quarta-feira, 20 de abril de 2011
Não soubemos evitar o cataclismo!
Benfica 1:3 Porto (Taça Portugal 1/2 final - 2ª mão)
A semana envolta de bênções divinas trouxe consigo acentuadas alterações meteorológicas, o esmorecimento celestial convidava à nostalgia e à introspecção religiosa…
A noite de 2ª-feira abafou com dilúvio a cidade por entre clarões arrebatadores, atravessámos a capital para mitigar a perca parental dum familiar, com a chuva a acompanhar-nos no regresso, alongando o padecimento pela madrugada…
3ª-feira, descobriu o panorama voraz, para júbilo da Primavera, ávida do alimento do solo… os rapazotes entretinham os tempos livres e nós acérrimos trabalhadores aguardávamos pela bonança familiar, voltar à alegria da coabitação…
A chuva ainda se fez anunciar no nublado firmamento, pela noite, mas 4ª-feira consentiu que a luz trespassasse o encobrimento, a janela do trabalho devolvia imagens de acalmia, apesar do empolgamento suscitado pelo jogo da noite…
A celebração da Páscoa chegava às crianças do infantário, no trabalho ofertavam a doce simbologia, apesar do penoso trajecto ainda a percorrer pelo Cristo flagelado, era o dia em que Benfica iria enfrentar a soberba e ironia, para chegar ao estadio nacional…
Era preciso perseverança e sofrimento para parar o ímpeto portista, na sua cotação máxima, as lesões do Salvio, e do Gaitan não vinham em boa altura, mas nós, tirando os atrasos primordiais que causaram a perca do campeonato, tinhamos argumentos para, pelo menos, segurar a eliminatória, proporcionar um bom desenlace…
A chegada ao lar foi abrupta, pois a excitação era demasiada, num apice vi-me em frente do televisor, uma turbulência de sentimentos aguardavam as imagens da Luz, esperando que o olhar me devolvesse a paz...
A ausência dos extremos, que davam mais largura ao jogo e tratavam melhor a bola, permitiu a entrada do Jara e do Peixoto, a colocação do Martins no centro foi uma opção válida, mesmo que o Aimar oferecesse mais posse de bola... mas o Jara sentiu muito o aperto e a responsabilidade, não esteve tão solto e dinâmico, o Martins esteve o suficiente irreverente e interveniente, o Peixoto dava o máximo..., mas a atitude do Benfica, defensiva, se inicialmente resultou e se mostrou razoável, com o Porto na expectativa... o que é certo é que, com o tempo, não impondo um ritmo mais agressivo na frente, a equipa se foi desgastando e minando a confiança... dominada que era pelo crer e ânimo adversário...
O Maxi e o Coentrão quase não passavam o meio campo, a equipa ia chegando para as encomendas, a frescura permitiu controlar o jogo, até bem perto do intervalo, quando o Porto poderia ter chegado ao golo numa escorregadela do Jardel, no meio campo… e só uma grande intervenção do Julio nos permitiu respirar de alívio para a segunda parte...
Faltava só o um quarto de jogo, o resultado mantinha-se a nosso favor, uma vantagem de dois golos que parecia ganhar forma para abordar a ultima parte.
Mas, o Porto tinha que dar o tudo por tudo, arriscar, o Benfica que tinha tido pernas para defender, apenas em lances de bola parada chegava à area contrária, era preciso mostrar muito mais, para segurar o jogo, entendimento, troca e posse de bola…
Mas o Benfica não é o tipo de equipa madura, que saiba trocar a bola, ou ataca desenfreadamente, parte para cima do adversário ou remete-se a um processo defensivo constrangedor, porque para defender também é preciso ter jogadores possantes e confiantes, como o Pepe no Real Madrid...
O Porto foi então apertando o cerco, manietando os jogadores do Benfica, dando o tudo por tudo e nós não conseguíamos ligar uma jogada, sair do sufoco, deixávamos jogar, havia sempre espaço no ataque largo do Porto, para chegar perto da área, e num remate potente do Moutinho, do meio da rua, eis que a bola haveria mesmo de entrar para meu desnorte, qual tiro no casco do porta aviões…
O almirante da embarcação, não podia pedir desconto, e não soube reagir ou fazer despertar a equipa, tirar-lhe o colete de forças, e encostados às cordas eis que chegaram o segundo, em fora de jogo, e o terceiro golo, num tabela fortuita, para o meu desespero completo, que me fez atirar a almofada ao chão…
Como é possível que os jogadores do Benfica tenham entregue o ouro desta maneira, como é possível que o experiente Jesus não tenha sabido precaver esta situação, incutir outro espirito guerreiro e empreendedor, ter amarrado tanto os jogadores ao aspecto defensivo…
Como é que o Cardozo cabe num sistema destes, tão lento, ao menos se quer defender que o faça de forma mais compacta e com outras soluções na frente…
Uma equipa só joga o que outra deixar, e o Benfica deixou o jogo correr, foi semeando vento e colheu uma tremeda tempestade… quando entrou o Aimar, ainda pudemos assistir a uma amostra de futebol, porque o Martins apesar de combativo não tem capacidade de reter e circular a bola, e só com passes rasgados não funciona com o Cardoso na frente...
Mas, nem vale a pena falar do jogadores e do seu desempenho, o meio campo falhou redondamente, pois sem bola, estavámos a entregar as armas ao adversário…
E foi assim, às claras, mergulhados num desgosto enorme, numa depressão acentuada, que se abateu um cataclismo sobre nós, o qual não soubemos contornar, perdendo, de forma inglória, o acesso ao Jamor…
Também se podia falar da tamanha ambição dos jogadores do Porto, do tamanho poder físico, do Hulk que parece sobrehumano, da raiva que cada jogador evidencia, do ódio carregado nos dirigentes, da revolta do técnico, da furia do Sapunaru, que parecia drogado... e tudo isto com mais fervor contra o Benfica...
Mas tudo isto só se consegue travar, com muita humildade e muito sacrificio, uma entrega titânica, utilizando os mesmos propósitos e motivações, com muita luta e muito trabalho, porque senão, eles vão sempre levar a melhor…
E foi assim que o serão sucumbiu à tristeza, o fulgor azul manchou, mais uma vez, a dignidade encarnada, ainda espreitei o Real a ganhar ao Barça, já em prolongamento, para mitigar um pouco a dor, e fui descendo à terra, tentando não cair no abismo, tentando convencer-me, dizendo-o ao filho, que o importante é o jogo da vida, a saúde e o calor familiar..., enquanto o outro já sobrevoava o sonho de criança, mais conformado, cedi ao refugio do leito, longe da cruel realidade…
Que este jogo sirva de exemplo ao Jorge Jesus, a todos os jogadores, ao Benfica em geral, aos espectadores, que encontrem motivação e forças para continuar a lutar, nas frentes em que ainda estão envolvidos: já no próximo Sábado, unir esforços e dar as mãos para ganhar a Taça da Liga, lutar por esse objectivo até à exaustão, como cura para tanta mágoa… e na próxima semana, no mesmo campo, jogar com toda a pujança contra o motivado Braga, visando mais uma final…
O "E Pluribus Unum" ainda não está suficientemente visível ou entranhado, mas é preciso continuar a acreditar! Depois de flagelados todos aspiramos, cremos e ambicionamos a exultação...
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Um comentário:
Bull-shit! Vai ao blogue Coluna d´Águias Gloriosas e lê o que lá está para perceberes melhor o que se passa.
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