Benfica 3:1 Beira-Mar
Depois da viagem aos paços nortenhos, descemos satisfeitos ao cosmos atlântido, para dentro do quotidiano doutra semana, ainda inverno de tempo mas não de metereologia...
2ª-feira, foi subindo os (de)graus da louca ascensão da Primavera, cenário de alvores amenos, chilreios de encantos de outrora...
Na rádio premiavam a produtividade da Auto-Europa, em época negativa, eis um fator de orgulho, pela entrega ao trabalho, contraponto do descartável noticiário do CM ou TVI...
Outro dia, o mesmo circuito e paragens, o mesmo azul, no café o jornal desportivo falava do menino de oiro, do delegado faccioso, das queixas do arbitro auxiliar (o coitadinho não gostou que o Jesus dissesse que ele tinha visto (e afinal todos vimos), mas não fora isso e nem sequer dávamos pela sua existência, à noite, em Milão.
Afinal, não são todos agentes do mesmo universo desportivo, porque é que não lhes podem apontar erros, dão a cara ou aparecem a falar (acaso é o secretismo a alma do negócio)...
4ª-feira prometia calor mas ao chegar à rua, não se via o pedaço de céu no alto dos prédios, o ar temperado atenuava os rumores dum inverno preso no ventre...
Mas o azul foi tingindo o cinzento, o calor soldando a terra ao horizonte, e à hora de almoço, da colina do santuario, por entre as oliveiras, ja se avistava Lisboa majestosa, duma patria aventureira e opulenta, dos Jeronimos a Santa Clara, passando pela Ajuda e Necessidades...
E a noite foi descendo sobre a ibéria, de gente que regressava ao bairro, na beira ocidental, de jogadores que no centro peninsular, puseram Madrid no rumo das possibilidades do Benfica...
A noite ainda viajou aos socalcos de Sintra, onde companheiros de futebol foram consolidar convicções desportivas...
5ª-feira esbranquiçada, com rosto manhoso de inverno, longas barbas que se estendiam quase até aos telhados mas que ficaram nas mãos do sol, o velho barbudo inverno já não tinha forças para assustar...
No entanto, num último enfurecer, a tarde congeminou uma emboscada, devolvendo o dia ao tempo, chuva e trovoada trouxeram a despedida e a saudade do Inverno...
Já em casa a chuva ouviu-se intensa, enquanto o Sporting hestoico silenciava Inglaterra, eliminando “o candidato”, perfilando-se por inerência como um dos eleitos ao trono...
Era 6ª-feira, dia de brincadeira, o Benfica preenchia o serão... mas tudo começou com a luz de soslaio na fresquidão matinal, o canto das aves dando graças à natureza, o jornal do café que falava doutro Rei Leão, vindo da corte dos bobos...
Pois o futuro confunde-se com o efémero, só valemos aquilo que mostrarmos, não o que somos, quanto muito o que aparentamos, ainda nos pode salvar dessa dicotomia...
O meio-dia peneirava o calor, tempo desperto para a transição das estações... Londres era a rota de Abril, Benfica contra o Chelsea, mas antes havia outros jogos em disputa à beira-mar…
A noite trouxe o relaxe e o clarão da felicidade, a hora da Luz era tardia, tínha lugar cativo no sofá, antes as tarefas dum bom chefe de família…
O Witsel jogava a lateral, o Aimar regressava ao meio campo, o Bruno à direita e o Gaitan à esquerda, fixos na primeira parte, e o Nelson merecia a titularidade ao lado do Cardozo… O Beira-Mar começou muito arrumado atrás e demasiado preocupado em defender, o Benfica estava super motivado, mas imprimia um ritmo muito lento…
O Aimar tentava entrar no miolo, tabelar e desiquilibrar, ao mesmo tempo que readquiria a sua capacidade talentosa e interventiva, mas a velocidade da bola e esbarrava no espaço e nos lentos movimentos e rapidez de decisão…
O Beira-Mar acabou por facilitar, sem atacar com muitas unidades, os centrais foram chegando para as encomendas, mesmo com o Witsel pouco rotinado à direita da defesa, foi por esse corredor a jogada do primeiro golo, o Aimar abriu a área ao Witsel que, da linha de fundo, centrou para a entrada da baliza onde apareceu o Cardozo a encostar…
O Nelson já tinha tido um fantástico pontapé à entrada da área e outras arrancadas se sucederam pela direita mas sem grande esclarecimento no remate final, e numa lance quase a chegar ao intervalo, numa assistência do Cardozo, apareceu o Gaitan na cara do golo e este não se fez rogado, atirando de pé esquerdo para o fundo das redes…
Disse para o meu discípulo de sofá, pupilo espetador, que mudava aos dois e acabava aos quatro e o jogo tinha tudo para assim terminar, poucas faltas, os golos a aparecerem em boas alturas, como o que veio a acontecer logo no reatamento, com o Cardozo, que tanto ansiava por uma assistência, a ver-se na obrigação de marcar o outro meio golo que faltava ao passe de calcanhar do Nelson Oliveira…
O Beira-Mar que já estava quase naufrago, quis arriscar mais um pouco, já não tinha nada a perder, começou a trocar mais a bola no meio campo com a complacência do Benfica, que quis deixar o tempo correr, sem grande definição…
Entrou o Nolito e o André para render o castigado Bruno, passou o Witsel para o lugar do Aimar e o André passou para a direita… Mais tarde entrou o Rodrigo para o lugar do Nelson Oliveira, ainda faltavam 20 minutos, mas as jogadas, estranhamente não construiam grandes ocasiões…
O Gaitan veio para a direita, mas apesar do seu tecnicismo ainda lhe falta algum fulgor anímico, mesmo que os golos lhe começassem a dar algum alento; o Rodrigo quer fazer depressa e bem, nem sempre com perfeição, mas é inegável o seu labor, o Luisão está sempre omnipresente, o Javi vai varrendo a defesa mesmo que em algum tempo lhe note alguma indicisão, e o Nolito também não entrou com tanta exuberância, mas em Olhão irá certamente ter o seu estrelato por impedimento do Bruno…
Até final do jogo o futebol do Benfica foi arrastando-se, os adeptos depressa passaram da euforia para a inquietação, e até eu parecia que estava a adivinhar com tanto espaço na direita e com tantas ganas do Balboa mostrar serviço que, em alguma bola ou lance fortuíto o golo acabaria por surgir, e o comentador a falar disso mesmo, que até o Jesus se enfureceu nos comentários finais…
Terça-feira vem outra vez o Porto, um jogo escaldante, que dá acesso a uma final, os índices anímicos e de concentração, a entrega e a velocidade terão que ser mais elevados, pois é sabido que pela frente teremos um adversário que faz sempre deste combate um duelo mortal…
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