos nas alas, a querer discutir o jogo, alcançar mais uma importante vitória…
Mas o inferno pedregoso, o ambiente hostil também se começou a fazer sentir, com a injecção de moral, do Domingos, para nos derrubar a qualquer preço, com pupilos empenhados em voltar à montra das boas exibições…
Então, nós fomos lutando contra os arremessos de objectos, contra os apupos, contra os apitos, fomos correndo, e levando a bola, tentando chegar à baliza... mas o Braga também começou decidido em enfrentar todas as adversidades…
Na sequência de um ataque, que culminou com falta em cima da meia lua, o Martins desfere um potente remate, rasteiro, que o guarda-redes repele para o Saviola, oportuno, ao seu estilo, rematar para dentro das redes... Estávamos a meio da primeira parte, o jogo estava controlado, apesar da boa movimentação atacante dos visitados, e do maior apagamento dos flancos encarnados, a luta dos jogadores ia sobrepondo a ineficácia e chegando para as encomendas…
Mas os bracarenses queriam mesmo partir pedra, então o mestre Xistra começou a distribuir cartões, com direito a castigos severos, o Luisão, agarra subtil e fica amarelado, de fora do próximo jogo, mas o Kaká pratica a mesma infração, no lance do golo, e não recebe o mesma punição…
Então, num lance mais aparatoso, com o Javi a deixar-se levar pela impetuosidade do Alan, a pedido do Auxiliar ou talvez pelos bracejos do banco, recebe ordem de expulsão, decorria o minuto 40, fatídico para as nossas pretensões…
Na marcação do livre, angular, o Roberto, indeciso com a saída, deixa a bola anichar-se no canto superior, com mais uma vez o Hugo Viana a marcar, aquele que seria o golo do empate... mais uma vez iríamos jogar com 10 metade do jogo… tínhamos que nos sacrificar, correr mais que o adversário, fazer horas extraordinárias…
Já estou como o Machado, será que andamos a cuspir nos adversários, será que só nós é que cometemos faltas para cartão, com brinde, somos assim tão fortes que para equilibrar a contenda, fiquemos a jogar com menos um… nos 3 campos mais difíceis, em 4 ½ horas de jogo, jogámos cerca de 2 horas com menos um jogador…
A segunda parte, foi crescendo em dificuldades, apesar de tudo, nas restantes situações estávamos a ganhar, desta feita tínhamos que desfazer o empate, procurar mais um golo, sem descurar a defesa…. Entrou o Airton, para o lugar do Saviola, mas o Menezes não se conseguia impor, o Jara, pela direita também levava a bola rápida mas com imprecisão e o Cardozo lá meio perdido, como é seu apanágio…
Saiu o Menezes para a entrada do Gaitan, que veio dar uma acutilância maior ao ataque… o Coentrão ainda apareceu, mas o trabalho na defesa era primordial… O Martins deu lugar ao Kardec, pois o Jesus quis arriscar e dar altura ao ataque…
Mas o jogo ia se arrastando para o final, a força anímica e física do Benfica começava a agastar-se perante as adversidades e o ambiente nefasto, a combatividade contrária, e eis que num lance de génio, o Mossoró desferiu um remate indefensável, mesmo ao ângulo superior, que o Roberto, mesmo esticado não conseguiu suster…
tempo já ia avançado e o Benfica já quase sem forças para apertar o adversário, chegar ao empate, dar a volta aos acontecimentos…
E foi assim, sem que o Braga tivesse deslumbrado, com o Benfica menos fulgurante e menos ligado, com a mentalidade posta à prova perante o fio da navalha, ao qual nem o Arbitro soube resistir, que o Benfica interrompeu a série de vitórias, e voltou a perder, ficando a ver o título por um canudo…
Foi assim que o ressabiado dragãozinho, que tem pesadelos com o Benfica, depois da noite anterior, se ficou a rir de satisfeito, com mais uma vitória com brio, uma raça ariana de empenho que dá gosto ver jogar e sem que a impressa lhes dê o destaque merecido… ora bolas, é sempre a mesma tinta (vermelha) a borrar as páginas dos jornais…
Agora temos que nos concentrar, mais do que nunca na conquista das Taças, uma já estamos na final, aqui em Coimbra, no Sábado da aleluia, noutra, a de Oeiras, estádio nacional, palco do jamor, estamos bem encaminhados, mas se calhar, é melhor não comprar a tinta da vitória… na outra, já 5ª-feira, temos que dar o máximo para derrotar o PSG, alcançando, pelo menos, uma vitória…
Apesar do amargo desfecho, noite abraçou-me no enlevo das horas de felicidade, já à espera que a aurora, por detrás das cortinas, chegassem de mansinho trazendo outro dia à cidade e o futuro sorridente às nossas vidas…
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