
Benfica 1:2 Porto
Depois da longa ausência, após o rompimento da primavera, o esvoaçar do tempo foi alternando entre o tépido horizonte e o esmorecimento da atmosfera, até que o Abril assumiu o abreviar do florescimento da natureza, lembranças de libertação, trazendo um aroma temperado e uma nova razão para o repetido ciclo das nossas vidas…
Entretanto, jogou a seleção, a rapaziada do Bento, esforçou-se por conseguir bons desempenhos, diante da lusa audiência, mas, em Leiria, não foi além do empate, porque achou que um golo fosse suficiente, na cidade de Aveiro, aproveitou o desnível no ranking, para impor a vitória, mesmo que o futebol não fosse impetuoso…
Entretanto, o Socrates, a navegar à vista, quis levar o barco a bom porto, mas os oponentes do restelo, vieram à tona, murmurar os actos incosequentes, criticas ferozes sobre os feitos alcançados, a falta de rumo, uma fraca moralização, que os portugueses tanto gostam de lançar na sociedade, para entoar a enfadonha monotonia dum imprevisto destino…
Os politicos adversários tomaram de assalto a assembleia, com a traição dos judas esquerdistas, que entregaram o governo, a troco de, dois meses mais tarde, mudarem as cadeiras, porque o discurso, controverso e populista, vai continuar, a favor dos trabalhadores…
Entretanto, o Presidente, depois da corte brasileira ter visitado o palácio de Belém, os duques ingleses terem ceado no Palácio de Queluz, mil e uma noites de nobreza, reuniu o Conselho de Estado, para ratificar o que S. Bento já sentenciara: dois meses de agonia, um país à beira de um ataque de nervos…
Entretanto, depois do oasis familiar, no meio da aridez do trabalho, da rotina desgastante, entrámos no mês da liberdade, continuando pelo deserto da Quaresma, à procura da santificação, que a abstinência nos traga a Páscoa, para nos salvar dos pecados e da tristeza terrena… quanto ao mais, continuei convocado para participar no futebol de salão, a meio da semana, para o saudável encontro na pacatez do campo, qual convívio familiar, e para assistir às modalidades, diante do Ovarense e do Mogadouro, retribuindo a companhia feita aos catraios na pratica doutras actividades...
E eis que estávamos de regresso ao entretenimento do futebol, por esses relvados fora… e não só, com o Mourinho a baquear em Madrid, nove anos depois...
O Benfica jogava, ao final do primeiro domingo de Abril, num dia em que a doutrina realçava a importância da luz que nos guia pelo mundo...
A noite chegou, a luz acendeu-se, mas a motivação não brilhava o suficiente, apesar das equipas se apresentarem na máxima força, muito embora a ausência do Maxi tornasse o Benfica mais desiquilibrado, comparando os habituais titulares… E foi por aquele lado que o Porto, através do Varela, procurou furar, pois que no lado oposto o Coentrão ia chegando para as encomendas, apesar da força do Hulk.
Os alas não conseguiam destaque, nem apareciam a defender, o Aimar não esplanava o jogo, muito por culpa da pressão imposta pelo adversário. E foi com esta toada que o Porto se adiantou no marcador, num passe transviado do Javi, com o Guarin a entrar na área e a rematar contra o Roberto, que no enfiamento do poste não teve reflexo para evitar a entrada da bola…
O Benfica não conseguia libertar-se do colete de forças… só aos poucos se foi abeirando da área, subindo no terreno e numa jogada de insistência, o Jara foi derrubado, e o Saviola, tão arredado dos golos, aproveitou para repor a igualdade… Foi um tónico para o Benfica, ganhar algum ascendente e durante alguns minutos praticar bom futebol… mas os forasteiros foram novamente equilibrando e num lance fortuito, mais uma tremideira no meio campo, muito por culpa do pressing, o Falcão apareceu isolado e o Roberto, hesitante, atira-se tarde e provoca penalidade… o Hulk, potente, mesmo que o Roberto adivinhasse o lado, repôs de novo a vantagem…
O Benfica foi tentanto reequilibrar, chegar novamente ao empate, mas os espaços era diminutos, o Saviola ainda teve uma excelente oportunidade, mas atirou para as mãos do Helton…
No segundo tempo, sairam Jara e Aimar e entraram Cardozo e Peixoto, o Gaitan foi para o meio e o Cesar assumiu o lado direito do ataque. A partida ficou mais aberta, o Benfica forçava o golo da igualdade e o Porto poderia ter obtido uma vantagem demolidora, o Falcão atirou ao lado e mais tarde, o Roberto fez uma grande defesa a remate do Rodriguez, mas o Benfica viu-se atraiçoado pelo seu elo mais fraco, o Airton deu o estouro e teve que entrar o Jardel, e o Sidnei descaiu para o lado direito; apesar disso, fizémos mais que suficiente para estragar a festa do rival, no nosso estádio, a mais flagrante foi um chuto ao poste, que ainda foi desviado nas costas do Rolando, o ex-libris da defesa portista…
O Porto no computo geral, não tem melhor plantel, ou, pelo menos, um onze titular mais forte, ou não pratica um futebol tão vistoso como o Benfica, mas os seus dirigentes, a sua equipa técnica, tal como as palavras de Vilas boas, no final, deram a entender, constroiem grandes enredos para se auto-motivarem, engendram fantasmas: dizem que a impressa, em parceria com o Benfica, estão sempre a dizer: que o Benfica é a melhor equipa - mas afinal, ficou comprovado que são eles os melhores, pobres sofredores!
