Benfica 2:0 Santa Clara
Na febre de Sábado à noite, apagado o espetáculo da Luz, a chuva veio baixar a fervura dos folgazões... pedaços de céu zangados com o inverno incumpridor, agrado de fazendeiros, de vazios celeiros, estorvo dos egocêntricos urbanos que se iludem com propagandas comerciais...
Mas o Domingo foi aos poucos apaziguando a atmosfera, recolhendo as cinzas do abatimento celestial, preparando com dignidade o amanhecer duma nova semana...
2ª-feira ainda se ergueu cabisbaixa, preguiçosa o bastante, mas a aurora já anunciava a bonança... e outro alvorecer volveu o mundo, trazendo consigo a claridade tropical, o ouro das arabias, confiado à majestosa presença do Rei Cristo, de manto luzídio estendido sob Almada, alegria do povo que a povoa ou se afasta da sua proteção...
4ª-feira, nova volta pelo interior do quotidiano, crianças que correm e crescem em saber, pais que se arrastam e repetem o mister... a luz voltou empolgante, amornando a tarde, em dia de jogo, a noite trazia a Luz, de novo para a ribalta do mundo, subia ao palco mais um espetáculo de futebol...
Ao cair da noite, o ouro mergulhou no horizonte, eu fui recolher os meus tesouros para os guardar nas minas, mas antes ainda fomos ver o basquetebolista lançar bolas ao cesto... e o apito estava quase a soar, a janta ainda para comer, resolvi então atrasar o andamento, deixar correr o tempo, sem ansias nem nervosismo, apenas fazendo o que tinha que ser feito...
É que num momento de concertações, desliguei a SportTv, o jogo também não suscitava grande interesse e, para além de saber que a vitória trazia o golo 300, da era Jesus, tinha a viagem habitual pelo serão, para levar o corpo ao extasio e liberdade à opressão com a habitual partida de futebol...
Em Madrid, centro Iberico, o duelo era universal, em Lisboa era atlântico, clubes do mesmo emblema...
Quase à beira do intervalo não resisti a saber novas pelo radio, o resultado estava em branco, ouvi falar em Miguel Vitor, Capdevilla, Nelson e Gaitan, em cerca de 17 mil adeptos exigentes, pouco antes de saber que iam todos para o descanso...
Pouco depois, sai eu a afadigado para chegar com tempo ao treino, para passar ainda pela frente da televisão, num café à beira do caminho… foi já longe, de casa e do jogo, que consegui finalmente ver as imagens do Benfica, o Santa Clara ainda resistia, passada uma hora, em mês de goleadas, o sumo da orangina fazia frente à sagres imperial…
Mas as jogadas começaram a aparecer, o Witsel aparecia no centro do terreno a comandar o jogo, a defesa precisava dum timoneiro daquele calibre, o Nolito descaía pela esquerda, o Rodrigo vinha atrás para colar a bola aos pés, o Bruno tentava furar pela direita, e fui num zigue-zaguear do Nolito, área adentro, que deu de bandeja para o golo histório do Nelson…
O segundo não demorou muito tempo, numa jogada rápida, mais uma assistência do Nolito, para retribuir as muitas que o Witsel lhe tem feito, isolou-o e na passada à entrada da área, com o pé direito, anichou a bola pela segunda vez na baliza contrária, ainda faltava um quarto de hora para o final...
As jogadas começaram a sair com mais fluidez, adivinhava-se mais um golo, na versão XL, mas o tempo já escasseava, a águia tinha começado a esvoaçar tarde demais, e o resultado ficou-se pela versão L, afinal nem sempre é possível marcar golos nas duas balizas, e eu saí apressado do café, mesmo em cima do minuto 90, pouco antes do meu minuto 0, no anonimato do pavilhão...
Domingo à noite há mais uma exibição no mesmo local, espera-se outra moldura humana, outra atitude competitiva, é preciso começar a 2ª volta com toda a determinação, vencer pela primeira vez o Gil, demonstrar força para intimidar a concorrência e convencer a multidão...
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