quinta-feira, 7 de abril de 2011

Quartos com vista sobre Braga ou Kiev!


Benfica 4:1 PSV (Liga Europa: 1/4 final - 1ªmão)

Foi o Abril tecendo o desabrochar da primavera; digerido o triste epílogo da Liga, escancarando a recta das férias da escola, desfraldando a bandeira de xadrez e o rumor da natureza…

Na verdade, os aplausos não tiveram o esplendor de tão aclamado colosso… e não estou a falar do escurecimento do estádio, mas da exuberante consolação patenteada pelos adeptos, escassos aliados, amarrados ao destino de um clube complexado e introvertido…

Assim, a semana foi pulando de mansinho, atravessando os trajectos escolares, eu fui retornando aos passeios que me levam na direcção do trabalho, caminhadas que fizeram sentir o pulsar e a azáfama da comunidade, rever os olhares do quotidiano, mergulhar na amplidão do entardecer e dos pensamentos que me trazem de regresso a casa…

Na suavidade da noite, um traço de lua sorridente, levou-me para os lados de Sintra, para a saudável actividade desportiva, encurtando um novo amanhecer de 5ª-feira. O dia foi espalhando perfume, o estádio da luz reaparecia na montra dos grande jogos, reposição dum clássico da europa, mesmo sem o lustro de outrora…

As notícias davam conta da procura, eu próprio fui tentado pela oferta, mas com a hora de saida tardia, optei por assistir ao jogo no conforto da sala, com vista para o palco engalanado, onde o Benfica vestia o seu fato de gala… a força envolvente não faltava, o clima aprazível também não, com o empenho dos jogadores, tudo se tornaria mágico, numa grande noite europeia…

Antes ainda de entrar pelo deslumbramento, quando vinha no Metro, verifiquei que iria entrar o Jardel, para o lado do Luisão, reaperecia o Maxi e o Cardozo, com o Aimar no centro, de batuta em punho…
No apressado reencontro familiar, depois da conversa na mesa de jantar, no forno já cozia o doce do fim do 2º período… esgueirei-me para a frente do televisor… a catedral estava repleta, os jogadores de vermelho perfilavam-se para a luta, acérrimos empreendedores de felicidade…

Entrámos serenos, trocando a bola, o Jardel muito lúcido, apesar de formar um tridente defensivo pouco desenvolto, os laterais supersónicos davam-lhes a mobilidade, enquanto eles se afirmavam nas alturas e na dureza do corpo a corpo… o Javi, esteve mais enérgico, mas falta-lhe a agilidade dum Alonso… mas como não podemos almejar galácticos, vamos reconstruindo, com a classe de abnegados futebolistas, o orgulho europeu…

É certo que o PSV não pressionou muito, mas o Benfica entrou com uma grande atitude, o Gaitan e o Salvio estiveram muito mais intervenientes, o Coentrão e o Maxi estavam com um ritmo estonteante, o Aimar desdobrava-se no meio campo, com classe e categoria, o Saviola tentava reecontrar-se com os golos, juntar a sombra com a figura, e o Cardozo gigante lá na frente, esforçava-se contra a falta de sintonia…

E foi então, depois de alguns lances vistosos, como a bola no poste, que podiam ter dado golo, que o PSV foi tentando esbater o ímpeto benfiquista, contando com o guardião sueco…, mas a noite estava diabólica e numa jogada rápida do lado direito, o Gaitan dá para o meio da área, onde o Cardozo tenta o remate, sobrando a bola para a entrada derrompante do Aimar que mete a bola dentro da baliza, para regozijo do público presente, e meu, bem audível entre quatro paredes…

O intervalo estava a chegar, mas o Benfica, tem ADN de ataque, trazido pelo estratega Jesus, e um minuto antes da interrupção, o Roberto inicia mais uma jogada, que acaba num sprint ofensivo do Maxi, até à imediação da baliza, no desenlace da jogada, é o Coentrão que entra pelo lado contrário, rasga a defesa e serve de bandeja o Salvio que, dá um toque soberbo com o calcanhar para o fundo da baliza… a bola só assim podia entrar, por entre o defesa e o guardião, e foi assim com grande paixão, que findou o primeiro acto…

A segunda parte, trouxe mais do mesmo, um Benfica dominador, quer à esquerda quer à direita, o Aimar tentava encobrir o cansaço com uma experiência a toda a prova, o Saviola recuava para dar uma ajuda, mas eram os extremos que estavam mirabolantes e incisivos… e foi numa jogada do Salvio, descaido mais para dentro, que entrou pela área, passou por dois defesas e atirou cheio de convicção, fazendo o terceiro golo da partida…

A noite estava a tornar-se mágica, afinal o treino contra o Porto tinha servido para alguma coisa, que o diga também o velho rival, que impingia uma folgada derrota ao seu antagonista russo, enquanto o Braga se defendia com galhardia em terras Ucranianas…

Mas como o Benfica não consegue esfriar o impeto, trocando a bola com mais pausas e certezas, e joga sempre nos limites, e como o PSV já não tinha nada a perder, antes pelo contrário, começou a aparecer com mais rapidez e frequência junto da baliza do Roberto… Numa jogada assustou, depois duma palmada do Roberto, mais tarde, depois numa jogada de insistência, do seu melhor elemento, esquerdino, a bola cruzou a pequena área, o Roberto defendeu para a frente, onde apareceu com velocidade, acabado de entrar, o avançado contrário a facturar…

Mas, apesar do desaire, o PSV nunca chegou a assustar deveras, o Benfica teve sempre o jogo controlado, e pertenceram-lhe as melhores jogadas e oportunidades… até ao final, a confiança mantinha-se em alta o suficiente, para apostar tudo no ataque, à procura de alargar a vantagem. Já com o Jara na frente, a entrada do César, para os lugares do Gaitan e Aimar, a toada manteve-se, alternando as jogadas de perigo por ambos os extremos do campo. Calhou desta vez ao Maxi, entrar pela área, já com a defesa desconcertada, servir o Saviola, que bem no coração da área, parou, virou e chutou a bola para dentro das redes, já em tempo de descontos, para gaudio do mar de gente ali presente e de tantas vozes enrouquecidas por esse mundo fora

Foi um prémio para a labuta do Saviola, e é um resultado que se ajusta mais ao desenrolar da partida, afinal o futebol demolidor do Benfica foi por demais evidente… assim, a primeira mão destes quartos, já têm vista sobre Braga ou Kiev, a vantagem alcançada dá-nos garantias que no país das Tulipas iremos escrever mais uma página gloriosa do nosso clube…

O Villareal e o Porto irão medir forças na eliminatória seguinte, enquanto o Braga está bem posicionado para ganhar a eliminatória, sendo que daí resultaria uma equipa portuguesa na final, ou um embate luso em terras de sua majestade, capital da ilha irlandesa, Dublin… mas quanto ao desfecho final ainda ninguém sabe os prognósticos...

Neste cantinho atlântico segue a viagem à Figueira da Foz, no Domingo, é preciso fazer uma gestão criteriosa do plantel, com vista à salvaguarda da condição física dos jogadores, pois irão suceder-se bastantes confrontos exigentes, para os quais deveremos entrar com toda a pujança e graciosidade, carácter próprio deste tempo da primavera… Viva o Benfica!

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