Mas do que não se livram é de proferir palavras de ódio e inveja, manifestarem complexos de perseguição, como razão primordial para cultivar uma mentalidade forte e colectiva…
Em boa verdade, com isenção, os jogadores do Porto não produzem um futebol tão técnico e deslumbrante, mas são empenhados, objectivos, tem um grupo muito uniforme e compacto, coesos no meio campo, com o Guarin, o Moutinho e o Fernando, bravos guerreiros, dois laterais fortes e um patrão Rolando, que está cada vez melhor jogador e mais preponderante, um Helton experiente e seguro e um trio de ataque desconcertante, que vive muito dos obreiros do meio campo para manobrarem com perigo na frente…
É triste que no inicio do jogo houvesse aquele aparato, de arremesso de objectos, que fizesse interromper o jogo por alguns instantes, mas o massacre, nos ultimos confrontos do Dragão não favoreceram outro desenlace… o impedimento de bandeiras foi uma medida anti-futebol, mas tal não foi mais que o saldar duma dívida. Em relação ao apagão no final do encontro, os festejos exuberantes dos jogadores também não têm que ser exacerbados, que o façam lá no seu espaço próprio com toda a cagança e bairrismo… mas a Luz deveria ter permanecido acesa, mesmo que a tristeza nos magoasse com o ofuscamento dos festejos…
O Porto, nos ultimos dez anos, ganhou sete campeonatos, consegue sempre rejuvenescer o seu plantel, tirar o maior rendimento dos jogadores, mesmo vendendo os melhores em cada época, e isso é mérito que tem que se saber louvar e perceber… capacidade de incitamento ganhador, mas também à custa dum discurso redutor em relação ao mais directo rival, da capital, uma inferioridade que fazem valorizar no seio da equipa, para criar união no grupo...
Claro que também será por culpa doutros factores, talvez a cumplicidade dos adeptos seja mais positiva e próxima dos jogadores, querendo estes retribuir o carinho e a envolvência, qual bandeira de uma cidade ou região, que o seu timoneiro, P. da Costa, soube incutir ao longo destes anos, e continua a saber propagandear…
Mas o Benfica, não se pode deixar abater, afinal o campeonato era uma questão de orgulho, mas não era uma questão de vida ou morte (é igual festejarem em Lisboa ou no Algarve), mesmo o motivo de os fazer perder (e no final já só queriamos o empate), não foi uma motivação superior, pois tal já não impediria a consagração do vencedor… digamos que a força de ganhar foi mais intensa que a vontade de não perder...
Agora, na 5ª-feira e no próximo embate com o Porto, na meia-final da Taça, é que temos tudo a ganhar ou a perder, temos que entrar com toda a garra, uma atitude e querer fortes, para derrubar o PSV e o Porto; a estes, fazer-lhes ver que, afinal, a melhor equipa, talvez não sejam eles, que a humildade também não é atributo do qual se possam orgulhar, com tanta soberba, que a supremacia não é coisa que mereça tanta ostentação...
Com tantos títulos, não era já a altura de se assumirem como um clube nacional, sem complexos e mesquinhos atributos, sempre a falar do encarnado com aversão e despudor… qual Dom quixote, para manter viva a sua ambiciosa fantasia de conquista…?!
Quinta-feira, temos que reaparecer de novo com o brilho das exibições, numa noite de gala, vestidos com roupa de operários (camaradas da luta!), mas com os atributos e a chancela dos melhores jogadores, praticando um futebol intenso e encantador, todos empenhados em manter vivo o espirito de conquista, a reafirmação do nosso clube na grande montra europeia... Viva o Benfica, e já agora, parabéns ao vencedor!
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