terça-feira, 6 de março de 2012

Icebergue derretido na cratera da Luz!

Benfica 2:0 Zenit

Para trás ficou já a noite da enxurrada na ribeira, mágoas afagadas no travesseiro, sono envolto de amor... 
A vida foi levantando amarras, idealizando outras viagens e outros portos, de moral ao leme, pelo muito que ainda há para conquistar...

Agora, a -3 na Liga, de mão dada com o Braga, temos que retomar as vitórias, com humildade e empenho, ir ao encontro de novos ventos e marés, navegar com redobrada genica e atenção...

O fim-de-semana era propírcio à terapêutica, as nuvens habitavam o céu sob uma forte luz de presença, o "canina" foi ao futebol no planalto, mirante de beleza e paz pelo interior da peninsula... profundezas campestres, rodeadas de pinho, onde fomos saborear o almoço de churrasco num grandioso convívio familiar...

A noite de Sábado foi caindo devagarinho, encurtando o horizonte, esfreando a animação, só os gaiatos prolongaram a diversão, na terra das festas de anos, num pequeno pedaço reservado pela prima...

O Domingo mostrou a bandeira de xadrez ao excesso, abriu as boxes à regeneração, antes da corrida doutra semana... O sol foi forçando a rendição nebulosa da tarde, quando demos outra volta à periferia, para uma reunião...
E a luz desceu mais uma vez por entre os telhados, escurecendo as casas e as vidas, confiados num novo nascer, resguardados da ditadura da monotonia...

A paz nem sempre impera, aos atribulados confrontos ou falsas ambições, porém, 2ª-feira, mesmo carregada de dinamite, foi recebida com toda a tranquilidade, pois, por trás da manhã guerreira seguia-se uma tarde de tréguas, com folga e boa companhia... com o sol a levantar a fervura do amor efémero...

3ª-feira reluzente, uma claridade empaneada por esguios farrapos brancos, boa disposição provocada pela mixórdia de risos matinais dentro da viatura...

O meio-dia misturava o calor com a frescura tenra e o chilreio tímido da primavera, no alto da cidade, viam-se cachecóis azuis de gente do báltico, que já estavam a ganhar em visitar o Cristo que lhes mostrava Lisboa, escancarada sob uma pitada de sol...
Eu esperava que à noite, lá no centro da capital, no bairro mítico de Lisboa, os mais de 50.000 fossem calor humano na cratera da Luz, para derreter o icebergue russo...

No café, o jornal destaca o Luisão, a pedir apoio e carinho, achas para a fogueira infernal, alento para mais uma noite de glória, para beber do ânimo e da sorte que nos tem faltado...

E foi esse sonho, naquele cenário encarnado, depois das lides domésticas, na larga televisão, que a noite começou a construir, um jogo de futebol em crescendo, uma sinfonia sem igual, que culminou com o rombo fatal no enorme cubo de gelo, mesmo a findar a primeira parte…

Quem mais, foi o Maxi, o que mais merecia, o Witsel que também tinha tentado, com muito esforço, pôs-lhe a bola mesmo à mercê, toda uma jogada envolvente, com o passe do Bruno dentro da área, pontapé certeiro que me fez saltar de alegria…

O Benfica foi soberbo, O Maxi incansável, aparecia em todas as zonas do terreno, o Witsel preenchia o campo, segurava a bola, fazia jogar, o Rodrigo esteve sempre dinâmico e objetivo sem esquecer de defender, O Bruno ia tentando fintar e levar a bola para diante nem sempre com a melhor velocidade e destreza, o Gaitan apareceu muito esforçado, lutando contra a crise de confiança, aqui e ali imprimindo ligeireza mas sentia-se que ainda não estava no seu auge. O Emerson ia tentando cumprir, não comprometendo, como é seu apanágio habitual…

Depois duma primeira parte excelente, com a vantagem no marcador e na eliminatória, o Zenit teve apenas uma oportunidade, meio oferecida pelo Artur, apesar de ser uma equipa coesa e aguerrida, com muita energia na frente, tínhamos o jogo completamente dominado e com boas perspetivas de seguir em frente…

Claro que a segunda parte trouxe um Zenit mais empreendedor, tinha que fazer alguma coisa, o mesmo é dizer, marcar um golo, e o Benfica começou mais cauteloso e defensivo, à espreita doutras oportunidades… E foram várias as jogadas que poderiam ter sentenciado a partida, com a obtenção do segundo golo, uma vez que o ataque tinha mais espaço para o poder construir…

O tempo ia avançando, sai o Rodrigo para ceder o lugar ao Nolito, e o Gaitan vem para o meio do terreno, onde ainda constroi algumas jogadas de perigo, o Nolito na esquerda tem um maior entendimento com o Emerson, é mais frontal e dinâmico nas imediações da área e não pede licença para lá entrar, muito dificilmente perde a bola… Mais tarde, com o desenrolar do tempo, o Jesus pôe o Matic no lugar do Gaitan, sobe o Witsel mais para a frente e fica o Javi com um novo companheiro de armas, para a disputa da bola

O Benfica ainda tem mais oportunidades de sair para o ataque com vantagem numérica, estou a lembrar-me do Cardozo que aparece sozinho na cara do guarda-redes e que atira rente ao poste, o que tinha tornado tudo muito mais definitivo, por volta dos 70 minutos, mas a hora também era de defender…

Apesar do balanceamento forasteiro na frente, à medida que o tempo ia escoando o público foi abafando o ímpeto adversário, os jogadores sentiam que os adeptos estavam do seu lado, eles próprios não queriam deixar fugir aquela oportunidade, o Maxi ainda teve um resto de forças para correr, o Luisão apareceu como um grande ex-libris, o Matic foi de grande nervo, e teve os pulmões que muitos já não conseguiam ter, e na parte final, com a entrada do Nelson, a render o Cardozo, foi quando tudo acabou por acontecer…

Naquele balanço, barulho ensurdecedor, até o Emerson pediu ovação, o Nelson ameaçou uma vez, e há segunda, já mesmo em cima do apito final, num passe do Bruno, dentro da área rematou para o 2º golo, provocando uma descarga eletrizante de adrenalina e delíriro emocional…

Foi um jogo soberbo, uma grande exibição com querer e bom futebol, não se sentiu a ausência do Aimar nem do Garay, o Jardel esteve muito bem, e o numero 10 esteve sempre muito bem representado… Era a vitória que precisávamos para afuguentar fantasmas, para devolver a alegria aos jogadores e voltar a acreditar, com todo o afinco e humildade, que é possível voltar às vitórias…

Em Passos, no Domingo, é preciso manter a força física e a disponilidade mental fortes para levar de vencida mais um jogo, continuar na luta, já se sabe que vai ser renhido mas temos que vencer sem nos preocuparmos com quem está à frente, ao lado ou atrás, apenas seguindo o caminho do nosso destino…

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